terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Cruijff e a catalunha
Hoje, Cruijff comandará a seleção da catalunha em um amistoso contra a Argentina.
Ele voltou a atuar como técnico após treze anos. Em 1996, Cruijff deixou o comando do Barcelona e havia se aposentado.
Três dias. No sábado passado, o Barcelona enfrentou o Estudiantes e se tornou campeão do Mundial da FIFA pela primeira vez, feito que Cruijff não conseguiu atingir como técnico.
Percebam que o fato de o Barcelona ter demorado tanto tempo para conquistar o título mundial tem relação muito maior com a ditadura franquista do que com as derrotas para o São Paulo e Inter. Ou seja, o Barcelona deveria ter chegado em mais mundiais se não fosse o Estado ditatorial de Franco.
O Barcelona é uma aula de história espanhola. Di Stéfano, o craque argentino, maior que Maradona, ganhou 5 Copas dos Campeões pelo Real de 56-60, e um Torneio Intercontinental em 1960.
Di Stéfano era jogador contratado pelo Barcelona em 1956, chegou a jogar três amistosos, quando a ditadura de Franco resolveu utilizar o Real Madrid como vitrine de seu Estado e determinou que o jogador participaria de uma temporada em cada time. O Barça se recusou e o Di Stéfano ganhou tudo pelo Real.
Desde a criação até 1956, o Barcelona sempre foi um time vitorioso. Após o início da influência franquista no futebol, e no Real Madrid, o Barcelona amargou anos sem títulos expressivos, mesmo quando Cruijff e Neeskens jogaram pelo time catalão no auge da laranja mecânica.
Os títulos voltaram, de forma expressiva, justamente, quando Cruijff assumiu o comando do time em 1988.
Torcer ou jogar pelo Real é um ato, até hoje, inconveniente.
Adalberto
domingo, 20 de dezembro de 2009
A base do Barça, deu na Folha
A Folha fez acompanhamento primoroso do título do Barça.
Os artigos são de Juca, sobre Pedro e Messi, meninos de 22 anos, e Tostão, sobre Xavi e o futebol arte que não poderia se perder pela mãos de técnicos burocratas.
As reportagens são assinadas por Rodrigo Bueno e pela reportagem local. Em ambos os textos, destaques para a formação de um dos maiores times do Barcelona, e olha que o Barcelona já montou esquadras memoráveis.
Eu não sabia, mas oito dos onze titulares do Barça na final são jogadores que cresceram, literalmente, nas categorias de base do Barcelona. Respiram o Barça há muito tempo. São meninos como Pedro e Messi que se identificam, ainda, com a camisa do time catalão.
A lista de jogadores criados na base é ainda maior e inclui Iniesta, que não foi titular da final, pois estava contundido. Jefrén, que entrou no segundo tempo do jogo, também surgiu na base. Dos titulares, apenas Henry Ibrahimovic e Daniel Alves não vieram da base do time catalão.
Números que impressionam em um time que ousa jogar o futebol arte. Apesar de mera coincidência, o time que usualmente tem entre 60% e 70% da posse de bola, não importando o adversário, ontem possuía em campo 72% do time titular como pratas da casa.
Messi e Pedro, meninos de 22 anos, marcaram os gols do título. Pratas da casa. Messi será eleito o melhor do mundo, enquanto Pedro teve a honra de marcar gols em todos os seis torneios conquistados pelo Barça esse ano: Mundial, Copa dos Campeões, Espanhol, Copa do Rei, Supercopa da Europa e Supercopa da Espanha.
Outro jogador formado nas categorias de base é o técnico Guardiola, catalão, que chegou ao Barça com apenas 13 anos de idade.
Guardiola, por sua vez, já enfatizou a influência de Cruijff no incentivo e fortalecimento das categorias de base com a implementação da filosofia do futebol holandês:
"os jogadores têm de pensar rápido e jogar com inteligência, sempre sabendo qual será o próximo passe (...). É assim que aprendemos a jogar e que o público espera que joguemos: de forma atraente, mas sem perder a eficiência (...). Cruijff (...) nos ensinou a jogar movimentando a bola rapidamente. Ele só usava jogadores de grande técnica. Quando procuramos por jogadores, ainda queremos essas qualidades".
Futebol holândes que comandou o Barça em 16 dos últimos 21 anos (Joah Cruijff, 1988 - 96, Louis Van Gaal, 1997 - 00 e Frank Rijakaard, 2003 - 08).
Ou seja, em 76% do tempo, nos últimos 21 anos, o Barcelona foi comandado por um técnico holandês, sendo que as categorias de base do time sofreram forte influência de Cruijff.
Isso sem falar nos jogadores holandeses que passaram pelo Barça: Kluivert, Marc Overmars, Frank de Boer, Ronald de Boer, Phillip Cocu, Koeman, Neeskeens e Cruijff.
Logo, direto da base e com forte influência do futebol catalão e holandês, o Barça conquistou o mundo.
Ps. Verón perdeu o título que seu pai conquistou em 1968. Histórias que só o futebol contam.
Adalberto
sábado, 19 de dezembro de 2009
Finalmente, o Mundo é do Barça
O Barcelona já havia tentado em duas outras oportunidades. Foi atropelado pelo São Paulo em 1992. Com dois gols de Rai, um de falta e outro de barriga meio de peito.
Em 2006, o Ronaldinho Gaúcho tentou dar o título para o time catalão, mas o Inter jogou bravamente, assim como o Estudiantes hoje, e levou o caneco por um gol de Adriando Gabiru.
Nesse ano, o Estudiantes, que já foi campeão em 1968, assustou. Fizeram o primeiro gol. Boa parte do jogo o time catalão encontrou-se atônito frente ao número de gols perdidos por seus atacantes.
Henry, Ibrahimovic, Xavi e Pedro, autor do primeiro gol, comeram a bola. Messi pouco fez até a metade do segundo tempo da prorrogação, talvez por causa da contusão.
Mesmo assim, Messi fez o gol do primeiro título do Barcelona. Um gol de craque no segundo tempo da prorrogação. Um gol de peito, assim como o do Rai. Não dá para dizer que foi pouco. Por causa desse gol, e do que fez contra o Atlante, levou a bola de ouro do torneio.
Um absurdo esse ser o primeiro título do Barça!
Um time que ainda ousa jogar com a bola no chão. Um time que ainda ousa jogar com três atacantes, em um futebol total de muita marcação pressão. Um time que faz poucas faltas e gira muito o jogo.
Ou seja, não de hoje, o Barcelona tem o futebol mais vistoso do mundo. Além disso, com a sua camisa grandes jogadores se consagraram como melhores do mundo.
Rivaldo, Ronaldo, Romário, Ronadinho Gaúcho, o Stoichkov poderia ter sido eleito o melhor em 1994, por ter sido artilheiro da Copa, se não fosse um cara chamado Romário, e esse ano o Messi deve ganhar o título de melhor jogador do ano.
Além disse muitos outros passaram por lá como Johann Cruijff, Guardiola, Haji, Laudrup, Koeman e outros.
Uma cidade que fervilha e já formou times espetaculares como o Barcelona comandado pelo Johann Cruijff, que além de jogador, foi técnico entre 1988 e 1996.
Esse holandês tem extrema identidade com o time catalão. Esse holandês que assumiu que eles perderam para os melhores em 1992. Esse holandês que falou que o Romário era o melhor atacante dos últimos anos em 1994.
O Barcelona joga o futebol holandês de Cruijff, que foi técnico por tanto tempo do time. Um futebol total. De muita posse de bola e troca de passes. Até parece o São Paulo do Telê. Cruijff que se recusou a defender o Real Madrid, pois nunca poderia jogar pelo time do ditador Franco.
Um time que não tem patrocinadores. Aliás, a Unicef que pediu para expor seu logo na camisa. Um time que vive dos e para seus torcedores. Um time que representa toda a identidade catalã, enquanto o Real Madrid representa a ditadura de Franco.
Um time cujo atual técnico, estreante e ex-jogador do Barcelona, ganhou tudo que podia: Mundial, Copa dos Campeões, Espanhol, Copa do Rei, Supercopa Europa e Supercopa da Espanha.
Guardiola mostra que um técnico é importantíssimo para buscar a identidade de um time. Ele nada fez. Apenas fez o Barça jogar como o Barça, e isso já é muito.
Lembremos que nem Cruijff, com seu Dream Team, conseguiu ganhar o Mundial da FIFA, esbarrou no São Paulo.
Força Barça!
Adalberto
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Nobre Eliseo
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Berlusconi
Berlusconi agredido. Eu estou pouco me fudendo com o Berlusconi e não gosto de agressão. Além disso, para mim pouco importa se o cara que o agrediu tinha problemas mentais.
A única coisa importante nessa história é que ele deve ter merecido, suponho. Assim como alguns no Brasil mereciam.
E pensar que o Covas levou uma ovada....enquanto Sarneys andam por ai....
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Berlusconi é agredido e sofre fratura e corte no rosto
Silvio Berlusconi foi agredido por um homem com problemas mentais neste domingo (13), durante um comício em Milão, e acabou internado em um hospital com cortes na boca, dentes quebrados e fratura no nariz. O chefe de governo italiano, de 73 anos, sofreu "contusões importantes no rosto, com cortes interno e externo no lábio superior, quebrou dois dentes" e também apresenta uma pequena fratura no nariz, revelou a direção do hospital San Raffaele.
http://tvuol.uol.com.br/#view/id=berlusconi-e-agredido-e-sofre-fratura-e-corte-no-rosto-0402356ECCC933C6/user=83gdkphqromr/date=2009-12-14&&list/type=tags/tags=15353/edFilter=all/
sábado, 12 de dezembro de 2009
Ele é o cara?
Os Ministros que tomaram essa decisão foram em sua maioria escolhidos pelo Lula, ou seu preferirem, seu governo, para ocuparem a cadeira do STF.
Uma vez escolhidos, passam a cometer todo o tipo de atrocidade naqueles casos mais sensíveis aos interesses do Governo ou de determinados políticos ou empresários, como o Sr. Daniel Dantas.
Enfim, não preciso divagar muito para concluir que o STF está na lata do lixo.
Assim como o congresso. E o Lula, ou o seu governo, como preferirem, não está alheio a essa situação, pois participou ativamente na composição de uma base governista escrota, capitaneada pelo pai do ilustre que figura como ator principal no imbrólio acerca da censura ao jornal Estado.
Quem pensa que o Lula é o cara, cai na besteira de lhe creditar tudo que há de bom nesse país e deixa de imputar as falhas de governo por considerar que essas são práticas ou realidades imutáveis do Brasil.
Ou seja, com relação aos aspectos positivos de seu governo ele teve autonomia para mudar a história. Com relação aos aspectos negativos (ligados a questões políticas), bom, ai ele nunca tem culpa ou não sabe de nada....
Lamentável.
Adalberto
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Editorial da Folha
Censura rediviva
Ao manter veto contra "O Estado de S. Paulo", o Supremo desconsidera a liberdade de expressão e o direito à informação
CAUSA PROFUNDA perplexidade a decisão do Supremo Tribunal Federal, mantendo a censura que há 134 dias se abate sobre o jornal "O Estado de S. Paulo".Prendendo-se a pormenores processuais, o Supremo perdeu a oportunidade de reiterar o princípio básico da liberdade de expressão, recentemente reafirmado no acórdão que aboliu a Lei de Imprensa no país. Não haveria, no entender da maioria dos ministros, relação direta entre a extinção da Lei de Imprensa e as decisões censórias do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, contra as quais o jornal se insurgia.
Com isso, o Supremo falhou na sua atribuição básica -a de ser guardião do texto constitucional. Na Carta de 1988, está plenamente estabelecido o princípio da liberdade de expressão. Trata-se de uma prerrogativa que não contempla exceções nem meios termos. Ou existe censura no país -e foi isso o que se decidiu no STF-, ou não existe.
A plena liberdade de imprensa não equivale, cumpre ressaltar, à irresponsabilidade e à impunidade dos órgãos de comunicação. Preveem-se sanções legais a todo procedimento que implique invasão descabida da privacidade, calúnia, injúria ou difamação.
Há uma diferença essencial, por isso mesmo, entre censura prévia e punição aos delitos de imprensa. A censura pressupõe prejulgamento: determinada instância do Estado se considera autorizada a decidir aquilo que os cidadãos podem escrever, dizer, ler ou ouvir. Impõe-se a tutela sobre o conjunto da sociedade, e não mais a correção de ilegalidades eventualmente cometidas.
Foi este, lamentavelmente, o espírito que prevaleceu no STF. Pode-se considerar, sem dúvida, que um empresário às voltas com investigações da PF tenha interesse em se ver preservado das manchetes de jornal. Cabem-lhe, neste caso, os recursos previstos na legislação. Em nenhuma hipótese, contudo, uma situação desse tipo permite anular um preceito constitucional.
A Constituição foi, na prática, considerada letra morta pela maioria dos ministros do STF. Para o presidente do tribunal, ministro Gilmar Mendes, a Justiça tem o poder de impedir a publicação de reportagens que possam ferir os direitos de alguém à privacidade ou a honra pessoal. Mas o nome de providências desse gênero é, queira-se ou não, o de censura prévia.
Numa acrobacia conceitual próxima do "nonsense", o ministro Eros Grau discorreu sobre a diferença entre o "censor", que não estaria limitado por nenhuma lei, e o órgão judicial que a aplica: "Aí não há censura. Há aplicação da lei".
Está aberto, portanto, o caminho para qualquer censura, travestida em "aplicação da lei" -e um princípio básico da democracia se vê violentado pelos humores, pela subjetividade e pelo arbítrio de magistrados. Por mais respeitáveis que sejam suas decisões, não podem colocar-se acima da Constituição -e foi isso o que se viu, numa decisão desastrosa, na última quinta-feira.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Roosevelt - provocador
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Tiros na Roosevelt
SÃO PAULO - Por obra de uma inusitada e persistente ocupação de grupos teatrais, a praça Roosevelt, no centro da cidade, se converteu num lugar de rara vitalidade artística. Existem hoje ali, vizinhos da prostituição, rodeados pelo tráfico e misturados aos moradores de rua, mais de 30 grupos, apresentando-se, em variados horários, em sete salas de teatro, onde há bares contíguos, além de uma livraria.
É uma experiência coletiva que desafia o processo de degradação do centro. E está na contramão do teatrão empresarial, das salas protegidas dos shopping centers, das casas de espetáculos com nome de banco -da gestão mercadista da cultura que visa reduzi-la a uma espécie de academia de ginástica para a alma.
À margem de tempos tão caretas, a Roosevelt se tornou um espaço de convívio boêmio, um caldeirão cultural com inegável vocação democrática. O assalto do sábado, no qual o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado -e felizmente se recupera bem-, inflamou debates e polêmicas sobre a vida e o futuro da praça.
Estigmatizar o local seria o maior equívoco. Mas há também o risco oposto. Sim, é o caso de exigir do Estado melhores condições de segurança, mas não mais do que para o resto da cidade. Revitalizar o espaço sem excluir socialmente não é o difícil desafio que desde o início anima os que ali se instalaram?
Ninguém deve morrer baleado -na Roosevelt ou em outra parte-, mas a relevância do que se passa lá depende da sua conexão com a sujeira das ruas, da sua capacidade de dramatizar a cidade conflagrada.
Que se pense, por exemplo, na Sala São Paulo, a casa da Osesp, orgulho paulistano. Ela fica no coração da cracolândia. Na geografia mental da burguesia que a frequenta, o templo da música não se localiza no centro, mas numa imaginária estação final, à qual se chega de carro, de preferência blindado, e de onde se sai logo depois de saciar o espírito, sem arriscar contato com o entorno. Quem seria louco de passear na região da futura Nova Luz? Há exemplo mais cabal de apartheid social -ou de cidade conflagrada?
kassab e a chuva
Editorial da Folha
Kassab e a chuva
OUTRAS SEIS pessoas morreram ontem na região metropolitana de São Paulo, vítimas da tempestade que chegou durante a madrugada. Entre a meia-noite e 7h foi registrada a maior precipitação pluviométrica na capital, em um único dia, desde 2006. Em todo o Estado, já ocorreram pelo menos 22 mortes relacionadas às chuvas nas últimas duas semanas, a maioria por deslizamentos de terra.
Tão constantes quanto a chuva, nos últimos dias, têm sido as declarações do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de que a Prefeitura de São Paulo está preparada para as cheias, de que há monitoramento frequente das áreas de risco e limpeza eficiente de bueiros. Seu governo afirma que transtornos e mortes são o resultado do volume muito grande de chuva, incomum mesmo nesta época do ano.
Entretanto, como a Folha mostrou no sábado, a Prefeitura de São Paulo não dispõe de um plano para a prevenção de enchentes e a mitigação de seus efeitos, obrigatório por lei federal desde 2006. O mapeamento das áreas de risco, providência crucial para evitar mortes, foi interrompido em 2003 e retomado apenas no segundo semestre deste ano. Além disso, a prefeitura dá sinais de que o problema não lhe parece prioritário.
Um indício é o projeto de Orçamento para o ano que vem, aprovado em primeira votação ontem na Câmara. Com a previsão de receitas recordes -vindas, por exemplo, do aumento do IPTU-, o prefeito planeja dedicar R$ 25 milhões para obras e gerenciamento de áreas de risco. A cifra representa uma quinta parte dos gastos com publicidade planejados para o ano eleitoral de 2010 (R$ 126 milhões).
O documento é um novo exemplo da má qualidade de muitas despesas da prefeitura. O governo conseguiu bater recordes não só no aumento de verbas de propaganda -quadruplicadas desde 2006-, mas também na criação de secretarias para acomodar aliados. Foram nove, desde que o político do DEM assumiu o posto. A pasta mais recente, do Microempreendedor Individual, nasceu há duas semanas.
Além de elevar a já escorchante carga tributária dos paulistanos, Kassab usa parte dos recursos adicionais para alimentar a máquina político-burocrática da prefeitura. A principal estrela do DEM pratica tudo o que seu partido condena no governo federal.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Lição em vermelho e preto
Segundo pesquisa Datafolha publicada em janeiro de 2008, 17% dos brasileiros se proclama flamenguista (para efeito comparativo, 12% se diz corintiano e 8% são-paulino, para ficar nas três maiores). Isso quer dizer que 32,8 milhões torcem para o Flamengo. Por isso "a maior torcida do mundo" -- a maioria dos países não tem 30 milhões de habitantes.
Como escreveram no anel superior do Maracanã, "a maior torcida do mundo faz a diferença". E não só nas arquibancadas. Dentro de campo, um jogador que saiu cedo para a Europa, onde ganhou apelido de Imperador, chegou à seleção, mas não suportou ficar longe dos amigos da favela e das praias da zona sul, tem o coração rubro-negro -- desde criançinha. Outro, que fala português com sotaque sérvio, jogava no Marakana, em seu país, e sonhava em, um dia, brilhar no "maior do mundo". Não imaginava que poderia se tornar ídolo da "maior do mundo", da qual hoje ele também faz parte. E o que dizer do homem que participou de cinco, das seis conquistas rubro-negras? Uma delas como treinador, o que o torna o primeiro técnico negro campeão brasileiro na era dos campeonatos com chancela da confederação.
Não poderia ser outro time a dar um tapa na cara dos céticos do futebol. Quem foi que disse que campeonato por pontos corridos só ganha quem tem organização? Organização e planejamento significa resultados regulares. Ou alguém ousaria dizer que o planejamento do São Paulo, maior clube do Brasil, fracassou este ano? Só porque não ganhou nada?
Quando Muricy Ramalho foi demitido do São Paulo, depois de mais uma eliminação na Libertadores, outra vez para um time brasileiro (apesar de ter ganho os três últimos campeonatos nacionais), escrevi aqui que a diretoria do São Paulo havia cometido um erro, mas que entendia o motivo da demissão -- era um erro coerente. A mentalidade do brasileiro ainda é essa: supervalorização de técnico de futebol. Pagam milhões a eles, e os elevam a heróis. Mas são sempre os principais vilões, e os primeiros a terem a cabeça guilhotinada.
Alguns meses depois está provado que a organização e o planejamento do São Paulo continuam intactos. Será a sétima Libertadores seguida. Para se ter uma noção, o Corinthians vai disputar o principal torneio do futebol sul-americano pela oitava vez na história. O Ricardo Gomes, figura interessante, foi mero coadjuvante. Diz-se que mudou o jeito do time jogar, bola no chão, buscando o ataque. Balela, outra vez. A diferença é ínfima, e a principal delas é que, com Ricardo Gomes, o "campeão" se tornou menos, pra não dizer quase nada, letal. Pelo menos foi "rebaixado" ao nível dos mortais outra vez. E junto com ele, o futebol paulista.
O Flamengo encerra uma sequência de cinco anos de títulos de clubes de São Paulo (mesmo que o de 2005 seja eternamente o campeonato dos asteríscos). E o vice do Inter acaba com uma hegemonia que já incomodava: foram 17 anos seguidos de paulistas em 1º ou 2º lugar no Brasileirão -- quando não ocupavam as duas posições. Nenhum demérito para São Paulo, pelo contrário. Só explica o motivo de o torcedor do Santa Cruz colocar 50 mil pessoas no Arruda, em plena terceira divisão. E pior, chorar porque o time caiu para a quarta.
O futebol é movido à paixão, tamanha a imprevisibilidade. E o Flamengo é movido pela paixão contagiante de sua torcida. Torcida esta que se encanta por um tal Fio, o maravilha. Ou entoa, a plenos pulmões, que Obina é melhor que o Eto'o. E quando menos se espera, lá estão eles gritando 'campeão' outra vez.
Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ÔÔÔÔ, Mengão do meu coração!
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Enforquem o sistema eleitoral! Mais uma do bigode
JOSÉ SARNEY
A pandemia da corrupção
NA HISTÓRIA da humanidade e da civilização, jamais foi encontrado antídoto algum contra a corrupção. Já o Código de Hamurabi, que data de 1700 a.C., durante muito tempo considerado o primeiro código legal da humanidade, fala em punição de governantes corruptos.
Cícero e Catão construíram suas histórias políticas martelando contra ela, e em todos os parlamentos existem grupos ou pessoas que fazem sua carreira defendendo a pureza das instituições a que pertencem ou atacando a dignidade de seus colegas.
As ideias políticas do mundo ocidental incorporaram o combate à corrupção e, mais do que isso, a acusação aos adversários de corruptos como chaves da atividade política.
Adriano Moreira, um grande mestre da ciência política em Portugal, anota com agudeza que o discurso de Péricles aos mortos da Guerra do Peloponeso já inclui as duas coisas: primeiro, a condenação da corrupção; depois, a acusação do adversário de corrupto quando fala do roubo de ouro das estátuas de Fídias, a quem defende.
Ultimamente, os escândalos de corrupção têm marcado a vida pública brasileira. São episódios vergonhosos, que denigrem cada vez mais os políticos. Se a corrupção é um câncer para a sociedade, muito mais quando se trata da corrupção política, definida como "o uso ilegal do poder político e financeiro com objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para indivíduos ou grupos".
Muitas leis, barreiras, ameaças, punições têm tentado evitá-las. Nossa primeira lei contra a corrupção de colarinho branco foi feita por mim (lei 7.492/86). É de minha autoria a lei que determina a declaração de bens de candidatos a cargos públicos.
Mas nada disso pode deter a doença que ataca a classe política. Nabuco, no discurso em que defende João Alfredo -o presidente do Conselho que fez a Lei Áurea-, dizia o quanto ela era uma constante da nossa história e citava casos, como o das concessões para loterias, engenhos centrais e outras. Mas, comparadas com as de hoje, são quase que pecadilhos angelicais.
O que ocorre no país neste instante é inclassificável. É trágico, deprimente, inconcebível, sob todos os ângulos. Mas acredito que o grande responsável por tudo isso esteja passando incólume.
É o nosso sistema eleitoral. O voto uninominal proporcional, que destrói a democracia, os partidos, a vida pública e a própria classe política. Para a eleição, os ideais, os programas e os princípios de nada servem. Só o dinheiro necessário para a vitória. E o país pensa que enforcar os corruptos resolve tudo. Quem deve ser enforcado é o sistema eleitoral. Sem isso, de nada adianta punir ou envergonhar-se.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Polêmica
http://blogdojuca.blog.uol.com.br/
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Juca - Dê um passo a frente e você não está no mesmo lugar
O bode da sala
A fórmula de campeonato, o horário dos jogos, a adequação do calendário: um verdadeiro jogo de blefes
PODE APOSTAR: tudo ficará como está no Campeonato Brasileiro. Igualzinho.O campeonato seguirá disputado em pontos corridos, com jogos às 22h às quartas-feiras e sem que o calendário nacional seja adequado ao calendário mundial. A Globo Esportes, ao contrário do que se imagina, ganhou a parada. O lance de reapresentar a ideia de mudança da fórmula do Brasileirão, ao propor um mata-mata entre oito finalistas, foi, na verdade, apenas um blefe. Como naquela conhecida história do bode na sala. Ora, a discussão que estava na pauta, a da adequação do nosso calendário ao do mundo do futebol, essa sumiu, como por encanto. Ao blefe do Brasileirão com mata-mata, que exige até mudança no Estatuto do Torcedor, a CBF contrapôs o blefe da mudança do horário do jogo pós-novela global. Em vez das 22h, que tal às 19h? Como as relações entre Marcelo Campos Pinto, da Globo Esportes, e Ricardo Teixeira, da CBF, vão além dos negócios, amigos fraternos que são, tudo se resolveu numa mesa de almoço. Os pontos corridos são um sucesso entre os torcedores e a grade global precisa de futebol no horário nobre, e não se fala mais nem numa coisa nem noutra. E a adequação do calendário, medida necessária, embora não suficiente, para o futebol brasileiro retomar um caminho de busca da autossuficiência? Bem, a adequação tomou doril. Tratemos de botar as coisas em seus devidos lugares, já que tiraram o bode do mata-mata da sala. No mundo do futebol, aí entendido aquele do qual fazem parte, por exemplo, os países campeões mundiais -exceção feita ao Uruguai, que, infelizmente, é a cada ano menos importante-, os campeonatos nacionais são disputados em pontos corridos e convivem felizes com todas as demais competições, em adoráveis mata-matas. Neste mundo inglês, francês, italiano, espanhol, sem título mundial, mas deste mundo, alemão, argentino, jogos duas horas antes de dia útil acabar só é possível aos sábados. E olhe lá. E todos têm o mesmo calendário, razão pela qual não precisam interromper seus torneios para verem as Copas do Mundo, as Copas das Confederações etc,, além de as janelas de transferências servirem para fortalecer seus campeonatos nacionais em vez de enfraquecê-los. Por razões nebulosas, desde disputas internas -futebol na TV aberta x pagar-para-ver (mais de 600 mil pacotes vendidos nesta temporada)-, bonificação de fim de ano e até, acredite, uma ficcional disputa entre o poderio da Globo Esportes e um exército de Brancaleone que pensa diferente dela, a adequação é malvista por Campos Pinto. Exército que, diga-se, tem plena convicção de que defende melhor os interesses do futebol brasileiro, e portanto da própria Globo, do que seu executivo. Resta dizer que Teixeira resiste onde pode, conhece seu limite, abdica de algumas convicções pessoais (a da adequação, por exemplo) em razão desse limite e falseia a verdade quando diz "nós acertamos ao escolher os pontos corridos". Porque não foram "eles". Foi o Estatuto do Torcedor.
Deu no Blog do Juca
Se os Brasileirões, antes da fórmula dos pontos corridos, acabassem imediatamente antes dos mata-matas ou dos últimos triangulares/quadrangulares, os campeões seriam os seguintes:
1971 – Corinthians
1972 – Palmeiras
1973 – Palmeiras
1974 – Grêmio
1975 – Inter
1976 – Inter
1977 – Atlético Mineiro
1978 – Inter
1979 – Inter
1980 – Atlético Mineiro
1981 – Vasco
1982 – Guarani
1983 – São Paulo
1984 – Fluminense
1985 – Sport
1986 – Guarani
1987 – Atlético Mineiro
1988 – Vasco
1989 – Vasco
1990 – Grêmio
1991 – São Paulo
1992 – Botafogo
1993 – Palmeiras
1994 – Guarani
1995 – Santos
1996 – Cruzeiro
1997 – Vasco
1998 – Corinthians
1999 – Corinthians
2000 – Cruzeiro
2001 – São Caetano
2002 – São Paulo
Inter e Vasco teriam vencido quatro vezes.
Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Galo e Guarani três vezes.
Grêmio e Cruzeiro duas.
E Sport, Fluminense, Botafogo, Santos e São Caetano uma vez cada.
Chama atenção o tri do Guarani e a ausência de títulos do Flamengo.
O levantamento foi feito pelo ombusdman informal deste blog, Conrado Giacomini.
Note, ainda, que em apenas 12 edições o campeão de fato coincidiu com quem chegou na frente na fase de classificação.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Deu no NYTimes
Ai se a moda pega em São Paulo. Vamos ter até sequestro de helicóptero....
14 Americans Killed in Afghan Helicopter Crashes
Eleven American troops died today in two separate helicopter
incidents, one in Western Afghanistan and the other in
Southern Afghanistan. Three American civilians were also
killed in the incident in western Afghanistan.
Adalberto
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Folha faz entrevista tucana com Lula
Folha faz entrevista tucana com Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista para o repórter especial da Folha Kennedy Alencar. Leia abaixo íntegra da entrevista:
FOLHA - É correto classificar de marolinha uma crise que gerou desemprego, redução de investimentos e derrubou o crescimento da economia de 5% ao ano para 1% em 2009 no cenário mais otimista?
FOLHA - Ali não houve um tsunami?
Nos debates com empresários, a minha inconformidade é que houve no mês de novembro e dezembro uma parada brusca desnecessária de alguns setores da economia.
Disse também que a burguesia brasileira era a "burguesia que sempre foi, a burguesia que está sempre querendo mais". Falou ainda: "Da minha parte, não existe preconceito. Tenho consciência de que estão ganhando dinheiro no meu governo como nunca".
Aí, fizemos desonerações, liberação de financiamentos, o Meirelles colocou dinheiro das reservas para facilitar nossas exportações. Depois, descobrimos outra coisa grave, os derivativos, feitos por empresas que não pareciam que faziam derivativos. Foi outro problema. Tivemos de conversar com empresa por empresa. Discutir como financiar, como evitar que algumas quebrassem, e colocamos o BNDES em ação.
FOLHA - No auge da crise, os bancos privados secaram o crédito. A Vale e a Embraer demitiram de imediato. Foi um comportamento à altura do país naquele momento?
FOLHA - O sr. comprou algo?
Hoje é um fato consagrado no mundo inteiro: o Brasil hoje é o país mais bem preparado e o que melhor enfrentou a crise.
FOLHA - O sr. vai prorrogar a isenção de IPI para a linha branca? Total ou parcialmente?
FOLHA - O sr. tem simpatia pela prorrogação?
FOLHA - A taxa básica não poderia estar menor?
FOLHA - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tem uma crítica...
Agora, antes que aconteça, uma superentrada de dólares no Brasil, reduzindo muito o valor do dólar em relação ao real, criando problema na balança comercial, e com algumas empresas exportadores tendo problema, nós demos um sinal com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiros, que passou a ser cobrado no ingresso de capitais]. Demos um sinal para ver se a gente equilibra.
FOLHA - Especialistas dizem que o IOF será inócuo?
FOLHA - A crítica básica do Serra é a seguinte: o Banco Central jogou fora na crise um bilhete premiado, que seria a oportunidade de baixar mais os juros sem custo. Agora, a crise acabou, a taxa está alta, pode ter que aumentar e jogou fora o bilhete premiado?
FOLHA - Uma crítica de especialistas e da oposição é o aumento dos gastos públicos no segundo mandato. Além da elevação temporária de gastos na crise, há despesas permanentes que pressionarão o caixa no futuro e tornarão mais difícil baixar os juros. O sr. estaria deixando uma herança maldita.
FOLHA - Saiu barato?
FOLHA - Qual é a sua previsão de crescimento do PIB para este ano?
FOLHA - Aquela brecada do empresariado sacrificou crescimento econômico?
FOLHA - Aécio Neves ataca o inchaço da máquina e diz que o sr. faz um governo para a companheirada. Como o sr. responde?
FOLHA - O sr. recuou no envio de um projeto para cobrar IR de poupança acima de R$ 50 mil e mandou normalizar a devolução da restituição do IR. A lógica eleitoral, com temor de desgaste, autoriza a conclusão de que o sr. não pretende tomar medidas impopulares até o final do governo?
FOLHA - Vai enviar ao Congresso?
FOLHA - E sua ordem para normalizar o pagamento da restituição do IR?
FOLHA - O ministro da Fazenda disse que estava atrasado, e o sr. deu a ordem para acelerar.
*
"No Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas"
FOLHA - O sr. nunca havia sido gestor, era político, virou presidente e faz um governo bem avaliado. Seu argumento não é muito tucano, essa coisa de gerente.
FOLHA - O sr. a acha preparada para presidir o Brasil?
FOLHA - Falando do estilo, ela é retrata por pessoas do governo como muito dura no trato pessoal, que falta habilidade política, que massacra algumas pessoas. Isso não é ruim para um presidente?
FOLHA - Dilma precisará refazer sua imagem, tomar um banho de loja, semelhante ao que o sr. fez em 2002?
FOLHA - O sr. defende uma coalizão e uma disputa plebiscitária. Se a coalizão é tão importante, por que faz tanta questão que o candidato seja do PT e não de um partido aliado?
FOLHA - Fechou ontem a aliança ontem com o PMDB?
FOLHA - Michel Temer é o nome para vice?
FOLHA - O sr. ainda tem o desejo de que Ciro seja vice de Dilma e que o PMDB apoie?
FOLHA - É possível?
FOLHA - O sr. patrocina a articulação para ele ser candidato a governador de São Paulo.
FOLHA - Como o sr. explica ter um governo popular e a oposição liderar nas pesquisas sobre sucessão?
FOLHA - Os motivos? Recall?
Obviamente, a transferência de voto não é como passe de mágica. Vamos trabalhar para que a gente possa transferir todo o prestígio angariado pelo governo e pelo presidente para a nossa candidatura.
FOLHA - O sr. diz que ainda não há candidatos. Mas todo dia a Dilma aparece com o sr. no noticiário, viajando. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, classificou de vale-tudo as viagens que viram comícios.
A Dilma trabalha das oito, nove da manhã às três da manhã. Quando era ministra das Minas e Energia, ela ficava, às vezes, três e meia da manhã, ficava comendo lanche com os assessores para fazer as coisas andar. Ninguém pode ser contra a Dilma ir às obras comigo. Até porque, se ela for candidata, a lei determina quem tem prazo em que ela não poderá mais ir. Até chegar lá, ela é governo. É um debate pequeno.
FOLHA - Mendes disse que o governo testa o limite da Justiça Eleitoral.
FOLHA - O sr. teme uma chapa Serra-Aécio?LULA - Não [com voz firme].
FOLHA - O sr. pediu a Aécio para não ser vice de Serra?LULA - [Riso] Não, não.
FOLHA - O sr. não subestimou Marina, que deixou o PT para, segundo ela, construir uma nova utopia no PV?
FOLHA - Por que o sr. não abandonou Sarney na crise do Senado?
FOLHA - Se Sarney caísse, acabaria sua sustentação política no Senado?
FOLHA - Falando do seu papel como presidente da República, o sr. chegou a dizer que Sarney não poderia ser tratado como um cidadão comum. Não é incorreto numa democracia, onde ninguém está acima da lei? Um presidente falar isso não transmite mensagem ruim?
A negação do socialismo, feita pela Gorbatchov, deu quem? O que tomava vodca lá, o [Bóris] Iéltsin. A relação com a política tem de ser mais séria. Não adianta falar mal do Congresso Nacional, porque ele é a cara do que foi votado pelo povo. O importante é que a democracia garante que a cada 4 anos haja troca.
FOLHA - O sr. apoiou Sarney, reatou relações com Collor, é amigo do Renan Calheiros, do Jader Barbalho e recebeu o Delúbio Soares recentemente na Granja do Torto. Todos eles são acusados de práticas atrasadas na política e até de corrupção. Ao se aproximar dessas figuras, o presidente não transmite ideia de tolerância com desvios éticos?
FOLHA - O cidadão que admira o Lula e o vê abraçado com essas figuras...
FOLHA - O sr. trabalhou tanto pela reabilitação política de Palocci. O episódio do caseiro não é insuperável do ponto de vista eleitoral para um candidato majoritário?
FOLHA - E [pendência] perante o eleitorado?
FOLHA - Ele pode ser candidato a governador de São Paulo?
FOLHA - Qual é sua opinião?
FOLHA - Seu aliado Ciro Gomes diz que há "frouxidão moral" na hegemonia da aliança PT-PMDB, da qual o sr é o principal avalista. Sobre o encontro com o PMDB, disse: "Espero que o PMDB entregue o que prometeu. E espero que os argumentos dessa aliança sejam confessáveis publicamente". Como o sr. responde a essas críticas?
FOLHA - E a frouxidão moral?LULA - É um conceito do Ciro.
FOLHA - Não quer responder.LULA - Estou respondendo. É uma opinião do Ciro.
FOLHA - Não o incomoda?
FOLHA - Ciro disse que o sr. e FHC foram tolerantes com o patrimonialismo para fazer aliança no Congresso. Ou seja, aceitaram a prática política de usar os bens públicos como privados. "No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa", ele disse em entrevista em fevereiro de 2008. Como responde a essa crítica?
FOLHA - Nunca se sentiu incomodado por ter feito alguma concessão?
FOLHA - É isso que explica o sr. ter reatado com Collor, apesar do jogo baixo na campanha de 1989?
FOLHA - Do ponto de vista pessoal, não o incomoda? Não lhe dá aperto no peito?
FOLHA - O sr. cobrou um esclarecimento da ex-secretária da Receita, Lina Vieira. Ela achou a agenda e a data, 9 de outubro, em que teria se encontrado com Dilma e ouvido o pedido para acelerar as investigações da Receita sobre Sarney. A ministra e o governo não devem esclarecimentos que o sr. mesmo cobrou?
FOLHA - Não é preciso mais explicações da Dilma?
FOLHA - O sr. acha que Lina está sendo usada?
"Papel da imprensa não é fiscalizar, é informar"
LULA - Não faz mal porque aprendi, ao longo da minha vida, cair e levantar, cair e levantar. A pesquisa de opinião pública é como medir a pressão.
FOLHA - Quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, o sr. disse que simbolizava a entrada do Brasil no primeiro mundo político e econômico. O episódio de derruba de um helicóptero no último sábado não mostra que aquele Rio vendido lá é fantasia e que seu discurso é irrealista?
FOLHA - O secretário da Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, diz que "o Rio precisa que o governo federal assuma a responsabilidade legal pelo combate à droga". Empurrou a responsabilidade para o governo federal.
FOLHA - O sr. assistiu ao filme "Lula, o filho do Brasil"?
FOLHA - Com financiamento de grandes empresários e ajuda das centrais sindicais na distribuição, não é um instrumento de propaganda personalista?
FOLHA - O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?
FOLHA - Ações recentes da política externa na América Latina foram de contraponto a Washington. O Brasil tem de ser um contrapeso à força dos EUA na região?
FOLHA - Zelaya completou completou um mês na embaixada brasileira fazendo política interna. Não foi longe demais?
FOLHA - O sr. diz que a imprensa internacional elogia o Brasil e a nacional puxa o Brasil para baixo. Nos EUA, o Obama apanha da imprensa, e é elogiado na imprensa internacional. Isso não acontece porque a imprensa nacional conhece o país melhor?
FOLHA - Um dos papéis da imprensa é fiscalizar o poder. O sr. não está incomodado com a imprensa cumprindo o seu papel?
FOLHA - O sr. disse que tem azia quando lê jornais.
FOLHA - A imprensa não tem de ser fiscal do poder?
FOLHA - O sr. acha legítimo o governo interferir na gestão de uma empresa privada como o sr. faz em relação à Vale?LULA - Não interferi na Vale.
FOLHA - Houve interferência pública.LULA - É preciso parar com essa mania de entender que só o presidente da República tem responsabilidade com o Brasil. Os 190 milhões têm. E, mais ainda, os empresários têm. E aqueles que receberam benefício do governo têm mais ainda. O que eu disse ao companheiro Roger foi pedir para a Vale colocar todo o seu poder de investimento em investimentos internos. Não apenas na exploração de minério, mas também na transformação desses minérios em aço.
Os trabalhadores da Vale sabem do carinho que tenho por ela. Tenho feito esforço em vários países do mundo, ajudando a cavar espaço para que a Vale seja empresa multinacional. Agora, não pode acontecer, quando deu um sinal de crise, mandar tanta gente embora como mandou. O Roger já sabe que houve equívoco nisso.
FOLHA - Na fusão da Oi com a Brasil Telecom, o sr. mudou a regra para favorecer um negócio em andamento de um empresário que é seu amigo e contribui para suas campanhas, Sérgio Andrade. Foi um benefício do Estado a um grupo privado. Isso não ultrapassa o limite ético?LULA - Vocês são engraçadíssimos. Temos uma agência reguladora.
FOLHA - Mas o sr. assinou um decreto mudando a regra.LULA - A legislação brasileira permite que a agência faça a regulação que melhor atenda ao mercado brasileiro. Estou convencido de que foi correta a decisão do governo.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Deu no Blog do Juca
Humor deve ser sempre de oposição.
Humor, antes de ser para rir, é para criticar, para mexer nas feridas, não para confortar, mas para incomodar.
Humor a favor não existe.
As reações à nota sobre o fogo olímpico são a melhor prova de que o objetivo da nota foi atingido.
E não deixa de ser engraçado ver o bairrismo aflorar, com citações desairosas a São Paulo, que é, no quesito violência igual ao Rio, embora uma cidade feia, nada maravilhosa.
Parece até que não vivemos todos no mesmo Brasil.
Aos que quiserem que leiam o que aqui publiquei quando o PCC parou Sao Paulo.
E aos que não sabem, saibam que perdi meu pai, Procurador de Justiça, num assalto à luz do dia, em frente à casa dele, em Sao Paulo...
14 de maio de 2006
Crônica de uma guerra anunciadaEu era criança na década de 50 e sempre que ia ao Rio de Janeiro, ainda de poucas e romantizadas favelas, já ouvia dos mais velhos que um dia as favelas desceriam. Desceram, e não é de hoje. Todos os sinais da guerra civil foram dados neste Brasil que pouco se importa em incluir os excluídos, a não ser para blindar automóveis e contratar seguranças particulares. O eixo Rio-São Paulo virou eixo do crime e faz quatro dias que a maior cidade da América do Sul vive em pânico. Quem paga é a população. Que paga seus impostos para ter, no mínimo, alimentação, educação, saúde e segurança. E pagam, também, os soldados da PM e os agentes da Polícia Civil, gente do povo, mal aparelhada, mal remunerada, e, ainda por cima, mal vista. Policiais que estão sendo mortos como se matam animais. Enquanto a classe política só dá exemplos de corrupção que acabam em pizza, as autoridades que pagamos para dar segurança revelam apenas incompetência e arrogância. Como se a questão fosse exclusivamente criminal, e não, essencialmente, social. A violência convive com a impunidade como se vê até nos estádios de futebol. Que fim levou o episódio no Pacaembu, na noite de Corinthians e River Plate? Quem foi punido? O Corinthians? O Pacaembu? Os que tentaram invadir? Rigorosamente, ninguém. E ainda temos que ouvir que está tudo sob controle. Está sim. Sob o controle do pânico. Já vimos este filme. Os mocinhos perdem e os bandidos ganham no fim. Mas nos restam duas atitudes: A primeira atitude é não esquecer dos terríveis dias que estamos vivendo em São Paulo quando formos votar.
domingo, 4 de outubro de 2009
Constituição de Honduras
Não sei do seu interesse em produzir um texto, mas hoje me deparei com um artigo muito fraco em um jornal e precisei olhar essa Constituição, já que tanta gente tem falado tantos absurdos.
O presente texto, na verdade, nada quer dizer. Não tenho opinião sobre Honduras. Não posso ter. Conheço muito pouco. De qualquer forma, posso ponderar.
Vamos lá. Primeira ressalva. Analisar a constituição de um outro país é um trabalho ingrato, pois no Direito não existe interpretação gramatical.
A interpretação, para ser completa, precisa passar por vários métodos de análise do texto, tais como: o histórico, teleológico, sistemático e outros, incluindo o gramatical.
Tenho pouco conhecimento no sistema Constitucional hondurenho, como outros articulistas, que escrevem barbaridades pelos jornais. Posso não saber o que está certo, mas sei identificar os equívocos que são escritos sobre Honduras.
Logo, a minha primeira ressalva é no sentido de que qualquer análise do texto constitucional hondurenho deve tomar muito cuidado, a chance de equívoco é tremenda.
Segunda ponderação. Agora, vamos entrar no texto da Constituição em si, para corrermos o risco de falarmos umas besteiras também, mas pelo menos tentaremos colocar um pouco de razão no que anda sendo publicado.
A constituição hondurenha não prevê golpes. Não poderia. Mas possui artigos curiosos, que tratam da subversão da ordem constitucional, notadamente, os artigos 239 e 3 da Constituição.
O artigo 239 poderia se dizer, a primeira vista, aplicável ao Zelaya. Referido artigo dispõe que será deposto do cargo, de forma imediata, quem propor qualquer reforma constitucional com previsão de re-eleição e ficará impedido de exercer qualquer função política por 10 anos.
Aqui teremos que fazer uma ponderação. Será destituído do cargo por quem? Isso, pois o Zelaya desrespeitou esse artigo, ao propor uma reforma constitucional nesse sentido, em ofensa à Constituição e desrespeitando o legislativo e o judiciário daquele país.
Entretanto, duvido que o artigo 239 dê embasamento para que militares invadam a casa do então presidente, o prendam de píjamas e mandem-o para a Costa Rica.
Duvido, mas quem tiver mais conhecimento sobre o sistema constitucional hondurenho poderá me informar.
Conseqüentemente, temos um governo golpista. Agiu com as armas para derrubar o Presidente Zelaya, enquanto este deveria ter sido deposto pelas vias democráticas.
Apesar disso, convocar a população para a insurreição, como Zelaya fez, hospedado na embaixada brasileira, não parece nada adequado.
Terceira ponderação. O artigo 3 da Constituição poderia ser mencionado como base legal para a declaração de Zelaya convocando a população para cometer atos de desobediência civil.
Contudo, o momento não é para levante, pois Zelaya não agiu de forma adequada antes do golpe e não poderá querer instalar uma guerra civil no país.
A situação deverá se resolver por meio da negociação. E a diplomacia brasileira poderá ajudar nessa questão, ao contrário do que eu imaginava. Quarta ressalva.
Assim, Zelaya e Michelleti deverão conversar. Recompor um governo legítimo, com Zelaya no poder. Este será julgado por seus crimes. Além disso, as eleições de novembro deverão ocorrer de forma pacífica, que o candidato de Zelaya, provavelmente, perderá.
Ante o exposto, podemos concluir que Honduras poderá solucionar essa crise. Existe espaço para negociação.
Ademais, percebemos que Honduras não está tão distante assim, tendo em vista que o FHC comprou uma emenda constitucional para sua re-eleição e, recentemente, discutiu-se o terceiro mandato de Lula.
Honduras está logo ali....
Adalberto
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ARTICULO 239.- El ciudadano que haya desempeñado la titularidad del Poder Ejecutivo no podrá ser Presidente o Vicepresidente de la República.
El que quebrante esta disposición o proponga su reforma, así como aquellos que lo apoyen directa o indirectamente, cesarán de inmediato en el desempeño de sus respectivos cargos y quedarán inhabilitados por diez (10) años para el ejercicio de toda función pública.
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ARTICULO 3.- Nadie debe obediencia a un gobierno usurpador ni a quienes asuman funciones o empleos públicos por la fuerza de las armas o usando medios o procedimientos que quebranten o desconozcan lo que esta Constitución y las leyes establecen. Los actos verificados por tales autoridades son nulos. el pueblo tiene derecho a recurrir a la insurrección en defensa del orden constitucional.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Deu no Blog do Juca - A vitória da ficção
Não é sonho. É ficção.
Sim, como o discurso apaixonado de Lula. Como o discurso eloqüente de Meireles.
Criaram uma ficção, tendo em vista que muito o que se disse é apenas meia verdade, pois faltaram todas as ressalvas que o Brasil ainda necessita.
Um grande teatro, um musical, bem açucarado, pois deixa de lado todas as nossas contradições.
De qualquer forma, o Brasil (Rio) entrou de corpo e alma nessa candidatura, que teve apoio de muitos.
Se as Olimpíadas na China ocorreram no fim de um modelo de economia global em 2008, antes da crise, o Brasil nasce como a esperança de um novo acerto global.
Logo, não se trata apenas de uma Olimpíada, não sejamos ingênuos. O Rio, o Brasil, recebeu um crédito para mostrar que pode participar e ajudar no concerto das nações.
Vejam só, chegamos a que ponto. Japão, Europa ou EUA? Não. A salvação é o Brasil, não o Brasil em si, mas o que ele representa. Mais uma vez o Brasil se tornou o país do futuro.
E ai pergunto, estamos preparados? Ou é só um sonho?
Adalberto
sábado, 26 de setembro de 2009
Politizou demais
A mais recente evidência deste perigoso poço onde podem despencar prestígios e tradições é o pedido do governo brasileiro à Espanha para intermediar a crise iniciada com o refúgio do presidente deposto, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira de Tegucigalpa.
O Brasil entrega, assim, a honrosa posição de possível árbitro entre o governo de facto e o governo de jure que dividem Honduras, para tornar-se uma das partes do conflito. Há dias era cortejado pelos adversários, agora inapelavelmente envolvido, é obrigado a apelar à ONU para que a sua embaixada e, portanto, a sua soberania sejam respeitadas pela truculência dos gorilas que se abancaram no poder.
Nosso status no episódio mudou para pior. E, mais uma vez, por artes deste incansável estróina e trapalhão chamado Hugo Chávez, cuja compulsão de vangloriar-se o levou a assumir publicamente a responsabilidade pela transferência do presidente deposto para o seu país.
O veemente apelo para o fim do embargo a Cuba no privilegiado pódio da Assembleia Geral da ONU em Nova York, dias depois, ficou prejudicado pela esdrúxula e inconfortável reversão em nossa posição. Agora, somos nós a angariar simpatias e apoios em causa própria.
Como observou o analista Caio Blinder, agora “o cara” é Obama. Não será o presidente Sarkozy quem poderá obrigar Roberto Micheletti, presidente em exercício de Honduras, a interromper o cerco à embaixada brasileira. Nem José Luiz Zapatero, presidente do conselho da Espanha, a quem apelamos para mediar a crise.
O presidente Lula embarcou para os EUA preparado para colher triunfos e pode regressar de mãos abanando. Ou, pior, obrigado a agradecer a solidariedade norte-americana e o apoio recebido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Acossado por seus demônios íntimos e pelos que continuamente desperta à sua volta, o presidente Hugo Chávez não pode parar, necessita manter-se nas manchetes. Acrobata – apesar do peso – não consegue reprimir-se diante de um trapézio. Sente-se obrigado a dar o salto mortal.
O presidente Lula, ao contrário, é um hábil sobrevivente. Sempre soube preservar-se, expert em evitar desafios inúteis. Não havia motivos para esta aceleração. Tudo o favorecia tanto no plano econômico – crucial – como de prestígio internacional. As dificuldades preliminares na corrida eleitoral seriam facilmente contornadas se a equipe palaciana não abrisse tantas frentes simultâneas e acionasse tantos alarmes emergenciais. Agora, novas pressões serão inevitáveis. Lula será cobrado e Lula não gosta de ser cobrado.
A pequena e distante Honduras, quem diria, vai entrar em nossa história.