A demissão de Muricy Ramalho do comando técnico do São Paulo é lastimável. Mas tem coerência. O próprio Muricy, nos três anos e meio que ficou no clube cansou de dizer que no futebol você é o melhor quando ganha e o pior quando perde. Cunhou, inclusive, uma frase emblemática: a bola pune.
Adalberto comentou neste blog o seguinte:
'Entre dispensar jogadores, que acabaram de chegar e sem ganhar nenhum tostão por isso, e queimarem o Muricy, escolheram o segundo.
Essa conclusão é óbvia e está explícita nas seguintes declarações:
"Contratamos jogadores que foram destaques no ano anterior. A imprensa elogiou o São Paulo à época. Um ou outro jogador pode não ter se adaptado como deveria, mas o nosso trabalho tem como objetivo errar o menos possível, e o planejamento continua."
"É o momento de fazer uma mudança, de promover uma reestruturação. Na conversa que tivemos ficou definida a saída dele."
"Neste início de ano, os resultados não foram bons. O nosso foco sempre foi a Libertadores, e não estávamos indo bem." (João Paulo de Jesus Lopes)'
Na verdade a conclusão entre escolher ou um ou outro não "é óbvia e está explícita" nas declarações. Essa conclusão é óbvia a partir da decisão de se demitir o Muricy.
Também diferentemente do que escreveu Adalberto, a diretoria do São Paulo não dá sinal nenhum de que não é mais a mesma e os pequenos avanços dos últimos anos não começaram a se perder. "O planejamento continua", como disse Jesus Lopes. Foi sempre assim.
Pode haver erros de planejamento, como contratar Fábio Santos, Carlos Alberto e Adriano para o mesmo time. Mas há planejamento. Ninguém pode dizer (aliás, até maio, ninguém disse) que os reforços deste ano foram ruins. Não teria como: Washington, Arouca e Júnior César jogaram demais no ano passado, levando, inclusive, o Fluminense a uma final inédita da Libertadores -- fato que fez os olhos da diretoria são-paulina brilharem. Renato Silva, Wagner Diniz e Eduardo Costa poderiam "só" compor elenco.
Era unânime no início do ano que o São Paulo, mais uma vez, tinha o grupo mais forte do Brasil. Mas além de erros de planejamento, há outros fatores que podem ser fatais.
Para exemplificar vamos à escalação de Muricy Ramalho para o jogo decisivo diante do Cruzeiro, na quinta-feira, 18 de junho de 2009: Denis; Renato Silva, André Dias e Richarlyson; Zé Luis, Eduardo Costa, Jean, Marlos e Junior Cesar; Borges e Washington.
Rogério Ceni; Rodrigo, André Dias e Miranda; Zé Luis, Jean, Hernanes, Jorge Wagner e Junior César; Borges e Washington. Com todos esses em condições de jogo, o São Paulo teria sido eliminado da Libertadores da maneira como foi? Talvez. Eu duvido. Mas os planos eram para que fosse esse time.
A questão é: não falta planejamento. Não à toa o São Paulo conquistou títulos da maior importância nos últimos quatro anos. Isso se chama, sim, planejamento. E a luta para ter o seu estádio como palco de abertura da Copa do Mundo se inclui nesses planos, tamanho os benefícios (grana mesmo) que o clube terá com o episódio.
Voltando às declarações de Jesus Lopes: "é o momento de fazer uma mudança, de promover uma reestruturação". Aqui está o problema. A mentalidade é esta. A situação no São Paulo estava longe de ser catastrófica, e uma solução caseira era muito mais plausível. Washington insatisfeito por ser substituído? Pede pra sair, 09! Hernanes tropeçando na bola? Banco nele! Rodrigo reclamando de ser tratado como profissional? O Rio de Janeiro é logo ali...
É triste a saída do ídolo. Dói mais do que a perda do título. Mas que venha o já tricolor (mesmo que branco, vermelho e verde -- assim como Telê Santana!) Ricardo Gomes. Ninguém vai esquecer que a geração de Robinho, Diego e Nilmar não foi à Olimpíada de Atenas, comandada por este treinador. Como ninguém esqueceu a eliminação em 1982 de um dos maiores times que o mundo já viu, comandada pelo antes pé frio e depois Mestre Telê.
Ricardo, seja benvindo. Muricy, até breve!
João Santos
PASSO O PONTO
Há 5 anos
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