sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Cesare Battisti - Carta para STF

Brasília, 25 de fevereiro de 2009 (16h)

Excelentíssimos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal

Gilmar Mendes - presidente
Cesar Peluso - vice-presidente
Celso de Mello
Marco Aurélio
Ellen Gracie
Carlos Britto
Joaquim Barbosa
Eros Grau
Ricardo Levandowski
Carmen Lúcia
Menezes Direito

Senhores Ministros,

Tomo a permissão de dirigir-me a Vossas Excelências com a convicção de
que, pela primeira vez, terei oportunidade de ser ouvido plenamente pela alta
corte deste país, inclusive para expor porque fui impedido, de exercer minha
defesa de maneira adequada nas ocasiões anteriores em que fui julgado.
Quero dizer a verdade da minha história e esclarecer os episódios relacionados
às terríveis acusações lançadas contra mim. Nunca tive a possibilidade na
Itália, de defender-me. Nunca um juiz, ou um policial me fez uma só pergunta
sobre os homicídios cometidos pelo grupo ao qual pertencia, os Proletários
Armados pelo Comunismo, PAC. Nunca a justiça italiana ouviu meu
testemunho. Nunca um juiz interrogou-me: "você matou?". Hoje, trinta anos
depois pela primeira vez na minha vida, tenho a ocasião de explicar-me
perante uma justiça, a justiça do Brasil. E creio sinceramente na seriedade e
consciência desta justiça. Agradeço muito Vossas Excelências pela disposição,
Senhores Ministros, de ouvir minha palavra.
Cresci numa família comunista muito militante. O meu pai e os meus irmãos
arrastaram-me, muito jovem, para a ação política. Aos dez anos, meu pai já me
levava para gritar slogans de revolta, na rua. Mas, aos 17 anos compreendi que
o homem cujo retrato era afixado na nossa casa era Stalim, e lancei-o pela
janela. Aquilo, abriu uma crise política com o meu pai, e deixei a minha família,
para juntar-me à rua, com as centenas de milhares de pessoas que se
revoltavam desde 1968 contra o binômio da política italiana: "Democrazia
Cristiana - Partido Comunista Italiano, DC-PCI". Pertencia, então, a um grupo
de jovens "autônomos" que vivia em uma comunidade. Eram militantes não
armados. É mesmo verdade que para financiar nossa atividade militante,
folhetos e etc., levantávamos recursos através de roubos. Para embelezar
estes delitos, que foram extremamente numerosos nessa época na Itália, todos
os jovens chamavam estas ações não de "roubos", mas de "reapropriações
proletárias". E devo confessar que detestava estas ações simplesmente porque
tinha medo. Este medo persistiu durante toda a minha ação militante, tema ao
qual voltarei.
Foi devido a uma destas "reapropriações proletárias" que fui encarcerado pela
primeira vez, mas que realmente devia-se à nossa vida de militantes sem
dinheiro. Na prisão encontrei um homem mais idoso, Arrigo Cavallina, que
pertencia a um grupo de luta armada, os PAC. Não gostava de sua
personalidade, ao mesmo tempo fria e febril, mas impressionavam-me sua
cultura e suas teorias revolucionárias - mesmo se não compreendia tudo o que
ele dizia. Quando fui libertado em 1976, voltei à minha comunidade: havia se
tornado um deserto. Certos companheiros tinham morrido, mortos pelos
policiais nas manifestações. Os outros estavam devastados pela droga. Nessa
época, grandes quantidades de droga barata foram distribuídas maciçamente
em todas as grandes cidades para quebrar o movimento de revolta. Em
seguida as entregas foram suspensas, e todos os jovens que tinham caído na
armadilha da "heroína" tinham-se tornado fantasmas em estado de
"necessidade", pensando apenas em encontrar droga, e não na ação política.
Amedrontado por este espetáculo, fiz o grande erro da minha vida: tomei um
comboio para Milão e entrei no grupo armado dos PAC. Sem compreender
nessa época, que, lá também, caia numa armadilha fatal.
O chefe militar deste grupo era Pietro Mutti. Também era importante Arrigo
Cavallina. Descrevi longamente a estranha personalidade de Pietro Mutti no
livro que escrevi no Brasil durante a minha fuga: "Minha fuga sem fim". Este
trabalhador tinha tido graves problemas com droga, e tinha saído disso graças
à ação política. Isto fazia dele um fanático, uma verdadeira máquina de guerra.
Apesar de seu caráter muito contido, tornamo-nos amigos. Mas Pietro Mutti
supervisionava-me incessantemente, para ver se eu estava a "altura", e eu
tentava sê-lo. Os PAC eram especializados sobre a ação social e a melhoria
das condições prisionais. O grupo cometia regularmente ações de apropriações
aos bancos, para assegurar o seu financiamento e também ações aos locais de
"lavoro nero", trabalho sem carteira. Aquilo sim, eu fiz. Todo esse ativismo
militante nunca o neguei. Pietro Mutti tinha sentido perfeitamente o meu medo,
durante estas "ações obrigatórias", que eu sempre detestei. Estávamos
armados - embora uma boa parte das armas não funcionasse. Temia sempre
que um dos companheiros atirasse sobre o vigia do banco, se este vigia
levantasse a mão com a sua arma. Havia desenvolvido uma técnica para evitar
aquilo: lançava-me com as mãos nuas sobre o vigia e punha-o no solo de
surpresa. Porque sabia que uma vez por terra, ninguém atiraria nele. Fiz aquilo
numerosas vezes. Conto esta pequena história que pode parecer anedótica,
para assegurar-lhes, Senhores Ministros, que não sou de maneira alguma "um
homem sanguinário", como tem sido escrito incessantemente, mas ao
contrário. Vossas Excelências podem também pedir a informação aos meus
irmãos, Vicenzo e Domenico, como eu reagia quando era jovem e matavam um
animal em nossa pequena exploração agrícola, mesmo que fosse um frango.
Essa aversão ao sangue nunca diminui na vida de um homem. Pelo contrário,
aumenta. E nunca matei e nem quis matar qualquer pessoa.
Quero deixar claro à Vossas Excelências o que sei sobre os quatro homicídios
pelos quais fui acusado na minha ausência, sob alegações diversas. As
acusações foram de que eu teria cometido os assassinatos de Santoro e
Campagna, que eu teria sido cúmplice sobre o lugar no caso da morte de
Sabbadin, e que teria organizado a ação que matou Torregiani, morto no
mesmo dia de Sabbadin. Sabem, Senhores Ministros, que fui preso em 1979
com outros militantes clandestinos e que fui julgado na Itália durante o primeiro
processo dos PAC, onde estava presente. Houve numerosos casos de tortura
durante este processo, com suplício da água, mas eu mesmo não fui torturado.
Nenhuma vez durante este processo fizeram-me uma só pergunta sobre os
homicídios. Os policiais sabiam perfeitamente que não os tinha cometido. Por
conseguinte, fui condenado em 1981 por "subversão contra a ordem do
estado", o que era verdade e o que eu não negava no processo. Fui
condenado a 13 anos e seis meses de prisão, porque naquela época as
penalidades, de acordo com as novas leis de urgência, eram multiplicadas por
três para os ativistas. Esse tempo foi depois reduzido para 12 anos.
O meu processo, único e verdadeiro processo ao qual tive direito na Itália, foi
concluído. Estava numa das "prisões especiais" que tinham sido construídas
para nós, chamados de "terroristas". Como prova de que a justiça italiana
reconhecia aquela época a minha inocência quanto às acusações de
homicídio, fui transferido para uma prisão para "aqueles cujos atos não
causaram a morte". Mas o procurador Armando Spataro, que chefiava o
esquema de torturas pela região de Milão, continuava a se incomodar comigo e
bloqueou a minha correspondência com a minha família. Soube com três
meses de atraso por uma visita da minha irmã, que o meu irmão Giorgio tinha
morrido, num acidente de trabalho. O choque para mim foi imenso. Aquilo, e o
fato de que, a cada dia, no passeio, prisioneiros desapareciam sem razão, para
seguidamente retornar meses após embrutecidos e mudos, ou não retornavam,
fez-me tomar consciência de que as leis não seriam nunca normais para nós.
Por causa disso, e apenas por isso, tomei a decisão de fugir. E não para "fugir
da justiça" dado que o meu processo estava terminado. Evadi-me em quatro de
outubro de 1981, e deixei folhas em branco assinadas, aos meus antigos
companheiros, para o caso de processo por minha evasão. Fui para a França.
Antes de ir, em 1982, ao México. E porque ignorava completamente que a
justiça italiana movia um novo processo contra os PAC, este famoso processo
na minha ausência onde fui condenado à prisão perpétua sem luz solar. Fiquei
sabendo disso com estupefação, quando retornei à França, mesma data em
que soube do falecimento de meu pai há dois anos atrás. Tal fato, a perda de
meu pai, foi mais relevante que qualquer decisão da justiça, pois pensei que
nenhum juiz consciencioso poderia considerar com seriedade um processo
como esse.
Devo recomeçar a minha história em 1978 quando era ainda membro dos PAC.
Desculpe-me, por favor, por me prolongar Senhores Ministros, mas é a primeira
vez, repito-o, que posso explicar-me na frente de uma justiça digna deste nome
e desejo dizer à Vossas Excelências tudo o que sei. Em maio de 1978, eu
soube, como todos os italianos e o mundo inteiro do sequestro e assassinato
de Aldo Moro pelas brigadas vermelhas. Olhava horrorizado esta imagem da
mala do automóvel, um KL - na televisão, e posso dizer que esse dia tornou-me
outro homem. Há na minha vida "antes de Aldo Moro" e "após Aldo Moro".
Nesse dia eu senti duas coisas: o horror que me inspirava aquele ato, a náusea
na frente de todo aquele sangue vertido por todos os lados. Compreendi
também que o uso das armas era uma armadilha, na qual a extrema esquerda
tinha caído. Decidi nesse dia romper com a luta armada, definitivamente. Em
toda a Itália, a morte de Aldo Moro suscitou enormes discussões em todos os
grupos armados. No que respeita aos PAC, decidimos por uma nova palavra
de ordem, segundo a qual estaríamos armados para defender-nos, mas nunca
para atacar pessoas. Estupidamente fiquei tranquilizado por esta decisão,
votada pela maioria. Mas um mês depois, em junho de 1978, um grupo
autônomo dos PAC, dirigido por Arrigo Cavallina e chefiado por Pietro Mutti,
sem consultar a totalidade dos membros responsáveis, matou o chefe dos
agentes penitenciários, Santoro. Houve imediatamente uma reunião, muito
agitada. Pietro Mutti e Arrigo Cavallina defenderam esse homicídio com grande
vigor. Nesse mesmo dia deixei o grupo, como uma boa parte dos membros
antigos que se opunham a todo ataque contra pessoas. Pietro Mutti ficou
furioso contra mim, considerava que o trai.
Juntei-me, então, ao que era chamado "um coletivo de grupos territoriais".
Também armados mas não ofensivos. Vivia com muitos outros clandestinos
num velho prédio de Milão. Sabiamos quase tudo o que se passava e se dizia
na cidade e é assim que, no inicio do ano de 1979, soubemos que os PAC
preparavam ação contra homens de extrema direita que praticavam
autodefesa, que andavam sempre armados (espécie de milicianos). Eu não
sabia quem era a pessoa visada, e não sabia que, realmente, os PAC tinham
decidido matar dois desses justiceiros de extrema direita, Torregiani em Milão e
Sabbadin na região de Veneza. Eu quis impedir esses atos, sangrentos,
estúpidos e contraproducentes para a resistência. Um verdadeiro suicídio
político, posto que indefensável. Pedi autorização, em nome do "grupo
territorial", para participar de uma reunião dos PAC, na casa de Pietro Mutti.
Cheguei com dois outros companheiros. Havia lá muitos membros novos que
eu não conhecia, e que tinham substituído as nossas partidas do ano
procedente. Expliquei a Pietro Mutti e aos outros a estupidez e a loucura do
seu projeto. Muito rapidamente a reunião caminhou mal, e o tom se tornou
muito elevado. Os membros dos PAC disseram-me que eu não tinha mais
direito de dar o meu parecer dado que não pertencia mais ao grupo e a reunião
terminou sob forte tensão. Eu não sabia quem devia ser morto. Cerca de um
mês depois, ou menos, soube pelos jornais que Torregiani tinha sido
assassinado e que durante o ataque uma bala do revólver de Torregiani tinha
atingido o seu próprio jovem filho Alberto. Recordo que fiquei gelado na
calçada ao ver o jornal. Soube também que um outro membro da milícia havia
sido morto no mesmo dia na região de Veneza, Sabbadin. Fiquei chocado e
também envergonhado, muito perturbado, porque eu tinha pertencido a esse
grupo, que se tornou assassino.
E dois meses após, em abril - mas não recordo da data - um policial de Digos,
Campagna, foi morto também. O senador Suplicy interrogou-me para saber se
tinha álibis às datas destes homicídios. Mas penso que podem compreender,
Senhores Ministros, que, até mesmo por não os ter cometido, sou incapaz de
recordar das datas desses crimes. Além disso, vivíamos escondidos nos
apartamentos, e os dias eram vazios, intermináveis e muito semelhantes. É-me
impossível recordar 30 anos depois, onde estava naquelas datas, certamente
no apartamento, que praticamente nunca deixávamos.
Seguidamente no verão houve uma grande operação no norte da Itália e fui
preso com todos os ocupantes do prédio. Sim, é exato que havia armas no
lugar, mas a própria justiça italiana estabeleceu, por uma avaliação de
balística, que eram virgens, que nenhuma delas nunca tinha sido usada para
dar um único tiro.
Muitos dos fatos que conto agora não os vivi, dado que estava no México.
Soube deles, em 1990, na França, quando fui informado do conteúdo do
segundo processo que começou com a detenção de Pietro Mutti em 1982.
Soube, na França, que Pietro Mutti tinha sido torturado e tinha se constituído
"arrependido", que aceitava colaborar com a justiça italiana em troca de sua
liberdade e uma nova identidade. Soube de que ele estava sendo acusado,
com base em inquéritos policiais, de ser o atirador sobre Santoro e que
acusou-me no seu lugar. Durante esse longo processo, Pietro Mutti fez tantas
acusações que muito frequentemente ficou atrapalhado em suas declarações
impossíveis ou contraditórias. Por exemplo, para salvar a sua namorada,
acusou outra mulher, Spina, de ser cúmplice no atentado contra Santoro. Mas
em 1993, a justiça foi obrigada a reconhecer a inocência da Spina, e libertá-la.
Não tenho os documentos comigo, e devo dizer que a escritora e pesquisadora
francesa Fred Vargas conhece muito melhor o meu processo do que eu
mesmo. Mas sei que, em 1993, segundo creio, a própria justiça percebeu, por
seus atos e suas palavras, que Pietro Mutti era "habituado aos jogos de
prestidigitação" e que, frequentemente, dava o nome de uma pessoa em lugar
de outra. A parte a tortura, a única desculpa que se pode dar a Pietro Mutti, por
ter-se sujeitado a fazer as suas terríveis e falsas acusações é que seguia uma
regra: proteger os acusados presentes, lançando a culpa sobre os ombros dos
ausentes. Como quando acusou Spina até que se reconheceu a sua inocência
em 1993.
Mutti não foi o único arrependido acusador. Quero explicar aos Senhores
Ministros que, nessa época, durante os processos nos anos de chumbo, o
sistema das torturas e dos "arrependidos" foi utilizado correntemente (ver
relatório de Anistia Internacional e da Comissão Européia) e com uma
intensidade específica pelo procurador Spataro. Sabíamos todos que era
terrível a ver Spataro como procurador. O sistema dos "arrependidos" não
funcionava sobre o único testemunho de um só homem. Era necessário obter
outros "testemunhos" de arrependidos de modo que a acusação fosse
"confirmada" e parecesse sólida. Houve por conseguinte outros membros dos
PAC que me acusaram, juntamente com Pietro Mutti, como Memeo, Masala,
Barbetta, etc.. Todos eram arrependidos ou "dissociados", e todos ganharam
reduções de pena ou liberdade imediata, ou evitaram a prisão perpétua. Assim,
por exemplo, Memeo, o que matou Torregiani e Campagna, Cavallina o
"ideólogo" dos grupos dos duros, Fatone, Grimaldi, Masala, que fizeram parte
do comando contra Torregiani, Diego Giacomini que executou Sabbadin. Todos
estes obtiveram sua liberdade em troca da confirmação de Pietro Mutti,
No que respeita à morte de Santoro, já contei da reunião que se seguiu e que
decidiu a minha saída do grupo. Sei apenas que Arrigo Cavallina e Pietro Mutti
defenderam ardentemente esse crime durante aquela reunião e que a polícia
os acusava de tê-lo cometido.
Não pertencia mais ao grupo quando foram cometidos os três outros
assassinatos, por conseguinte os meus conhecimentos precisos estão
limitados. Mas a mídia que me acusa incessantemente de, voluntariamente, ter
"atirado sobre Torregiani" e, mesmo, de ter "atirado sobre o seu filho", sabe
efetivamente que isso é totalmente falso. A justiça italiana reconheceu que os
quatro homens do comando eram Grimaldi, Fatone, Masala e Memeo, que
atirou sobre o joalheiro. E foi também a justiça que confirmou que a bala que
feriu o filho Alberto vinha do revólver de seu pai. Creio que no inicio Mutti
acusou-me desse crime. Mas como acusava-me também do homicídio de
Sabbadin, cometido no mesmo dia a centenas de quilômetros, disse que eu era
o "organizador". Expus já o que se passou na reunião quando tentei impedir
esta ação. Quanto a Sabbadin, Giacomini "sub-chefe para a região de Veneza"
confessou ter atirado sobre ele. Como Mutti primeiro tinha dado o meu nome
como "atirador" transformou-me, após as confissões de Giacomini, em
motorista, do lado de fora. Só que nem assim funcionou, pois resultou
posteriormente que o "motorista" era uma mulher. Senhores Ministros nem
mesmo sei onde é esta aldeia onde foi morto Sabbadin.
Por último, sei que Mutti acusou-me ainda de ter atirado sobre Campagna. À
época, nada soube sobre a preparação desse crime, não mais que sobre o de
Sabbadin. O que sei é que uma testemunha ocular descreveu o agressor como
um homem muito grande, de 1,90 metros, enquanto em meço 20 centímetros
menos. O resto a escritora e pesquisadora Fred Vargas explicou-me: a balística
provou que a bala vinha da arma de Memeo, o que atirou sobre Torregiani. E
que uma testemunha diz que tinha acreditado entender, pelas palavras de
Memeo, que ele que tinha atirado. Mas esta testemunha é talvez um
arrependido e não tenho certeza sobre o responsável pela morte de
Campagna.
Não sou responsável por nenhum dos homicídios de que sou acusado,
Senhores Ministros. Constantemente fui utilizado no processo como um bode
espiatório, por arrependidos. A melhor prova de que digo a verdade é que
falsos mandatos foram fabricados, como a perícia grafotécnica comprovou, de
modo que os advogados Gabrieli Fuga e Giuseppe Pelazza "representaramme"
no processo na minha ausência. Por quê? Certamente não para defenderme,
certamente não para o meu bem, dado que fui condenado à prisão
perpétua com privação de luz solar. Mas certamente para tornar a acusação
contra mim mais aceitável e criar cenário favorável para uma pena mais
rigorosa. Até muito tempo depois da simulação de julgamento eu não sabia que
existiam falsas procurações. Esta descoberta devo-a à Fred Vargas e à minha
advogada francesa Elisabeth Maisondieu Camus. Foi Fred Vargas que me deu
a informação, quando foi visitar-me na prisão em 2007, em Brasília. Um antigo
companheiro (quem? Pietro Mutti?, Bergamini?) deu aos advogados as folhas
brancas que tinha assinado em 1981, antes de minha fuga. Duas destas folhas
foram preenchidas depois em 1982, com "minha letra aparentemente". Fred
Vargas, explicou-me que o mesmo texto o do verdadeiro mandato que assinei
em 1979 foi copiado duas vezes, e que os dois textos estão sobrepostos por
transparência, enquanto que foram escritos com dois meses de intervalo,
"datados" de maio e julho de 1982. Uma pericia francesa provou, em janeiro de
2005, que as três assinaturas, dos três mandatos foram efetuadas no mesmo
momento e que, por exemplo, o texto do mandato de 1990, supostamente
enviado do México (mas o envelope não existe). Foi datilografado acima da
minha assinatura de nove anos atrás. A perícia provou também que as datas
não foram escritas por minha mão, assim como também o escrito nos
envelopes dos dois primeiros "mandatos".
Quando os meus advogados franceses souberam disso, comunicaram
imediatamente, em janeiro de 2005, ao Conselho de Estado Francês. Assim
procederam porque a França não tem o direito de extraditar um condenado em
ausência que não foi informado de seu processo. Esses três falsos mandatos
provavam que eu não havia sido informado (se sim, teria escrito os mandatos
eu mesmo). Muito infelizmente, o Conselho de Estado, submetendo-se à
vontade do presidente Jacques Chirac, recusou-se a examinar a falsidade dos
mandatos. Aceitaram a extradição afirmando que "tinha sido informado e
representado como se os mandatos fossem verdadeiros". Em seguida os meus
advogados franceses apresentaram a comprovação dos três falsos
documentos à Corte Européia, mas lá também foi inútil, pois, certamente por
interferência do governo francês, como esclareço em seguida, a Corte
Européia fechou os olhos, ignorou a prova pericial e disse que os mandatos
eram verdadeiros. O meu advogado francês Eric Turcon informou-me em
Brasília que essa "Corte Européia" tinha sido constituída exclusivamente por
magistrados franceses, muito vinculados a Jacques Chirac. Este único fato,
Senhores Ministros, prova que meu processo italiano foi viciado, sendo esse,
um dos elementos que o Ministro Tarso Genro reconheceu. E que a aprovação
da extradição pelas três Cortes francesas, e em seguida pela Corte Européia,
foi sempre fundada sobre a existência daquelas procurações que são
absolutamente falsas, o que fica evidente num exame a olho nu. Por que essas
Cortes, informadas das falsidades desses documentos, se recusaram a
considerar este ponto da mais alta relevância?
O Secretário Nacional de Justiça do Brasil, Romeu Tuma Jr., por solicitação do
Ministro da Justiça Tarso Genro, teve a oportunidade de examinar
detalhadamente os documentos apresentados pela historiadora e arqueóloga
Fred Vargas, em diálogo de duas horas, em companhia do senador Eduardo
Suplicy, documentos nos quais se evidencia que houve a falsificação das
procurações, conforme a análise técnica com reconhecimento oficial, feita pela
responsável por estudos de grafologia na França, senhora Evelyn Marganne.
Será muito importante que Vossas Excelências também possam examinar com
atenção estas provas, que muito contribuíram para fundamentar o que foi
expresso na decisão do Ministro Tarso Genro. Por esse motivo anexo aqui os
documentos levados pela pesquisadora Fred Vargas ao Dr. Romeu Tuma Jr. e
encaminhados ao Ministro Tarso Genro pois eles mostram a evidência da
falsificação das procurações e apóiam as explicações detalhadas das folhas
nas conclusões da Justiça italiana a meu respeito.
Assinalo que todas as testemunhas arroladas que contaram que eu teria
participado dos quatro assassinatos foram beneficiarias pela "delação
premiada" com consequente diminuição de suas penas e/ou de sua libertação.
O senhor Walter Fanganiello Maierovitch afirma em seus artigos que a justiça
italiana não aceita o depoimento de um "arrependido" que use da delação
premiada, se por ventura não falar a verdade. Entretanto, a própria justiça
italiana não invalidou a denuncia contra mim feita por Pietro Mutti apesar das
contradições acima assinaladas. Observo também que na entrevista dada por
Pietro Mutti à Revista Panorama, na qual se baseou a "Revista Veja" para
concluir que eu era culpado dos quatro assassinatos, diferentemente do que se
deu a entender não há foto recente de Pietro Mutti. A foto lá mostrada é do
tempo em que nós convivíamos e suas palavras são exatamente as mesmas
que pronunciou à época da denúncia. De minha parte estou disposto a
confirmar pessoalmente, perante Vossas Excelências, tudo o que estou
dizendo. Assim como estou disposto a afirmar aos familiares das quatro
vítimas, olho no olho, que não matei seus entes queridos. Sei que a justiça do
Brasil tomará em consideração todos os elementos que, postos juntos, provam
a minha inocência e a maneira tremenda como fui utilizado como bode
expiatório durante esse processo tão cheio de falhas na Itália. A cólera
desproporcionada de alguns setores da Itália decorre, em grande parte, do fato
que não querem ou não lhe convém, reconhecer que o meu processo foi
totalmente falseado, como tantos outros desse mesmo período (houve 4.700
processos contra a extrema esquerda durante os anos de chumbo).
Espero, Senhores Ministros, que me tenham entendido, apesar do ataque
irracional e desmedido de setores muito influentes de um país - a Itália - contra
mim. Sobre a minha vida e sobre a minha honra, posso afirmar que lutei
sempre contra as ofensas físicas durante a revolta italiana, e que nunca atentei
contra a vida das pessoas. Essa é a verdade, que nenhuma prova contrariou.
Solicito à Vossas Excelências, Senhores Ministros, receber as expressões de
meu respeito e da mais elevada consideração.

Cesare Battisti

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pourquai luttons vous?

Jarbas Vasconcelos, não se sabe ao certo o motivo, deu entrevista explosiva para Veja com críticas contundentes e corrosivas à corrupção no quadros do PMDB e ao Governo Lula.

Fora algumas ressalvas, como por exemplo o fato de a Veja deixar bem claro que iniciou campanha pesada a favor do Serra, pois sabe que caso contrário a eleição estará perdida.

Apesar disso, vale destacar que todas as críticas do entrevistado são muito bem fundamentadas e concordo com todas elas.

Só faltou apontar nomes e isso reforça minha tese de que se trata muito mais de um produto de eleição do que realmente uma acusação aberta para combate da corrupção.

De qualquer forma, todas as ineficiências do atual governo foram debatidas, bem como o retrocesso político que representa a eleição de Sarney para presidência do Senado, conforme já havia comentado aqui.

Seguem abaixo algumas das provocações:

"É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. (....) A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador."

"Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos."

"Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção."

"De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado."

"Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo."

"Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso."

"Não é só mudar nomes, é mudar práticas. A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema."

"O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso. "

"Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social permanece."

Adalberto Pereira.

Morumbi - Quarta-Feira

Ontem as cornetas estavam furiosas. Estridentes. "Senta Hugo". "Dunga cuzão, André Lima seleção". "Hernanes, honra a dez, porra". E muito, garanto, muito mais. Algumas não tão absurdas e outras até engraçadas, como o sujeito que berrou antes de um dos inúmeros escanteiros:

- Ninguém grita gol antes da hora, caralho!!! E ai, quando a bola é alçada, o figura grita: GOL!!!! E ri....Na verdade, todos riem.

Mas, a maior parte das cornetagens são completamente descabidas de uma torcida impaciente que parece não saber que o futebol é muito mais um jogo de estratégia do que espetáculo, na maior parte do tempo.

De qualquer forma, o pior ainda estava por vir. No meio do primeiro tempo começaram a pipocar uma série de brigas com xingamentos, gritos e até cusparadas para intimidar os torcedores que estavam de pé e obrigá-los a sentar. No início, uma pequena parte da torcida começou a gritar e retrucar os xigamentos e ofensas, conclamando a nação tricolor a torcer e incentivar o time. Lembrando que não estávamos no sofá de casa. Por alguns instantes, o jogo se tornou mero coadjuvante.

No final, a vontade dos paga-lanches corneteiros prevaleceu e 80% da arquibancada vermelha assistiu ao jogo sentada. Nesse contexto, adorei a frase de um senhor atrás de mim: E o pior que eu já comprei os outros ingressos....

Triste perceber que a cadeira numerada subiu para a arquibancada. A cativa está espalhando-se pelo Morumbi e com ela brigas estúpidas que eram vistas com frequência naquelas cadeiras - como pontuou bem João Santos no jogo de domingo.

Assim, uma das minhas músicas favoritas vai soar uma velha lembraça com um gosto de saudosismo.

"....o que eu não quero, é cadeira numerada,
eu vou de arquibancada, para sentir mais emoção!!!..."

Adalberto Pereira

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Esaú e Jacó – Machado de Assis

A política brasileira

“— Mas o que é que há? Perguntou Aires.
— A república está proclamada.
— Já há governo? — Penso que já; mas diga-me V.Ex.ª: ouviu alguém acusar-me jamais de atacar o governo? Ninguém. Entretanto, uma fatalidade! Venha em meu socorro, Excelentíssimo. Ajude-me a sair deste embaraço. A tabuleta está pronta, o nome todo pintado. —‘Confeitaria do Império', à tinta é viva e bonita. O pintor teima em que lhe pague o trabalho, para então fazer outro. Eu, se a obra não estivesse acabada, mudava de título, por mais que me custasse, mas hei de perder o dinheiro que gastei? V.Ex.ª crê que, se ficar ‘Império', venham quebrar-me as vidraças? — Isso não sei.
— Pessoalmente, não há motivo; é o nome da casa, nome de trinta anos, ninguém a conhece de outro modo…
— Mas pode por ‘Confeitaria da República'…
— Lembrou-me isso a caminho, mas também me lembrou que, se daqui a um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou hoje e perco outra vez o dinheiro.
— Tem razão… sente-se.
— Estou bem.
— Sente-se e fume um charuto.
Custódio recusou o charuto, não fumava. Aceitou a cadeira. Estava no gabinete de trabalho, em que algumas curiosidades lhe chamariam a atenção, se não fosse o atordoamento do espírito. Continuou a implorar o socorro do vizinho. S. Exª. com a grande inteligência que Deus lhe dera, podia salvá-lo. Aires propôs-lhe um meio-termo, um título que iria com ambas as hipóteses — ‘Confeitaria do Governo'.
— Tanto serve para um regímen como para outro.
— Não digo que não, e, a não ser a despesa perdida… Há, porém, uma razão contra. V.Exª. sabe que nenhum governo deixa de ter oposição. As oposições, quando descerem à rua, podem implicar comigo, imaginar que as desafio, e quebrarem a tabuleta; entretanto o que eu procuro é o respeito de todos.
Aires compreendeu bem que o terror ia com a avareza. Certo, o vizinho não queria barulhos à porta, nem malquerenças gratuitas, nem ódios de quem quer que fosse; mas, não o afligia menos a despesa que teria de fazer de quando em quando, se não achasse um título definitivo, popular e imparcial. Perdendo o que tinha, já perdia a celebridade, além de perder a pintura e pagar mais dinheiro. Ninguém lhe compraria uma tabuleta condenada. Já era muito ter o nome e o título no Almanaque de Laemmert, onde podia lê-lo algum abelhudo e ir com ou outros, puni-lo do que estava impresso desde o princípio do ano…
— Isso não, interrompeu Aires; o senhor não há de recolher a edição de um almanaque.
E depois de alguns instantes:
— Olhe, dou-lhe uma idéia, que pode ser aproveitada, e, se não a achar boa, tenho outra à mão, e será a última. Mas eu creio que qualquer delas serve. Deixe a tabuleta pintada como está, e à direita, na ponta, por baixo do título, mande escrever estas palavras que explicam o título: ‘Fundada em 1860'. Não foi em 1860 que abriu a casa?
— Foi, respondeu Custódio.
— Pois…
Custódio refletia. Não se lhe podia ler sim nem não; atônito, a boca entreaberta, não olhava para o diplomata, nem para o chão, nem para as paredes ou móveis, mas para o ar. Como Aires insistisse, ele acordou e confessou que a idéia era boa. Realmente, mantinha o título e tirava-lhe o sedicioso, que crescia com o fresco da pintura. Entretanto, a outra idéia podia ser igual ou melhor, e quisera comparar as duas.
— A outra idéia não tem a vantagem de pôr a data à fundação da casa, tem só a de definir título, que fica sendo o mesmo, de uma maneira alheia ao regímen. Deixe-lhe estar a palavra império e acrescente-lhe embaixo, ao centro estas duas, que não precisam ser graúdas: das leis. Olhe, assim, concluiu Aires, sentando-se à secretária, e escrevendo em uma tira de papel que dizia.
Custódio leu, releu e achou que idéia era útil; sim, não lhe parecia má. Só lhe viu um defeito: sendo as letras debaixo menores, podiam não ser lidas tão depressa e claramente como as de cima, e estas é que se meteriam pelos olhos ao que passasse. Daí a que algum político ou sequer inimigo pessoal não entende logo, e… A primeira idéia, bem considerada, tinha o mesmo mal, e ainda este outro: pareceria que o confeiteiro, marcando a data da fundação fazia timbre em ser antigo. Quem sabe que não era pior que nada?
— Tudo é pior que nada.
— Procuremos.
Aires achou outro título, o nome da rua, ‘Confeitaria do Catete', sem advertir que havendo outra confeitaria na mesma rua, era atribuir exclusivamente a Custódio a designação local. Quando o vizinho lhe fez tal ponderação, Aires achou-a justa, e gostou de ver a delicadeza de sentimentos do homem; mas logo depois que o que fez falar o Custódio foi a idéia de que este título ficava comum às duas casas. Muita gente não atinaria com o título e compraria na primeira que lhe ficasse à mão, de maneira que só ele faria as despesas da pintura, e ainda por cima perdia a freguesia. Ao perceber isso, Aires não admirou menos a sagacidade de um homem que, em meio a tantas tribulações, contava os maus frutos de um equívoco. Disse-lhe então que o melhor seria pagar a despesa feita e não por nada, a não ser que preferisse seu próprio nome: ‘Confeitaria do Custódio'. Muita gente certamente lhe não conhecia a casa por outra designação. Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que chamasse a atenção dos dois regimens, e conseguintemente que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara, menos ainda a vida do proprietário e dos empregados. Por que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma coisa com a troca de uma palavra por outra, ‘Custódio' em vez de ‘Império', mas as revoluções trazem sempre despesas.
— Sim, vou pensar, excelentíssimo. Talvez convenha esperar um ou dois dias, a ver em que param as modas, disse Custódio agradecendo.
Curvou-se, recuou e saiu. Aires foi à janela para vê-lo atravessar a rua. Imaginou que ele levaria da casa do ministro aposentado em lustre particular que faria esquecer por instantes a crise da tabuleta. Nem tudo são despesas na vida, e a glória das relações podia amaciar as agruras deste mundo. Não acertou desta vez. Custódio atravessou a rua, sem parar nem olhar para trás, e enfiou pela confeitaria dentro com todo sem desespero”.

PMDB

Após a ditadura militar todos os partidos políticos de oposição àquele regime opressor assumiram a Presidência da República (ideia de Eduardo Gianetti). Discussões de programas a parte, entendo que nenhum desses mandatos conseguiu sanar os problemas brasileiros tão conhecidos, tais como: diferença social, desemprego, caos tributário, corrupção, confusão patrimonial entre público e privado, ineficiência estatal, burocracia e etc.

Esses são problemas que foram pouco atacados pelos partidos que assumiram a Presidência. Pode-se dizer que o único feito histórico foi a estabilidade econômica que começou no Governo Itamar, passou por turbulências no segundo mandato do Fernando Henrique e foi se concretizar apenas em ambos mandatos do Governo Lula.

Do ponto de vista social, nem mesmo o Governo Lula é digno de nota. Foram medidas paternalistas, um combate ao desempregado calcado em benefícios fiscais e em setores pontuais, tais como infra-estrutura, construção civil e indústria automobilística (e depois a gente que se vire com o tránsito de São Paulo). As medidas não conseguirão melhorar o nível de educação e a qualidade e eficiência da produção brasileira.

Após todos os acontecimentos mencionados acima, e muitos outros, o PMDB reassume o poder. Desde 1991 que o partido não presidia as duas casas do congresso, logo após o fim do governo de Sarney pelo PMDB (1985-1990). Além disso, o partido ficou afastado do poder durante os mandatos de Fernando Henrique, quando o partido que mamava nas tetas do Estado era o PFL.

O PMDB soube esperar e foi paciente na transição do PSDB para o PT. Enquanto a saída do Governo do PSDB e PFL foi imediata. A entrada do PMDB nos quadros Governistas aconteceu de forma gradual até chegarem, a dois anos das eleições presidencias, à presidência das casas do congresso como o fiel da balança para as disputas eleitorais que acontecerão no ano que vem.

O PMDB agora assiste de camarote, Dilma, Lula, Serra e Aécio se debaterem sobre a próxima eleição presindencial. Flerta com todos e não assumirá compromisso com ninguém, apenas com o poder...

E dessa maneira, o Brasil, país de um futuro que nunca chegará, altera para continuar o mesmo, ou melhor, com os mesmos. Políticos que governam desde a época da ditadura, quando não reecarnados nas figuras de Filhos, Netos e apadrinhados (quem sabe, ao invés da pena capital, a solução seja a esterilização dos políticos).

Esse legado, essa tradição nunca foi rompida por nenhum dos governos que passou pelo executivo após a distadura. Muito pelo contrário, em muitos momentos, notamos uma exacerbação dessa predileção pela profissionalização da política e prática do caixa dois. O PMDB, PSDB e PT entregam o país de volta à população com seguinte recado. Abusamos de toda forma desse poder e não temos nada para oferecer em troca.

Por fim, resta nos indagarmos, como o Presidente Lula, com 85% de aprovação do mandato, completamente descolado de seu partido, irá se comportar no próximo pleito. Teremos um terceiro mandato? A monarquia voltará ao país? A ditadura de um proletariado? Acho difícil que qualquer uma dessas situações aconteça, mas é muito provocativo um presidente em um regime democrático, partidário, possuir índices de aprovação tão expressivos, enquanto o seu partido perde força ano após ano, após o ápice que foi a sua eleição como presidente.

Adalberto Pereira

Gullar provocador

FERREIRA GULLAR

Por qué no te callas?

Lula fala, fala, fala, viaja, viaja, viaja; o resto do tempo faz política

MINHA GENTE , estou a cada dia mais perplexo com a performance do nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não que ele tenha mudado essencialmente; nada disso, ele se comporta assim desde o primeiro dia de governo: não desce do palanque.Às vezes me pergunto se minha crescente perplexidade decorre dessa sua insistência que já dura sete anos ou de alguma outra coisa. Acho que são as duas: por um lado, já não aguento ouvi-lo falar pelos cotovelos, gesticular e postar-se como um ator num palco e, por outro, percebo-o cada vez mais à vontade para dizer o que lhe convenha, conforme o momento e conforme o público. Sem nenhum compromisso com a verdade e com a postura de um chefe de Estado.Ele não se comporta como chefe de Estado. Fala sempre em termos pessoais, ou louvando-se a si mesmo sem qualquer constrangimento ou acusando alguém, seja a imprensa, seja a oposição, sejam as classes ricas, sejam os países ricos.Estão todos contra os pobres, menos ele que, felizmente, assumiu o governo do Brasil para salvá-los, após quatro séculos de implacável perseguição. Do Descobrimento até 2003, ninguém sabe como o Brasil conseguiu sobreviver, crescer, chegar a ser a oitava economia do mundo, sem o Lula! Só pode ter sido por milagre ou qualquer outro fator inexplicável.A verdade é que, apesar de tudo, o país resistiu até o momento em que ele, Lula, chegou a tempo de salvá-lo. Isso ele afirma com uma veemência impagável, como se fosse a coisa mais óbvia e indiscutível do mundo. Sem rir, o que é mais surpreendente ainda, diante do olhar espantado de favelados, trabalhadores, funcionários públicos, aposentados.Já quando o público muda, ele também muda o discurso. Se fala para empresários, banqueiros, exportadores, a conversa é outra. Mostra-se preocupado com o crescimento da economia, com o apoio do BNDES à iniciativa privada e chega mesmo a admitir que sem os empresários o país não cresceria. E o balanço de final de ano mostra que os bancos realmente nunca ganharam tanto dinheiro como durante a gestão presidencial do fundador do Partido dos Trabalhadores, que se dizia inimigo número um deles.Joga com um pau de dois bicos, mas dá certo. Diz uma coisa para os pobres e o contrário para os ricos, mas dá certo. Tanto que a sua popularidade cresce a cada nova pesquisa de opinião. Na última delas, o índice de aprovação de seu governo alcançou mais de 70% e a dele, presidente, mais de 80%. Ele fala, fala, fala, viaja, viaja, viaja; o resto do tempo faz política. Há uma cumplicidade esquisita: Lula finge que governa, e o povão finge que acredita.Mas, infelizmente, os números da estatística não conseguem cegar-me. Pelo contrário, ao ver tamanha aprovação a um presidente da República, que busca deliberadamente engazopar a opinião pública, preocupo-me. Para onde estamos sendo arrastados? Até quando e até onde conseguirá Lula manipular a maioria dos brasileiros?Essas considerações me ocorreram ao ler o discurso que ele pronunciou, no Rio de Janeiro, na favela da Mangueira, ao inaugurar uma escola. De ensino não falou, claro, já que não lê nem escreve. Anunciou a intenção de usar prédios públicos desativados como moradia de sem-teto. E aproveitou para mostrar como os ricos odeiam os pobres: disse que os ricos da avenida Nove de Julho, em São Paulo, não querem deixar que gente pobre venha morar ali, num prédio público desocupado. "Mas nós vamos colocar, porque a moradia é um direito fundamental do ser humano." Palmas para ele!Nessa mesma linha de discurso para favelados, defendeu as obras do PAC, afirmando que a parcela mais pobre da população é que será beneficiada, e aduziu: "Quando a gente faz isso, perde apoio de determinada classe social, porque gente rica não gosta que a gente cuide muito dos pobres".O discurso, como sempre, é atrapalhado mas suficientemente claro para que a mensagem seja entendida: os ricos odeiam os pobres, que só contam com Lula para protegê-los. A conclusão é óbvia: se o Lula é o pai dos pobres, quem se opõe a ele certamente os odeia e ama os ricos.Assim como se apropriou de tudo o que antes combatera, improvisou o tal PAC, um aglomerado de projetos pré-existentes de empresas estatais, governos estaduais e municipais, que vai desde o pré-sal até a ampliação de metrôs e o trem-bala.Mas o investimento do governo federal é de apenas 0,97% do PIB, menos do que investiu FHC em 2001. Se tudo o que está ali é viável ou não, pouco importa, desde que sirva para manter Lula e Dilma sob os holofotes.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Em tempos de crise

Clássico em tempos de crise.

Dia chuvoso em tempos de crise.

Crise em tempos de crise.

A crise afeta, muda parâmetros.

Novos paradígmas.

Altera para continuar a mesma coisa.

Em tempos de crise

Crise em tempos de crise.

Olha a crise!!!

Olha a crise!!!

A música em tempos de crise.

O amor em tempos de crise.

O meu café amargo em tempos de crise.

A crise estampada nas manchetes do jornal, banalizada.

Empregos perdidos em tempo de crise.

O cú cheio de grana em tempos de crise.

O capitalismo de estado não é melhor que o neoliberalismo.

Mesmo que o neoliberalismo seja um nojo, um acinte a nossa inteligência, que os acéfalos da escola de chicago criaram.

Em tempos de crise.

A crise em tempos de crise.

Em tempos de crise.

O meu café continuará amargo.

O clássico continuará emocionante.

A chuva continuará a cair. Cai. Cai. Cai.

Olha a crise!!!

Olha a crise!!!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Som e chopp

Peço caneta e papel. Ele destaca uma pequena folha do bloco. Me arranca um sorriso e vai buscar uma caneta. Não dá para. Me arrependo de não ter trazido meu caderno de couro. Tomo meu chopp, cremoso. Nas últimas semanas venho bastante à Rua dos Andradas. Não sei se para consertar sons ou tomar chopps, talvez seja por causa do canapé de carne crua com mostarda e cebola. Ainda não sei ao certo. Leio uma crônica do Vinícius sobre cinema, Orson Welles o impressiona, apesar de se tratar de cinema falado, se é que isso existe. Para Vinícius o cinema é a fotografia em movimento. Imagem. Mudo. O som invadiu o cinema não como progresso ou evolução, pois o tornou artificial, como cinema, o transformou em outra arte. Enfim, até cinema Vinícius, o homem que se apaixonou pelo mundo e que se esforçava para viver uma vida sem prazeres....

Adalberto Pereira

Suiça

Mutilada

................Mutilou-se

Grávida

................Engravidou-se

Marcas, provas, palavras, ódio.

Que ataque?

Atacada?

................Atacou-se?

Adalberto Pereira

breu

Paula Suiça Nazismo

Avião Trem Carro

Lula Dilma Marta

Gaza Venezuela Estados Unidos da América

São Paulo Corinthians Inter Milan

787 bilhões de dólares!




Café Cigarro




























Sono..........

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ignorância

Fomos alimentar a alma com o que há de melhor na cidade. Sanduíche de mortadela no Mercadão e o chopp do Leo. Compramos vinho, molho de tomate, queijos, azeitonas, azeite, molho inglês e outros inúmeros ingredientes que seriam utilizados em um jantar no dia seguinte. Enquanto tomávamos o chopp na calçada do Leo algumas crianças passavam vendendo chicletes, como de costume, não compramos nada. De repente, uma menina para em nossa frente.

Moço, aquele senhor ali do fundo disse que você tem muito dinheiro e que podem comprar alguns chicletes. Abordagem inusitada para venda. Mas, meu amigo não perdeu o rumo.

Eu acho que aquele senhor tem muito mais dinheiro que nos dois juntos, muito obrigado, mas não queremos o chiclete. Moço, para que time vocês torcem? São Paulo, respondemos juntos. Bambi, tudo bambi, mais bambi que o Richarlyson...

Eu olhei para o meu amigo sem entender como havíamos chegado até aquele ponto. Não havia a menor explicação. Ela saiu, continuou a mexer com outras pessoas. Folgada essa mina. Eu concordei. E essa história de bambi, os caras não tem mais o que falar. Já cansou. Nos ganhamos e eles não podem falar nada, então, bambi pra lá, bambi pra cá.

Eu nunca poderia imaginar que essa criança era a mesma que vi há cinco anos atrás chorando na Praça da Sé. Um choro ardido que rompia a Praça ao meio. Apesar disso, as pessoas mantinham-se imunes. O guarda imune embaixo de sua farda. O pastor imune com a mão sob a bíblia. E a mãe, a mãe da criança alheia ao mundo e imersa em seu desespero. É assustador assistir a mãe ignorar o choro da própria filha.

Mesmo, após anos de indiferença, era impossível suportar aquela cena. Nenhuma retina, por mais que endurecida, é tão calejada para não reter reprimindo o esfacelamento da maternidade. A filha buscava e a mãe fugia. Uns vão dizer que é a miséria. Só se for a humana.

Até quando essa menina será ignorada. Ou, até quando ela vai deixar se ignorar.

Adalberto Pereira

Pérsio

Eia, eia
Pérsio.
Eia, eia
Cortazar.
Todos a bordo do cruzeiro,
o destino, desconhecido,
o itinerário muito menos.
Quem sabe o Japão.
Onnnnnnnnnnnnnn!Onnnnnnnnnnn!
Entre os passageiros uns passeiam,
outros,
frustam-se, se entregam.
Uns lutam até a morte
e
nem sabem porquê.

Pérsio, mas, Pérsio,
sábio Pérsio,
Não te entregas,
muito menos abandonas.
Contemplas o cósmico,
fazes seus companheiros parecerem extremos cômicos.
Olhos hasteados observas.
Contentastes em não compreender,
nobre Pérsio nos ensine a não desperdiçarmos nossas
vidas.
Admiras o horizonte,
não te misturas por incompreensão
própria,
não alheia.
Aliás, todos misturam-se facilmente com você.
As estrelas te contaram uma história ontem
já passa do meio-dia e ainda tentas decifrá-la.

Os lipídios acordaram alvoroçados,
eles estão em toda parte,
Apesar disso não evitaram.
Ontem a noite mais um pulou o muro,
atravessou a porta,
viu o convés.

Tu Pérsio já sabes
pouco adiantou.
O infeliz não estava preparado para deparar-se com
o convés.
Tu da polpa, tentas elucidar este problema
mas da polpa,
da sua cabeça nunca, nunca elucidará
o convés.

Adalberto Pereira

Efêmero papel

Ela não está lá.
............................Não está lá.
............................No papel.
Ela não está naquele resultado,
está dentro de mim.
Pensei, desesperado,
que, pudesse rasgá-la
junto com o papel.
Depois pensei em guardá-la no fundo de uma gaveta...
e abrir só quando quisesse falar com ela.
.....................................Para finalmente ela me calar.
Enfim, percebi que eu
não conseguiria nem um,
nem outro.
Só poderia vivê-la.
E neste instante, por alguns segundos eu,
...................................Vivi a morte.

Adalberto Pereira

Guardá-la em meus braços

Braço,
abraço dado
abraçado.
Embaraço, embaraçado
no desenlaço
do laço dado.

Atado,
Tencionado.
Nó atado
em cabos de aço.

É pesado,
desatá-los,
desembaraçá-los.
Deslizar o ato amarrado.

Os primeiros movimentos
afastar-se daquele momento.
Desencostar a face
e encarar-se.

Enlaço do olhar
olhar que dirá.
Se outros e outros
braços
vão se entrelaçar.

Adalberto Pereira

Marina

Como esta? Nossa quanto tempo! É, eu sei, me afastei. Típico, aposto que estava com outra pessoa. De fato sumi, acredito que isso não seja um problema para nós. Não, nunca foi. Poderia convidá-la para tomar um chopp. Como assim poderia? Poderia, pois seria delicioso conversar com você, mas estou explodindo de tesão e hoje só quero sexo. O que você quer que eu responda? Não responda, desligue o telefone, me xingue por alguns minutos, depois reconsidere a questão, comece a se dedar, de início com calma, e depois, fundo, até gozar, finalmente, me ligue de volta. Quero trepar com você, agora!

Vou buscá-la e ouço música alta e canto como um louco cantaria em um hospício, se os loucos ouvissem esse tipo de música em hospícios.

Beijo. Ela entra no carro e começa me chupar antes que eu possa colocar o cinto. Não andamos muito e chegamos ao motel. Ela é descendente de índios e italianos e possui a pele branca e macia. Seu cabelo preto e encaracolado me provoca, muito. Não comentarei os olhos, pois são impossíveis de serem descritos. Amendoados seria um adjetivo típico demais para olhos tão exóticos, uma saída fácil.

Eu a chupo por horas até seu gosto empreguinar minha boca. Meto, meto fundo, para compensar a primeira vez que saímos. Naquela dia, ela não trepou. Nem por isso deixou de me agradar. Naquele dia, a encoxei durante horas e gozei, no mínimo, quatro vezes. Desgraçada. Isso vai me atormetar o resto da vida. Me provocará sempre, ainda mais quanto encontrá-la. Sempre lembrarei daquele sorriso que dizia, você gozou, mas não esta saciado e comigo nunca estará.

Aposto que amanhã sua pele não estará macia. Desejo profundamente que amanhã sua pele não esteja macia. Espero que o seu perfume tenha sumido e sobre apenas o cheiro de sexo, de porra. Amanhã, ela se tornará um pão amanhecido sem manteiga, ou azeite. Tomará. Se não eu enloqueço e nunca mais cantarei alto.

Orfeu Bandeira

Eliseo

Não consigo sentir nada.
Trabalho por inércia
e porque é a única coisa que se importa apenas com resultados,
não importa se eu estou um lixo,
se morri após a entrega,
o importante é a papelada,
na mesa do chefe, até o fim da tarde.
Penso todo dia, vou ser demitido,
apesar disso ser absurdo,
mesmo com resultados pífios,
isto é absurdo.
Eu não ligo para nada,
nem para o nó da gravata que continua apertado,
e eu já estou de pijama...
Eu já fugi da família, do futebol
e de qualquer prazer.
Sexo, para mim?
Eu ainda não consigo definir,
se é por hábito, ou auto-afirmação,
só sei que não é mais por tesão.

Adalberto Pereira

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Prostituta

Castidade.

Ninguém tem noção da desgraça.
Todos sofrem.

A casta por não saciar seu companheiro,
o companheiro pela frustração do prazer.
e a puta por aturar essa porra toda no meio das pernas.

Adalberto Pereira

Ir e vir

........................Quanto tempo
........................indo
................e
vindo,

.......................indo
...............e
vindo.
Quanto?

Não que o tempo em si seja importante,
mas me questionei,
quanto tempo?

.......................Indo
..............e
vindo

......................indo
.............e
vindo.

O homem já chegou.
E, isto não é um benefício.
Aliás, que prejuízo!

....................Indo,
....................indo,
vindo,
vindo,
....................indo,
....................indo,
vindo,
vindo.

Ai, a pressa de chegar.
O fim, o objetivo.
Esqueçam chegar!
Nunca parem de...

..................Ir
...........e
vir.

Adalberto Pereira

Sons distantes

Enquanto tomava banho escutava sons distantes. Sons que pareciam um comício. Pelo o que os jornais dizem, devia ser um comício. Caso essa manifestação de trabalhadores acontecesse há dois anos atrás, com certeza, boa parte das exigências seriam atendidas, não que isso signifique alguma coisa, são apenas esmolas. Hoje, esses trabalhadores já não devem ter nada a perder e pouco vão conseguir com esse comício. Os tempos mudam. O mundo continua o mesmo.

Adalberto Pereira

Me so-corra

Olhos abertos, uma sensação estranha em meu suvaco. Algo aspero e húmido movimenta-se embaixo do meu braço. Meu gato, de maneira estranha, tenta me agradar. Pisco, pisco e me esforço para abrir os olhos. Percebo que no outro lado, em meu peito, uma pequena baba escorre, minha namorada. Consigo me desvencilhar sem acordá-la. Me preparo, chuvoso. Saio com as mãos no bolso e ando por um caminho um pouco diferente até a igreja. Na esquina, um senhor passa por mim e me faz lembrar a razão de eu estar ali acordado, tão cedo. Que bosta! Parto. Enquanto isso, cada uma dessas palavras pulam de uma lado para o outro. Corro para escrevê-lo e me apresso para transcrevê-lo. Talvez ele não sobreviva até o trabalho. Não, minha memória é boa, apesar dos acidentes, é mais provável que ele não sobreviva ao trabalho. Esta, esta pronta. Sem acento diferencial.

Adalberto Pereira

Miles

Um delicioso motor de fusca ronrona em minha cama.

Adalberto Pereira

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Político bom é político morto

Nas escolas, nas ruas, campos, construções, está na boca do povo. Que absurdo! Absurdo pela frase absurda? Não, absurdo pela frase absurda estar na boca do povo.


No período pós-ditadura, a primeira sensação de democracia real que experimentamos foi após a eleição do FHC. Mudanças viriam, era um partido de esquerda assumindo um país pós ditadura e Collor. E tudo parecia mesmo uma maravilha. A classe média visitou a Europa e os EUA como nunca. No fim, pareceu tudo uma ilusão. Ilusão que veio seguida de um sonho, uma esperança que, finalmente, vencera o medo.


Aconteceu o pior. Aqueles que colocavam medo por pregarem revoluções no passado, eram mais do mesmo, envolvidos num escândalo de corrupção até hoje sem grandes explicações. Por que não há explicação? Porque os que se diziam amedrontados, e até fizeram força para derrubar o governo, estavam atolados até o pescoço com a merda da corrupção. Foi só isso ser citado que... Mensalão?


Político bom é político morto.


Vivemos atualmente um período em que o presidente da República, figura especial, diferenciada, tem um respaldo populacional praticamente unânime. Segundo pesquisa CNT/Sensus, divulgada no último dia 3, Lula tem avaliação positiva de 84% dos brasileiros. Apenas 12,2% não gostam do líder nordestino / trabalhador / ignorante / sindicalista / corintiano / barbudo / cachaceiro. Deve ser gente que não se identifica com nenhuma dessas características. No Brasil, são poucos mesmo.


Lula, figura especial, diferenciada, é um caso à parte no país dos “coroné”. O Congresso Nacional está cheio de gente que a gente, e a nossa gente, nem mesmo sabe o nome. Nem sabe o que fazem lá, em Brasília, capital afastada minimamente mil quilômetros das principais cidades do país. Não é surpresa, então, um Sarney ou um Temer pela 3ª vez nas presidências do Senado e da Câmara.


Político bom é político morto.


Ontem, na Folha de S. Paulo, Janio de Freitas lembra que antes do Golpe de 64, a imprensa fazia a cobertura das sessões diárias (!!!) nas casas legislativas. Acho que esse tipo de coisa não vende jornal, não gera audiência. Quem quer ver esses caras na TV, na hora do jantar, depois de um dia cansativo de trabalho? Ou perder tempo lendo sobre esses Magalhães, Calheiros, Canalhas...


Político bom é político morto.



Chocam, e nos fazem querer acompanhar, pelo absurdo, histórias como a do deputado Edmar Moreira, do DEM/MG. O cara é tão cara de pau que declara R$ 17,5 mil, e coloca à venda um Castelo (veja bem, um castelo!) de R$ 25 milhões.



Ou então o caso do ex-governador mineiro, Newton Cardoso, do PMDB, que não quis dividir uma fortuna estimada em até 3 bilhões de reais com a esposa, e Deputada Federal, Maria Lucia Cardoso, também do PMDB. Newtão declara um valor 200 vezes menor à Receita. Uma trepada num hotel de luxo, em Londres, com direito a morangos e champagne (pelo menos no nosso imaginário) para a suposta amante. A esposa cansou de ser traída. Se fosse no Ibis, em BH...


Pena capital aos corruptos, aos corruptos!


Afinal, político bom é político morto.


João Santos

prólogo

Teoria cognitiva do prazer a partir da intercomunicabilidade da palavra falha

Tesão pela palavra
escrita, excita
falada, fálica.
Palavra falha.

Excitado.
Eu falo
Eu falho
Eu fálico.

Penetração profunda
no permeio
do falo
Eu falo
Eu fálico.

Adalberto Pereira

Pena capital aos corruptos, aos corruptos

Acredito que o combate à corrupção pode ser construído de forma mais democrática, com maior participação social. Nesse sentido, sugiro a criação de uma corte de julgamento destinada exclusivamente para crimes políticos, criada com o fim específico de julgar casos de corrupção, tanto no caso de os protagonistas serem políticos eleitos, funcionários da administração direta ou indereta e os demais cidadãos.

Qualquer cidadão seria passível de julgamento, tendo em vista que a corrupção se tornou um problema grave, epidêmico, que assola, sem distinções, o país como um todo, muito além das casas políticas.

Os julgadores seriam eleitos por meio de votação, para que a corte fosse uma esfera de discussão política que possuiria o objetivo de julgar os casos com um viés muito menos técnico, e sem se preocupar tanto com as formalidades jurídicas, mas voltado para a investivação dos fatos e definição de condutas inadequadas para a atuação política.

Os eleitos teriam o cargo pelo prazo de dois anos. A reeleição não seria permitida, em nenhuma hipótese. Após um mandato, o julgador teria que se afastar dessas atividades de forma definitiva.

A proibição à reeleição deve ser melhor explicada. Um dos maiores males e ofensas à democracia é a profissionalização da política. Os cargos devem ser ocupados por pessoas da sociedade que possuem representatividade perante determinado grupo social e com determinadas convicções políticas.

A carreira política segrega, de forma nefasta, o cidadão da política, e distancia o político da sociedade, pois a partir do momento que um ser humano inicia uma “carreira política”, este corre o sério risco e a profunda tentação de pensar mais em sua carreira do que em suas propostas.

Além disso, um político de carreira, deixa de oxigenar o corpo político com novas ideias e diferenças na forma de governar e debater os problemas da sociedade, que vão muito além dos interesses partidários. Apesar de a política atual tentar demonstrar o contrário.

Continuando a explanação sobre a formação da corte de julgamento, após breve divagação, apenas pessoas entre 25 e 75 anos poderiam ser eleitas, sendo que, de forma alguma, estas poderiam ter qualquer vínculo ou filiação aos partidos políticos existentes. Da mesma maneira, seria terminantemente proibido criar filiações ou partidos para disputar cargos na corte, que deveriam ser preechidos por indivíduos.

O voto nas seções da corte de julgamento seriam livres, abertos e fundamentados. O direito à livre convicção seria resguardado e o julgador poderia perder o cargo, caso fosse comprovado que este tenha participado de manipulação de resultados ou influenciado votos.

A condenação do réu corrupto dependeria de 3/5 dos votos de integrantes da corte e a pena máxima seria a pena capital. Sim, a pena capital. A gravidade do problema é tamanha que a pena capital seria adotada como medida de exceção para extirpar do seio desta pátria qualquer ranço do nepotismo, corrupção ou enriquecimento ilícito, que possam ter permanecido, de forma pegajosa, em decorrência dos rumos políticos tomados por este país até a instituição do regime democrático, incluindo todos os regimes ditatoriais, opressivos e unipessoais que este povo já foi capaz de instituir.

Alguns dos leitores devem estar se perguntando se as propostas mencionadas acima são apenas provocações. Não apenas. A provocação vai muito além de uma resposta aos casos de corrupção, os quais chegaram a tal ponto que a perplexidade nos provoca ideias absurdas, tipicamente humanas, similares às propostas que surgiram inúmeras vezes no decorrer da história desse país, principalmente durante estados de exceção e ditaduras.

Assino o presente texto com um nome fictício para evitar qualquer tipo de exposição ou perseguição. Sabemos que existem muitos corruptos e que boa parte deles pode se sentir ofendido com algumas ideias expostas aqui. Ideias que visam o debate democrático, não com relação à condenação sumária de corruptos, sem o respeito ao devido processo legal e a todos os princípios democráticos, mas um debate sobre a forma que o sistema político brasileiro deve ser reconstruído, pois o rumo tomado pela nossa democracia nos leva para um caminho sem volta, de um Estado cada vez mais distante da sociedade.

Adalberto Pereira

Provocados

Estão todos oficialmente provocados, excitados, bulinados e intimados. Esse espaço será utilizado para que as nossas ideias comecem a ganhar corpo e força. Espero que cada um provoque de forma vil e lasciva o outro, para que a membrana do senso comum descole de nossas retinas.