terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Classe média

Cruijff e a catalunha



Hoje, Cruijff comandará a seleção da catalunha em um amistoso contra a Argentina.

Ele voltou a atuar como técnico após treze anos. Em 1996, Cruijff deixou o comando do Barcelona e havia se aposentado.

Três dias. No sábado passado, o Barcelona enfrentou o Estudiantes e se tornou campeão do Mundial da FIFA pela primeira vez, feito que Cruijff não conseguiu atingir como técnico.

Percebam que o fato de o Barcelona ter demorado tanto tempo para conquistar o título mundial tem relação muito maior com a ditadura franquista do que com as derrotas para o São Paulo e Inter. Ou seja, o Barcelona deveria ter chegado em mais mundiais se não fosse o Estado ditatorial de Franco.

O Barcelona é uma aula de história espanhola. Di Stéfano, o craque argentino, maior que Maradona, ganhou 5 Copas dos Campeões pelo Real de 56-60, e um Torneio Intercontinental em 1960.

Di Stéfano era jogador contratado pelo Barcelona em 1956, chegou a jogar três amistosos, quando a ditadura de Franco resolveu utilizar o Real Madrid como vitrine de seu Estado e determinou que o jogador participaria de uma temporada em cada time. O Barça se recusou e o Di Stéfano ganhou tudo pelo Real.

Desde a criação até 1956, o Barcelona sempre foi um time vitorioso. Após o início da influência franquista no futebol, e no Real Madrid, o Barcelona amargou anos sem títulos expressivos, mesmo quando Cruijff e Neeskens jogaram pelo time catalão no auge da laranja mecânica.

Os títulos voltaram, de forma expressiva, justamente, quando Cruijff assumiu o comando do time em 1988.

Torcer ou jogar pelo Real é um ato, até hoje, inconveniente.

Adalberto

domingo, 20 de dezembro de 2009

A base do Barça, deu na Folha


A Folha fez acompanhamento primoroso do título do Barça.

Os artigos são de Juca, sobre Pedro e Messi, meninos de 22 anos, e Tostão, sobre Xavi e o futebol arte que não poderia se perder pela mãos de técnicos burocratas.

As reportagens são assinadas por Rodrigo Bueno e pela reportagem local. Em ambos os textos, destaques para a formação de um dos maiores times do Barcelona, e olha que o Barcelona já montou esquadras memoráveis.

Eu não sabia, mas oito dos onze titulares do Barça na final são jogadores que cresceram, literalmente, nas categorias de base do Barcelona. Respiram o Barça há muito tempo. São meninos como Pedro e Messi que se identificam, ainda, com a camisa do time catalão.

A lista de jogadores criados na base é ainda maior e inclui Iniesta, que não foi titular da final, pois estava contundido. Jefrén, que entrou no segundo tempo do jogo, também surgiu na base. Dos titulares, apenas Henry Ibrahimovic e Daniel Alves não vieram da base do time catalão.

Números que impressionam em um time que ousa jogar o futebol arte. Apesar de mera coincidência, o time que usualmente tem entre 60% e 70% da posse de bola, não importando o adversário, ontem possuía em campo 72% do time titular como pratas da casa.

Messi e Pedro, meninos de 22 anos, marcaram os gols do título. Pratas da casa. Messi será eleito o melhor do mundo, enquanto Pedro teve a honra de marcar gols em todos os seis torneios conquistados pelo Barça esse ano: Mundial, Copa dos Campeões, Espanhol, Copa do Rei, Supercopa da Europa e Supercopa da Espanha.

Outro jogador formado nas categorias de base é o técnico Guardiola, catalão, que chegou ao Barça com apenas 13 anos de idade.

Guardiola, por sua vez, já enfatizou a influência de Cruijff no incentivo e fortalecimento das categorias de base com a implementação da filosofia do futebol holandês:

"os jogadores têm de pensar rápido e jogar com inteligência, sempre sabendo qual será o próximo passe (...). É assim que aprendemos a jogar e que o público espera que joguemos: de forma atraente, mas sem perder a eficiência (...). Cruijff (...) nos ensinou a jogar movimentando a bola rapidamente. Ele só usava jogadores de grande técnica. Quando procuramos por jogadores, ainda queremos essas qualidades".

Futebol holândes que comandou o Barça em 16 dos últimos 21 anos (Joah Cruijff, 1988 - 96, Louis Van Gaal, 1997 - 00 e Frank Rijakaard, 2003 - 08).

Ou seja, em 76% do tempo, nos últimos 21 anos, o Barcelona foi comandado por um técnico holandês, sendo que as categorias de base do time sofreram forte influência de Cruijff.

Isso sem falar nos jogadores holandeses que passaram pelo Barça: Kluivert, Marc Overmars, Frank de Boer, Ronald de Boer, Phillip Cocu, Koeman, Neeskeens e Cruijff.

Logo, direto da base e com forte influência do futebol catalão e holandês, o Barça conquistou o mundo.

Ps. Verón perdeu o título que seu pai conquistou em 1968. Histórias que só o futebol contam.

Adalberto

sábado, 19 de dezembro de 2009

Finalmente, o Mundo é do Barça



O Barcelona já havia tentado em duas outras oportunidades. Foi atropelado pelo São Paulo em 1992. Com dois gols de Rai, um de falta e outro de barriga meio de peito.

Em 2006, o Ronaldinho Gaúcho tentou dar o título para o time catalão, mas o Inter jogou bravamente, assim como o Estudiantes hoje, e levou o caneco por um gol de Adriando Gabiru.

Nesse ano, o Estudiantes, que já foi campeão em 1968, assustou. Fizeram o primeiro gol. Boa parte do jogo o time catalão encontrou-se atônito frente ao número de gols perdidos por seus atacantes.

Henry, Ibrahimovic, Xavi e Pedro, autor do primeiro gol, comeram a bola. Messi pouco fez até a metade do segundo tempo da prorrogação, talvez por causa da contusão.

Mesmo assim, Messi fez o gol do primeiro título do Barcelona. Um gol de craque no segundo tempo da prorrogação. Um gol de peito, assim como o do Rai. Não dá para dizer que foi pouco. Por causa desse gol, e do que fez contra o Atlante, levou a bola de ouro do torneio.

Um absurdo esse ser o primeiro título do Barça!

Um time que ainda ousa jogar com a bola no chão. Um time que ainda ousa jogar com três atacantes, em um futebol total de muita marcação pressão. Um time que faz poucas faltas e gira muito o jogo.

Ou seja, não de hoje, o Barcelona tem o futebol mais vistoso do mundo. Além disso, com a sua camisa grandes jogadores se consagraram como melhores do mundo.

Rivaldo, Ronaldo, Romário, Ronadinho Gaúcho, o Stoichkov poderia ter sido eleito o melhor em 1994, por ter sido artilheiro da Copa, se não fosse um cara chamado Romário, e esse ano o Messi deve ganhar o título de melhor jogador do ano.

Além disse muitos outros passaram por lá como Johann Cruijff, Guardiola, Haji, Laudrup, Koeman e outros.

Uma cidade que fervilha e já formou times espetaculares como o Barcelona comandado pelo Johann Cruijff, que além de jogador, foi técnico entre 1988 e 1996.

Esse holandês tem extrema identidade com o time catalão. Esse holandês que assumiu que eles perderam para os melhores em 1992. Esse holandês que falou que o Romário era o melhor atacante dos últimos anos em 1994.

O Barcelona joga o futebol holandês de Cruijff, que foi técnico por tanto tempo do time. Um futebol total. De muita posse de bola e troca de passes. Até parece o São Paulo do Telê. Cruijff que se recusou a defender o Real Madrid, pois nunca poderia jogar pelo time do ditador Franco.

Um time que não tem patrocinadores. Aliás, a Unicef que pediu para expor seu logo na camisa. Um time que vive dos e para seus torcedores. Um time que representa toda a identidade catalã, enquanto o Real Madrid representa a ditadura de Franco.

Um time cujo atual técnico, estreante e ex-jogador do Barcelona, ganhou tudo que podia: Mundial, Copa dos Campeões, Espanhol, Copa do Rei, Supercopa Europa e Supercopa da Espanha.

Guardiola mostra que um técnico é importantíssimo para buscar a identidade de um time. Ele nada fez. Apenas fez o Barça jogar como o Barça, e isso já é muito.

Lembremos que nem Cruijff, com seu Dream Team, conseguiu ganhar o Mundial da FIFA, esbarrou no São Paulo.

Força Barça!

Adalberto

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Nobre Eliseo


Seja bem-vindo de volta. Quero ouvir essas palavras provocadoras. Nos derrube com sua psicodelia.


Adalberto

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Berlusconi

Berlusconi agredido. Eu estou pouco me fudendo com o Berlusconi e não gosto de agressão. Além disso, para mim pouco importa se o cara que o agrediu tinha problemas mentais.

A única coisa importante nessa história é que ele deve ter merecido, suponho. Assim como alguns no Brasil mereciam.

E pensar que o Covas levou uma ovada....enquanto Sarneys andam por ai....

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Berlusconi é agredido e sofre fratura e corte no rosto

Silvio Berlusconi foi agredido por um homem com problemas mentais neste domingo (13), durante um comício em Milão, e acabou internado em um hospital com cortes na boca, dentes quebrados e fratura no nariz. O chefe de governo italiano, de 73 anos, sofreu "contusões importantes no rosto, com cortes interno e externo no lábio superior, quebrou dois dentes" e também apresenta uma pequena fratura no nariz, revelou a direção do hospital San Raffaele.

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=berlusconi-e-agredido-e-sofre-fratura-e-corte-no-rosto-0402356ECCC933C6/user=83gdkphqromr/date=2009-12-14&&list/type=tags/tags=15353/edFilter=all/

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ele é o cara?

O STF decidiu manter a censura no jornal Estado de S. Paulo para que este não publique dados sobre a operação da Justiça Federal que investiga o filho do Sarney.

Os Ministros que tomaram essa decisão foram em sua maioria escolhidos pelo Lula, ou seu preferirem, seu governo, para ocuparem a cadeira do STF.

Uma vez escolhidos, passam a cometer todo o tipo de atrocidade naqueles casos mais sensíveis aos interesses do Governo ou de determinados políticos ou empresários, como o Sr. Daniel Dantas.

Enfim, não preciso divagar muito para concluir que o STF está na lata do lixo.

Assim como o congresso. E o Lula, ou o seu governo, como preferirem, não está alheio a essa situação, pois participou ativamente na composição de uma base governista escrota, capitaneada pelo pai do ilustre que figura como ator principal no imbrólio acerca da censura ao jornal Estado.

Quem pensa que o Lula é o cara, cai na besteira de lhe creditar tudo que há de bom nesse país e deixa de imputar as falhas de governo por considerar que essas são práticas ou realidades imutáveis do Brasil.

Ou seja, com relação aos aspectos positivos de seu governo ele teve autonomia para mudar a história. Com relação aos aspectos negativos (ligados a questões políticas), bom, ai ele nunca tem culpa ou não sabe de nada....

Lamentável.

Adalberto
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Editorial da Folha


Censura rediviva

Ao manter veto contra "O Estado de S. Paulo", o Supremo desconsidera a liberdade de expressão e o direito à informação

CAUSA PROFUNDA perplexidade a decisão do Supremo Tribunal Federal, mantendo a censura que há 134 dias se abate sobre o jornal "O Estado de S. Paulo".
Prendendo-se a pormenores processuais, o Supremo perdeu a oportunidade de reiterar o princípio básico da liberdade de expressão, recentemente reafirmado no acórdão que aboliu a Lei de Imprensa no país. Não haveria, no entender da maioria dos ministros, relação direta entre a extinção da Lei de Imprensa e as decisões censórias do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, contra as quais o jornal se insurgia.
Com isso, o Supremo falhou na sua atribuição básica -a de ser guardião do texto constitucional. Na Carta de 1988, está plenamente estabelecido o princípio da liberdade de expressão. Trata-se de uma prerrogativa que não contempla exceções nem meios termos. Ou existe censura no país -e foi isso o que se decidiu no STF-, ou não existe.
A plena liberdade de imprensa não equivale, cumpre ressaltar, à irresponsabilidade e à impunidade dos órgãos de comunicação. Preveem-se sanções legais a todo procedimento que implique invasão descabida da privacidade, calúnia, injúria ou difamação.
Há uma diferença essencial, por isso mesmo, entre censura prévia e punição aos delitos de imprensa. A censura pressupõe prejulgamento: determinada instância do Estado se considera autorizada a decidir aquilo que os cidadãos podem escrever, dizer, ler ou ouvir. Impõe-se a tutela sobre o conjunto da sociedade, e não mais a correção de ilegalidades eventualmente cometidas.
Foi este, lamentavelmente, o espírito que prevaleceu no STF. Pode-se considerar, sem dúvida, que um empresário às voltas com investigações da PF tenha interesse em se ver preservado das manchetes de jornal. Cabem-lhe, neste caso, os recursos previstos na legislação. Em nenhuma hipótese, contudo, uma situação desse tipo permite anular um preceito constitucional.
A Constituição foi, na prática, considerada letra morta pela maioria dos ministros do STF. Para o presidente do tribunal, ministro Gilmar Mendes, a Justiça tem o poder de impedir a publicação de reportagens que possam ferir os direitos de alguém à privacidade ou a honra pessoal. Mas o nome de providências desse gênero é, queira-se ou não, o de censura prévia.
Numa acrobacia conceitual próxima do "nonsense", o ministro Eros Grau discorreu sobre a diferença entre o "censor", que não estaria limitado por nenhuma lei, e o órgão judicial que a aplica: "Aí não há censura. Há aplicação da lei".
Está aberto, portanto, o caminho para qualquer censura, travestida em "aplicação da lei" -e um princípio básico da democracia se vê violentado pelos humores, pela subjetividade e pelo arbítrio de magistrados. Por mais respeitáveis que sejam suas decisões, não podem colocar-se acima da Constituição -e foi isso o que se viu, numa decisão desastrosa, na última quinta-feira.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Roosevelt - provocador

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Tiros na Roosevelt

SÃO PAULO - Por obra de uma inusitada e persistente ocupação de grupos teatrais, a praça Roosevelt, no centro da cidade, se converteu num lugar de rara vitalidade artística. Existem hoje ali, vizinhos da prostituição, rodeados pelo tráfico e misturados aos moradores de rua, mais de 30 grupos, apresentando-se, em variados horários, em sete salas de teatro, onde há bares contíguos, além de uma livraria.
É uma experiência coletiva que desafia o processo de degradação do centro. E está na contramão do teatrão empresarial, das salas protegidas dos shopping centers, das casas de espetáculos com nome de banco -da gestão mercadista da cultura que visa reduzi-la a uma espécie de academia de ginástica para a alma.
À margem de tempos tão caretas, a Roosevelt se tornou um espaço de convívio boêmio, um caldeirão cultural com inegável vocação democrática. O assalto do sábado, no qual o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado -e felizmente se recupera bem-, inflamou debates e polêmicas sobre a vida e o futuro da praça.
Estigmatizar o local seria o maior equívoco. Mas há também o risco oposto. Sim, é o caso de exigir do Estado melhores condições de segurança, mas não mais do que para o resto da cidade. Revitalizar o espaço sem excluir socialmente não é o difícil desafio que desde o início anima os que ali se instalaram?
Ninguém deve morrer baleado -na Roosevelt ou em outra parte-, mas a relevância do que se passa lá depende da sua conexão com a sujeira das ruas, da sua capacidade de dramatizar a cidade conflagrada.
Que se pense, por exemplo, na Sala São Paulo, a casa da Osesp, orgulho paulistano. Ela fica no coração da cracolândia. Na geografia mental da burguesia que a frequenta, o templo da música não se localiza no centro, mas numa imaginária estação final, à qual se chega de carro, de preferência blindado, e de onde se sai logo depois de saciar o espírito, sem arriscar contato com o entorno. Quem seria louco de passear na região da futura Nova Luz? Há exemplo mais cabal de apartheid social -ou de cidade conflagrada?

kassab e a chuva

Editorial da Folha

Kassab e a chuva

OUTRAS SEIS pessoas morreram ontem na região metropolitana de São Paulo, vítimas da tempestade que chegou durante a madrugada. Entre a meia-noite e 7h foi registrada a maior precipitação pluviométrica na capital, em um único dia, desde 2006. Em todo o Estado, já ocorreram pelo menos 22 mortes relacionadas às chuvas nas últimas duas semanas, a maioria por deslizamentos de terra.
Tão constantes quanto a chuva, nos últimos dias, têm sido as declarações do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de que a Prefeitura de São Paulo está preparada para as cheias, de que há monitoramento frequente das áreas de risco e limpeza eficiente de bueiros. Seu governo afirma que transtornos e mortes são o resultado do volume muito grande de chuva, incomum mesmo nesta época do ano.
Entretanto, como a Folha mostrou no sábado, a Prefeitura de São Paulo não dispõe de um plano para a prevenção de enchentes e a mitigação de seus efeitos, obrigatório por lei federal desde 2006. O mapeamento das áreas de risco, providência crucial para evitar mortes, foi interrompido em 2003 e retomado apenas no segundo semestre deste ano. Além disso, a prefeitura dá sinais de que o problema não lhe parece prioritário.
Um indício é o projeto de Orçamento para o ano que vem, aprovado em primeira votação ontem na Câmara. Com a previsão de receitas recordes -vindas, por exemplo, do aumento do IPTU-, o prefeito planeja dedicar R$ 25 milhões para obras e gerenciamento de áreas de risco. A cifra representa uma quinta parte dos gastos com publicidade planejados para o ano eleitoral de 2010 (R$ 126 milhões).
O documento é um novo exemplo da má qualidade de muitas despesas da prefeitura. O governo conseguiu bater recordes não só no aumento de verbas de propaganda -quadruplicadas desde 2006-, mas também na criação de secretarias para acomodar aliados. Foram nove, desde que o político do DEM assumiu o posto. A pasta mais recente, do Microempreendedor Individual, nasceu há duas semanas.
Além de elevar a já escorchante carga tributária dos paulistanos, Kassab usa parte dos recursos adicionais para alimentar a máquina político-burocrática da prefeitura. A principal estrela do DEM pratica tudo o que seu partido condena no governo federal.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Lição em vermelho e preto


A fila do Flamengo no Campeonato Brasileiro quase atingiu a maioridade. Foram longos 17 anos de espera, contentando-se com Campeonatos Cariocas e Copas do Brasil. Alguns dirão que valeu a pena, que o tempo de espera deu mais sabor à conquista deste domingo. Balela. Um time do tamanho do Flamengo não pode ficar essa eternidade sem um título de real importância.

Segundo pesquisa Datafolha publicada em janeiro de 2008, 17% dos brasileiros se proclama flamenguista (para efeito comparativo, 12% se diz corintiano e 8% são-paulino, para ficar nas três maiores). Isso quer dizer que 32,8 milhões torcem para o Flamengo. Por isso "a maior torcida do mundo" -- a maioria dos países não tem 30 milhões de habitantes.

Como escreveram no anel superior do Maracanã, "a maior torcida do mundo faz a diferença". E não só nas arquibancadas. Dentro de campo, um jogador que saiu cedo para a Europa, onde ganhou apelido de Imperador, chegou à seleção, mas não suportou ficar longe dos amigos da favela e das praias da zona sul, tem o coração rubro-negro -- desde criançinha. Outro, que fala português com sotaque sérvio, jogava no Marakana, em seu país, e sonhava em, um dia, brilhar no "maior do mundo". Não imaginava que poderia se tornar ídolo da "maior do mundo", da qual hoje ele também faz parte. E o que dizer do homem que participou de cinco, das seis conquistas rubro-negras? Uma delas como treinador, o que o torna o primeiro técnico negro campeão brasileiro na era dos campeonatos com chancela da confederação.

Não poderia ser outro time a dar um tapa na cara dos céticos do futebol. Quem foi que disse que campeonato por pontos corridos só ganha quem tem organização? Organização e planejamento significa resultados regulares. Ou alguém ousaria dizer que o planejamento do São Paulo, maior clube do Brasil, fracassou este ano? Só porque não ganhou nada?

Quando Muricy Ramalho foi demitido do São Paulo, depois de mais uma eliminação na Libertadores, outra vez para um time brasileiro (apesar de ter ganho os três últimos campeonatos nacionais), escrevi aqui que a diretoria do São Paulo havia cometido um erro, mas que entendia o motivo da demissão -- era um erro coerente. A mentalidade do brasileiro ainda é essa: supervalorização de técnico de futebol. Pagam milhões a eles, e os elevam a heróis. Mas são sempre os principais vilões, e os primeiros a terem a cabeça guilhotinada.

Alguns meses depois está provado que a organização e o planejamento do São Paulo continuam intactos. Será a sétima Libertadores seguida. Para se ter uma noção, o Corinthians vai disputar o principal torneio do futebol sul-americano pela oitava vez na história. O Ricardo Gomes, figura interessante, foi mero coadjuvante. Diz-se que mudou o jeito do time jogar, bola no chão, buscando o ataque. Balela, outra vez. A diferença é ínfima, e a principal delas é que, com Ricardo Gomes, o "campeão" se tornou menos, pra não dizer quase nada, letal. Pelo menos foi "rebaixado" ao nível dos mortais outra vez. E junto com ele, o futebol paulista.

O Flamengo encerra uma sequência de cinco anos de títulos de clubes de São Paulo (mesmo que o de 2005 seja eternamente o campeonato dos asteríscos). E o vice do Inter acaba com uma hegemonia que já incomodava: foram 17 anos seguidos de paulistas em 1º ou 2º lugar no Brasileirão -- quando não ocupavam as duas posições. Nenhum demérito para São Paulo, pelo contrário. Só explica o motivo de o torcedor do Santa Cruz colocar 50 mil pessoas no Arruda, em plena terceira divisão. E pior, chorar porque o time caiu para a quarta.

O futebol é movido à paixão, tamanha a imprevisibilidade. E o Flamengo é movido pela paixão contagiante de sua torcida. Torcida esta que se encanta por um tal Fio, o maravilha. Ou entoa, a plenos pulmões, que Obina é melhor que o Eto'o. E quando menos se espera, lá estão eles gritando 'campeão' outra vez.

Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ÔÔÔÔ, Mengão do meu coração!
João Santos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Enforquem o sistema eleitoral! Mais uma do bigode


Nosso maior provocador está de volta. Sim. Ele. Sarney. Mais poético. Com texto conciso, cheio de citações históricas, que ele adora. Ele continua no Senado, no Governo, na Folha (como?). E o movimento fora Sarney está aonde?


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JOSÉ SARNEY

A pandemia da corrupção


NA HISTÓRIA da humanidade e da civilização, jamais foi encontrado antídoto algum contra a corrupção. Já o Código de Hamurabi, que data de 1700 a.C., durante muito tempo considerado o primeiro código legal da humanidade, fala em punição de governantes corruptos.
Cícero e Catão construíram suas histórias políticas martelando contra ela, e em todos os parlamentos existem grupos ou pessoas que fazem sua carreira defendendo a pureza das instituições a que pertencem ou atacando a dignidade de seus colegas.
As ideias políticas do mundo ocidental incorporaram o combate à corrupção e, mais do que isso, a acusação aos adversários de corruptos como chaves da atividade política.
Adriano Moreira, um grande mestre da ciência política em Portugal, anota com agudeza que o discurso de Péricles aos mortos da Guerra do Peloponeso já inclui as duas coisas: primeiro, a condenação da corrupção; depois, a acusação do adversário de corrupto quando fala do roubo de ouro das estátuas de Fídias, a quem defende.
Ultimamente, os escândalos de corrupção têm marcado a vida pública brasileira. São episódios vergonhosos, que denigrem cada vez mais os políticos. Se a corrupção é um câncer para a sociedade, muito mais quando se trata da corrupção política, definida como "o uso ilegal do poder político e financeiro com objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para indivíduos ou grupos".
Muitas leis, barreiras, ameaças, punições têm tentado evitá-las. Nossa primeira lei contra a corrupção de colarinho branco foi feita por mim (lei 7.492/86). É de minha autoria a lei que determina a declaração de bens de candidatos a cargos públicos.
Mas nada disso pode deter a doença que ataca a classe política. Nabuco, no discurso em que defende João Alfredo -o presidente do Conselho que fez a Lei Áurea-, dizia o quanto ela era uma constante da nossa história e citava casos, como o das concessões para loterias, engenhos centrais e outras. Mas, comparadas com as de hoje, são quase que pecadilhos angelicais.
O que ocorre no país neste instante é inclassificável. É trágico, deprimente, inconcebível, sob todos os ângulos. Mas acredito que o grande responsável por tudo isso esteja passando incólume.
É o nosso sistema eleitoral. O voto uninominal proporcional, que destrói a democracia, os partidos, a vida pública e a própria classe política. Para a eleição, os ideais, os programas e os princípios de nada servem. Só o dinheiro necessário para a vitória. E o país pensa que enforcar os corruptos resolve tudo. Quem deve ser enforcado é o sistema eleitoral. Sem isso, de nada adianta punir ou envergonhar-se.

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.