quarta-feira, 13 de maio de 2009

Kind of Blue

Menti descaradamente para mim mesmo. Tenho o curso. Não quero gastar esse dinheiro. Se fosse em um bar intimista valeria a pena. Não. Não vale.

Forças subversivas começaram a agir. Primeiro. Passo pela livraria Saraiva, pois começou a chover. Vou para o caixa com o Doo-Bop de Miles e um CD da Motown, coletânea tripla. No caixa vejo uma versão comemorativa do Kind of Blue. Separo. Finalmente, vou comprar. Apenas tenho uma versão pirata do CD comprado de um ambulante no Teta Jazz bar. Quando vou pagar, meu cartão de crédito está estourado. Não paguei minha última fatura. Esqueci no meio de tantos feriados no mês de abril.

Deixo a versão comemorativa do Kind of Blue (CD duplo, DVD com documentário e camiseta). Levo os outros. Comento a cena com minha namorada. Ela compra pela internet uma versão de colecionador do Kind of Blue. Lindo Genial. Versão maravilhosa de So What em ritmo alucinado com 17 minutos de duração. Magistral.

As forças continuam a conspirar. Começam a anunciar na mídia. Todas. De forma ostensiva. So What Band com Jimmy Cobbs na bateria para tocar aqui em São Paulo the Kind of Blue. A lenda do Jazz. O CD mais lindo e improvisado da história do jazz.

Miles.

Miles é apenas, Miles.

O golpe final. Recebo um e-mail de uma amiga. Não posso ir tomar um choop com vocês, tenho um show. Qual? Jimmy Cobbs. Não acredito? Queria muito ir nesse show, mas. Bom, invento. Não invento. Me engano. Tentei comprar, mas apanhei de forma vil do site. Provoco. Me convença a ir no show.

O golpe baixo.

uma pessoa que tem um gato chamado Miles não pode perder esse show, é só isso que eu digo...

Sofri. Me senti um estúpido. Entrei em pânico. Fui até o escritório de minha namorada de ônibus, eram 19:20. Peguei o carro dela e fui para a Av Jamaris em Moema. Porra de Moema. Trânsito do caralho. Ouço o CD do Miles. Aquele, Doo-Bop. Moderno. De 1991, com influências de Nova York e do Hip Hop.

Chego à bilheteria. 20:20. Fechada. Fechou as 20. Vou para os fundos e converso com o segurança que me passa um telefone para comprar o ingresso.

Ligo. Temos dois camarotes senhor. Dois? Isso, cada camarote tem 5 lugares. Quase. Então, eu retorno daqui a pouco, vou confirmar se um amigo meu quer ir junto.

Não consigo falar com meu amigo. Retorno a ligação. A ligação cai. Ligo de novo. Os ingressos acabaram senhor. Como assim? Impossível. Eu liguei agora pouco. Espere senhor, temos um camorote. Você quer. Sim quero. Meia entrada. CPF, senhor. Número do cartão, senhor. Código de Segurança, senhor. São R$ 68 e os ingressos podem ser tirados até meia hora antes do espetáculo na bilheteria. Sua operação foi autorizada pela sua administradora de cartões, por favor, anotar o código.

Sim. Comprei. Voltei para o escritório. Audito. Maldito. Trabalho. Alucinado. Serão 24 horas do cão. Escuto Miles.

Miles é Miles. Kind of Blue.

Adalberto Pereira

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