terça-feira, 30 de junho de 2009

Crise

Governo diminuíu juros e mantém benefícios fiscais para diversos setores (i.e., IPI incidente sobre bens de capital, automóveis, linha branca e outros e PIS/COFINS sobre motos).

E vejam, as manchetes nem precisariam me dizer isso, pois quando sai de casa havia um caminhão estacionado no prédio ao lado do meu que descarregava uma geladeira e uma máquina de lavar.

Com isso, alguns setores foram privilegiados por benefícios fiscais no momento da crise, além dos setores mencionados acima, a construção civil é outro campo que recebeu forte incentivos nos últimos anos.

A crise afetou o país como um todo. Caso os benefícios concedidos se prolonguem muito no tempo teremos um problema de ineficiência na economia. Alguns setores vão lucrar enquanto outros vão sofrer as consequências da crise. Me questiono o fator de discrímen para adoção de normas indutoras tributárias e imposição de benefícios para os setores mencionados acima. Não podemos esquecer que o princípio da igualdade, associado ao princípio da capacidade contributiva, é preceito básico da constituição.

Não consigo identificar nenhum motivo de discrímen, além das eleições presidenciais do ano que vem. Triste.

Além disso, o governo aumentou muito gastos correntes, nos útlimos anos, inchando a máquina estatal e fazendo poucos investimentos com recursos públicos. Agora, na crise, os níveis de despesas e investimentos estão acima do nível de receita arrecadada, tanto por causa das renúncias fiscais (os benefícios fiscais mencionados acima), como também por causa do desaquecimento da economia.

Com isso, o governo tem pouco campo para manobra e joga suas fixas em setores tradicionais que geram empregos. Os outros setores terão que sofrer as consequências da crise.

Da mesma forma que o governo FHC segurou a paridade do dólar para ganhar as eleições contra o Lula e se eleger em 98, o atual governo, vai segurar esses benefícios fiscais, mesmo se ocasionarem déficits nas contas públicas, buscando a eleição da Dilma. Os desequilíbrios na economia que essas renúncias fiscais geram, se os valores estão sendo efetivamente repassados aos consumidores finais ou se esses benefícios fiscais são eficientes na busca de uma melhoria nas condições dos setores beneficiados, pouco importa.

Triste assistir erros serem cometidos da mesma forma.

E não pensem que o Sr. Serra age de forma diferente. Instituíu uma série de substituições tributários para produtos que não poderiam estar sujeito a esse tipo de presunção de base cálculo, apenas com vistas na arrecadação do ICMS.

Nesse ponto, o Sr. Serra, vampirão, chegou a instituir substituições tributárias inconstitucionais, por definir errado a base de cálculo do imposto, o substituto tributário ou os produtos sujeitos ao sistema de presunção da substituição tributária, por terem uma oscilação de preços muito grande.

Além disso, o Sr. Serra acirrou a guerra fiscal com outros estados. Mas as atitudes do Sr. Serra serão analisadas com minúcia, em breve, após um levantamento extenso de sua política fiscal.

Por essas e outras, a campanha eleitoral do ano que vem começa na lama, não só por causa da crise financeira.

Adalberto

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vergão avermelhado, tapa

Após mais uma festa familiar, agradável. Mais uma homenagem à Vó e seus 92 anos. Sarrista, não confia em ninguém que não beba cerveja ou cachaça. No restaurante, pede caipirinha sem gelo, pois não gosta de ser enganada.

Agregados se eforçam para agradar e efetivamente criarem laços familiares, menos os mais velhos que já perceberam que não tem nada que ver com aquela família e suas comidas. Muitas comidas. Churrasqueiras acesas. Uma com frango e outra com a picanha. Começam a sair alguns provolones assados.

Sirvo as visitas, familiares e agregados. Um deles, mala, acabou de ser pai. Bruto e machista, já criou inúmeros atritos na família. Não faz muita questão de ser politicamente correto, prefere defender sua honra de macho, sempre.

Uma piada de mala justamente contra outro agregado, e este sem muita paciência e pouco preocupado com as conseqüências, acerta um tapa estalado na orelha do mala caipira. O tio gira no ar, desequilibrado. Ao ver a feição de todos não sabe como reagir, continua a preparar as carnes e decreta que havia avisado que tinha acordado irritado naquele dia.

Ninguém entende nada. O mala merecia, mas assim, por causa de uma piada tão infâme sobre a qualidade do churrasco. Bom, para males e para bem, a tensão está instalada.

Após verificar o vergão avermelhado no banheiro, o machinho, que não se sabe como ficou quieto até então, começa a estufar o peito e agride verbalmente. Pedidos tímidos de desculpas são ouvidos e a exaltação. Família.

Um tapa que cada um gostaria de dar, quando foge do controle, mas poucos, infelizmente, tem a coragem de quebrar as regras do convívio social. Poucos são sinceros.

Adalberto Pereira

Madoff

Recebi a notícia abaixo. Não posso parar de pensar que essa notícia é surreal em um país, onde processos duram décadas e as condenações contra crimes de colarinho branco são raras, escassas, causos, mitos.

Adalberto

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-- U.S. financier Bernard Madoff sentenced to 150 years in prison over multi-billion-dollar fraud scheme.

*Get more from CNN International*
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Burro, mas vitorioso

O Dunga não é técnico. Pior, é burro. Faz escalações bizarras, principalmente no meio campo.

Contudo, nas últimas sete partidas (duas das eliminatórias e cinco na Copa das Confederações) o Brasil mostrou uma cara, uma garra, que há tempos não se via.

No jogo decisivo, emocionante, contrariando a lógica, e sem fazer uma substituição, o Brasil começou a virar o jogo contra os EUA e conquistou o terceiro título do Brasil da Copa das Confederações. Nada demais, uma copinha. Diga-se de passagem uma copinha bem emocionante, por exemplo, nos seguintes jogos: Brasil X Egito, Espanha X África do Sul e Brasil X EUA.

Pode ser burro, mas enquanto ganhar pode continuar como técnico.

O time perdia e os EUA jogavam bem no contra-ataque. Entretanto, no intervalo o time se fortaleceu e buscou uma vitória épica. Tudo bem que foi contra os EUA, mas hoje em dia, o futebol é assim mesmo, muito competitivo.

Assim, contrariando a lógica, o Brasil pode até ser hexa, mesmo sendo apontado como um dos favoritos, pois o Dunga conseguiu impor sua cultura guerreira, representada, em campo, pelo capitâo Lúcio, o homem de neanderthal, o elo perdido.

O Brasil poderá conquistar não apenas o mundo, conquistará mais um continente, ficando perto de ganhar o jogo (WAR), faltando apenas a Oceania.

O Brasil ganhou as outras copas na: Suécia, Chile, México, EUA e Japão/Coréia. Se ganhar a África faltará apenas um continente para conquistar. Além disso, o primeiro hexa e, mais uma vez, fora de casa, como sempre.

Resta parabenizar o burro, que nunca mais volte a ser técnico da seleção, após a Copa, mas que até lá pode continuar a nos mostrar que na vida, assim como no futebol, a lógica nem sempre funciona.

Ps. Fica o protesto contra o Sarney da CBF, Ricardo Teixeira. Algum motivo especial? Não. E precisa? O de sempre....

Adalberto Pereira

Goffredo - Democracia Quântica

"Carta aos Brasileiros"

"Das Arcadas do Largo de São Francisco, do "Território ­Livre" da Academia de Direito de São Paulo, dirigimos, a todos os brasi­leiros esta Mensagem de Aniversário, que é a Proclamaçõo de Princípios de nossas convicções políticas.

"Na qualidade de herdeiros do patrimônio recebido de nossos maiores, ao ensejo do Sesquicentenário dos Cursos Jurídicos no Brasil, queremos dar o testemunho, para as gerações futuras, de que os ideais do Estado de Direito, apesar da conjuntura da hora presente, vivem e atuam, hoje como ontem, no espírito vigilante da nacionalidade.

"Queremos dizer, sobretudo aos moços, que nós aqui estamos e aqui permanecemos, decididos, como sempre, a lutar pelos Direi­tos Humanos, contra a opressão de todas as ditaduras.

"Nossa fidelidade de hoje aos princípios basilares da Democracia é a mesma que sempre existiu à sombra das Arcadas: fidelidade indefectível e operante, que escreveu as Páginas da Liberdade, na História do Brasil.

"Estamos certos de que esta Carta exprime o pensamento ­comum de nossa imensa e poderosa Família - da Família formada, durante um século e meio, na Academia do Largo de São Francisco, na Faculdade de Direito de Olinda e Recife, e nas ­outras grandes Faculdades de Direito do Brasil - Família indestrutível, espalhada por todos os rincões da Pátria, e da qual já saíram, na vigência de Constituições democráticas, dezessete Presidentes da República.

1. O Legal e o Legítimo

"Deixemos de lado o que não é essencial.

O que aqui diremos não tem a pretensão de constituir novidade. Para evitar interpretações errôneas, nem sequer nos vamos referir a certas conquistas sociais do mundo moderno. Deliberada­mente, nada mais diremos do que aquilo que, de uma ou outra maneira, vem sendo ensinado, ano após ano, nos cursos normais das Faculdades de Direito. E não transporemos os limites do ­campo científico de nossa competência.

"Partimos de uma distinção necessária. Distinguimos entre o legal e o legítimo.

Toda lei é legal, obviamente. Mas nem toda lei é legítima. Sustentamos que só é legítima a lei provinda de fonte legítima.

"Das leis, a fonte legítima primária é a comunidade a que as leis dizem respeito; é o Povo ao qual elas interessam - comunidade e Povo em cujo seio as idéias das leis germinam, como produtos naturais das exigências da vida.

"Os dados sociais, as contingências históricas da coletividade, as contradições entre o dever teórico e o comportamento efetivo, a média das aspirações e das repulsas populares, os anseios domi­nantes do Povo, tudo isto, em conjunto, é que constitui o manancial de onde brotam normas espontâneas de convivência, originais intentos de ordenação, às vezes usos e costumes, que irão inspirar a obra do legislador.

"Das forças mesológicas, dos fatores reais, imperantes na comu­nidade, é que emerge a alma dos mandamentos que o legislador, na forja parlamentar, modela em termos de leis legítimas.

"A fonte legítima secundária das leis é o próprio legislador, ou o conjunto dos legisladores de que se compõem os órgãos legislativos do Estado. Mas o legislador e os órgãos legislativos somente são fontes legítimas das leis enquanto forem representantes autorizados da comunidade, vozes oficiais do Povo, que é a fonte primária das leis.

"O único outorgante de poderes legislativos é o Povo. Somente o Povo tem competência para escolher seus representantes. Somente os Representantes do Povo são legisladores legítimos.

"A escolha legítima dos legisladores só se pode fazer pelos processos fixados pelo Povo em sua Lei Magna , por ele também elaborada, e que é a Constituição.

"Consideramos ilegítimas as leis não nascidas do seio da cole­tividade, não confeccionadas em conformidade com os processos prefixados pelos Representantes do Povo, mas baixadas de cima, como carga descida na ponta de um cabo.

"Afirmamos, portanto, que há uma ordem jurídica legítima e uma ordem jurídica ilegítima. A ordem imposta , vinda de cima para baixo, é ordem ilegítima . Ela é ilegítima porque, antes de mais nada, ilegítima é a sua origem. Somente é legítima a ordem que nasce , que tem raízes, que brota da própria vida, no seio do Povo.

"Imposta, a ordem é violência. Às vezes, em certos momentos de convulsão social, apresenta-se como remédio de urgência. Mas, em regra, é medicação que não pode ser usada por tempo dilatado, porque acaba acarretando males piores do que os causados pela doença.

2. A Ordem, o Poder e a Força

"Estamos convictos de que há um senso leviano e um senso grave da ordem.

"O senso leviano da ordem é o dos que se supõem imbuídos da ciência do bem e do mal, conhecedores predestinados do que deve e do que não deve ser feito, proprietários absolutos da verdade, ditadores soberanos do comportamento humano.

"O senso grave da ordem é o dos que abraçam os projetos resultantes do entrechoque livre das opiniões, das lutas fecundas entre idéias e tendências, nas quais nenhuma autoridade se sobrepõe às Leis e ao Direito.

"Ninguém se iluda. A ordem social justa não pode ser gerada pela pretensão de governantes prepotentes. A fonte genuína da ordem não é a Força, mas o Poder.

O Poder, a que nos referimos, não é o Poder da Força, mas um Poder de persuasão.

"Sustentamos que o Poder Legítimo é o que se funda naquele senso grave da ordem, naqueles projetos de organização social, nascidos do embate das convicções e que passam a preponderar na coletividade e a ser aceitos pela consciência comum do Povo, como os melhores.

"O Governo, com o senso grave da ordem, é um Governo cheio de Poder. Sua legitimidade reside no prestígio popular de quase todos os seus projetos. Sua autoridade se apóia no consenso da maioria.

Nisto é que está a razão da obediência voluntária do Povo aos Governos legítimos.

"Denunciamos como ilegítimo todo Governo fundado na ­Força. Legítimo somente o é o Governo que for órgão do Poder.

Ilegítimo é o Governo cheio de Força e vazio de Poder.

"A nós nos repugna a teoria de que o Poder não é mais do que a Força. Para nossa consciência jurídica, o Poder é produto do consenso popular e a Força um mero instrumento do Governo.

"Não negamos a utilidade de tal instrumento. Mas o que afirmamos é que a Força é somente útil na qualidade de meio , para assegurar o respeito pela ordem jurídica vigente e não para subvertê-la ou para impor reformas na Constituição.

"A Força é um meio de que se utiliza o Governo fiel aos projetos do Povo. Desgraçadamente, também a utiliza o Governo ­infiel. O Governo fiel a utiliza a serviço do Poder. O Governo infiel, a serviço do arbítrio.

Reconhecemos que o Chefe do Governo é o mais alto funcionário nos quadros administrativos da Nação. Mas negamos que ele seja o mais alto Poder de um País. Acima dele, reina o Poder de uma Idéia: reina o Poder das convicções que inspiram as

linhas mestras da Política nacional. Reina o senso grave da Ordem, que se acha definido na Constituição.

3. A Soberania da Constituição

"Proclamamos a soberania da Constituição.

Sustentamos que nenhum ato legislativo pode ser tido como lei superior à Constituição.

Uma lei só é válida se a sua elaboração obedeceu aos preceitos constitucionais, que regulam o processo legislativo. Ela só é válida se, em seu mérito, suas disposições não se opõem ao pensa­mento da Constituição.

"Aliás, uma lei inconstitucional é lei precária e efêmera, ­porque só é lei enquanto sua inconstitucionalidade não for declarada pelo Poder Judiciário. Ela não é propriamente lei, mas apenas uma camuflagem da lei. No conflito entre ela e a Constituição, o que cumpre, propriamente, não é fazer prevalecer a Constituição, mas é dar pela nulidade da lei inconstitucional. Embora não seja razoável considerá-la inexistente, uma vez que a lei existe como objeto do julgamento que a declara inconstitucional, ela não tem, em verdade, a dignidade de uma verdadeira lei.

"Queremos consignar aqui um simples mas fundamental princí­pio. Da conformidade de todas as leis com o espírito e a letra da Constituição dependem a unidade e coerência do sistema jurídico nacional.

"Observamos que a Constituição também é uma lei. Mas é a Lei Magna. O que, antes de tudo, a distingue nitidamente das outras leis é que sua elaboração e seu mérito não se submetem a disposições de nenhuma lei superior a ela. Aliás, não podemos admitir como legítima lei nenhuma que lhe seja superior. Entretanto, sendo lei, a Constituição há de ter, também, sua fonte legítima.

"Afirmamos que a fonte legítima da Constituição é o Povo.

4. O Poder Constituinte

Costuma-se dizer que a Constituição é obra do Poder. Sim, a Constituição é obra do Poder Constituinte. Mas o que se há de acrescentar, imediatamente, é que o Poder Constituinte pertence ao Povo, e ao Povo somente.

"Ao Povo é que compete tomar a decisão política funda mental, que irá determinar os lineamentos da paisagem jurídica em que deseja viver.

Assim como a validade das leis depende de sua conformação com os preceitos da Constituição, a legitimidade da Constituição se avalia pela sua adequação às realidades sócioculturais da comu­nidade para a qual ela é feita.

"Disto é que decorre a competência da própria comunidade para decidir sobre o seu regime político; sobre a estrutura de seu Governo e os campos de competência dos órgãos principais de que o Governo se compõe; sobre os processos de designação de seus governantes e legisladores.

"Disto, também, é que decorre a competência do Povo para fazer a Declaração dos Direitos Humanos fundamentais, assim como para instituir os meios que os assegurem.

"Em conseqüência, sustentamos que somente o Povo, por meio de seus Representantes, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte , ou por meio de uma Revolução vitoriosa, tem competência para elaborar a Constituição; que somente o Povo tem compe­tência para substituir a Constituição vigente por outra, nos casos em que isto se faz necessário.

"Sustentamos, igualmente, que só o Povo, por meio de seus Representantes no Parlamento Nacional, tem competência para emendar a Constituição.

"E sustentamos, ainda, que as emendas na Constituição não se podem fazer como se fazem as alterações na legislação ordinária. Na Constituição, as emendas somente se efetuam, quando apresentadas, processadas e aprovadas em conformidade com preceitos especiais, que a própria Constituição há de enunciar, preceitos estes que têm por fim conferir à Lei Magna do Povo uma estabilidade maior do que a das outras leis.

"Declaramos ilegítima a Constituição outorgada por autoridade que não seja a Assembléia Nacional Constituinte, com a única exceção daquela que é imediatamente imposta por meio de uma Revolução vitoriosa, realizada com a direta participação do Povo.

Declaramos ilegítimas as emendas na Constituição que não forem feitas pelo Parlamento, com obediência, no encami­nhamento, na sua votação e promulgação, a todas as formalidades do rito, que a própria Carta Magna prefixa, em disposições expressas.

"Não nos podemos furtar ao dever de advertir que o exercício do Poder Constituinte, por autoridade que não seja o Povo, configura, em qualquer Estado democrático, a prática de usurpação de poder político.

"Negamos peremptoriamente a possibilidade de coexistência, num mesmo País, de duas ordens constitucionais legítimas, embo­ra diferentes uma da outra. Se uma ordem é legítima, por ser obra da Assembléia Constituinte do Povo, nenhuma outra ordem, provinda de outra autoridade, pode ser legítima.

"Se, ao Poder Executivo fosse facultado reformar a Constituição, ou submetê-la a uma legislação discricionária, a Constituição perderia, precisamente, seu caráter constitucional e passaria a ser um farrapo de papel.

"A um farrapo de papel se reduziria o documento solene, em que a Nação delimita a competência dos órgãos do Governo, para resguardar, zelosamente, de intromissões cerceadoras dos poderes públicos, o campo de atuação da liberdade humana.

5. O Estado de Direito e o Estado de Fato

"Proclamamos que o Estado legítimo é o Estado de Direito, e que o Estado de Direito é o Estado Constitucional.

"O Estado de Direito é o Estado que se submete ao princípio de que Governos e governantes devem obediência à ­Constituição.

"Bem simples é este princípio, mas luminoso, porque se ergue, como barreira providencial, contra o arbítrio de vetustos e reniten­tes absolutismos. A ele as instituições políticas das Nações somente chegaram após um longo e acidentado percurso na Histó­ria da Civilização. Sem exagero, pode dizer-se que a consagração desse princípio representa uma das mais altas conquistas da cultura, na área da Política e da Ciência do Estado.

"O Estado de Direito se caracteriza por três notas essenciais, a saber: por ser obediente ao Direito; por ser guardião dos Direitos; e por ser aberto para as conquistas da cultura jurídica.

"É obediente ao Direito, porque suas funções são as que a Constituição lhe atribui, e porque, ao exercê-las, o Governo não ultrapassa os limites de sua competência.

"É guardião dos Direitos, porque o Estado de Direito é o Estado-Meio, organizado para servir o ser humano, ou seja, para assegurar o exercício das liberdades e dos direitos subjetivos das ­pessoas.

"E é aberto para as conquistas da cultura jurídica , porque o Estado de Direito é uma democracia, caracterizado pelo regime de representação popular nos órgãos legislativos e, portanto, é um Estado sensível às necessidades de incorporar à legislação as normas tendentes a realizar o ideal de uma Justiça cada vez mais perfeita.

"Os outros Estados, os Estados não constitucionais, são os Esta­dos cujo Poder Executivo usurpa o Poder Constituinte. São os Estados cujos chefes tendem a se julgar onipotentes e oniscientes, e que acabam por não respeitar fronteiras para sua competência. São os Estados cujo Governo não tolera crítica e não permite contestação. São os Estados-Fim, com Governos obcecados por sua própria segurança, permanentemente preocupados com sua sobrevivência e continuidade. São Estados opressores, que muitas vezes se caracterizam por seus sistemas de repressão, erguidos contra as livres manifestações da cultura e contra o emprego normal dos meios de defesa dos direitos da personalidade.

"Esses Estados se chamam Estados de Fato. Os otimistas lhes dão o nome de Estados de Exceção. Na verdade, são Estados Autoritários, que facilmente descambam para a Ditadura.

Ilegítimos, evidentemente, são tais Estados, porque seu ­Poder Executivo viola o princípio soberano da obediência dos Governos à Constituição e às leis.

Ilegítimos, em verdade, porque seus Governos não têm ­Poder, não têm o Poder Legítimo, que definimos no início desta Carta.

"Destituídos de Poder Legítimo, os Estados de Fato duram enquanto puderem contar com o apoio de suas forças armadas.

"Sustentamos que os Estados de Fato, ou Estados de Exceção, são sistemas subversivos, inimigos da ordem legítima, promotores da violência contra Direitos Subjetivos, porque são Estados contrários ao Estado Constitucional, que é o Estado de Direito, o Estado da Ordem Jurídica.

"Nos países adiantados, em que a cultura política já organizou o Estado de Direito, a insólita implantação do Estado de Fato ou de Exceção - do Estado em que o Presidente da República volta a ser o monarca lege solutus - constitui um violento retrocesso no caminho da cultura.

"Uma vez reimplantado o Estado de Fato, a Força torna a governar, destronando o Poder. Então, bens supremos do espírito humano, somente alcançados após árdua caminhada da inteligência, em séculos de História, são simplesmente ignorados. Os valores mais altos da Justiça, os direitos mais sagrados dos homens, os processos mais elementares de defesa do que é de cada um, são vilipendia­dos, ridicularizados e até ignorados, como se nunca tivessem ­existido.

"O que os Estados de Fato, Estados Policiais, Estados de Exce­ção, Sistemas de Força apregoam é que há Direitos que devem ser suprimidos ou cerceados, para tornar possível a consecução dos ideais desses próprios Estados e Sistemas.

"Por exemplo, em lugar dos Direitos Humanos, a que se refere a Declaração Universal das Nações Unidas, aprovada em 1948; em lugar do habeas corpus; em lugar do direito dos cidadãos de eleger seus governantes, esses Estados e Sistemas colocam, freqüentemente, o que chamam de Segurança Nacional e Desenvolvimento Econômico.

"Com as tenebrosas experiências dos Estados Totalitários euro­­peus, nos quais o lema é, e sempre foi, "Segurança e Desenvolvimento", aprendemos uma dura lição. Aprendemos que a Dita­dura é o regime, por excelência, da Segurança Nacional e do Desenvolvimento Econômico. O Nazismo, por exemplo, tinha por meta o binômio Segurança e Desenvolvimento. Nele ainda se inspira a ditadura soviética.

"Aprendemos definitivamente que, fora do Estado de Direito, o referido binômio pode não passar de uma cilada. Fora do Estado de Direito, a Segurança, com seus órgãos de terror, é o caminho da tortura e do aviltamento humano; e o Desenvolvimento, com o malabarismo de seus cálculos, a preparação para o descalabro econômico, para a miséria e a ruína.

"Não nos deixaremos seduzir pelo canto das sereias de ­quaisquer Estados de Fato, que apregoam a necessidade de Segurança e Desenvolvimento, com o objetivo de conferir legitimidade a seus atos de Força, violadores freqüentes da Ordem Constitucional.

Afirmamos que o binômio Segurança e Desenvolvimento não tem o condão de transformar uma Ditadura numa Democracia, um Estado de Fato num Estado de Direito.

"Declaramos falsa a vulgar afirmação de que o Estado de Direi­to e a Democracia são "a sobremesa do desenvolvimento econômico". O que temos verificado, com freqüência, é que desenvolvimentos econômicos se fazem nas mais hediondas ditaduras.

"Nenhum País deve esperar por seu desenvolvimento econômico, para depois implantar o Estado de Direito. Advertimos que os Sistemas, nos Estados de Fato, ficarão permanentemente à espe­ra de um maior desenvolvimento econômico, para nunca implantar o Estado de Direito.

"Proclamamos que o Estado de Direito é sempre primeiro , porque primeiro estão os direitos e a segurança da pessoa humana. Nenhuma idéia de Segurança Nacional e de Desenvolvimento Econômico prepondera sobre a idéia de que o Estado existe para servir o homem.

"Estamos convictos de que a segurança dos direitos da pessoa humana é a primeira providência para garantir o verdadeiro ­desenvolvimento de uma Nação.

Nós queremos segurança e desenvolvimento. Mas queremos segurança e desenvolvimento dentro do Estado de Direito.

"Em meio da treva cultural dos Estados de Fato, a chama acesa da consciência jurídica não cessa de reconhecer que não existem, para Estado nenhum, ideais mais altos do que os da Liberdade e da Justiça.

6. A Sociedade Civil e o Governo

"O que dá sentido ao desenvolvimento nacional, o que confere legitimidade às reformas sociais, o que dá autenticidade às renovações do Direito, são as livres manifestações do Povo, em seus órgãos de classe, nos diversos ambientes da vida.

Quem deve propulsionar o desenvolvimento é o Povo organizado, mas livre, porque ele é que tem competência, mais do que ninguém, para defender seus interesses e seus direitos.

"Sustentamos que uma Nação desenvolvida é uma Nação que pode manifestar e fazer sentir a sua vontade. É uma Nação com organização popular, com sindicatos autônomos, com centros de debate, com partidos autênticos, com veículos de livre informação. É uma Nação em que o Povo escolhe seus dirigentes, e tem meios de introduzir sua vontade nas deliberações governamentais. É uma Nação em que se acham abertos os amplos e francos canais de comunicação entre a Sociedade Civil e o Governo.

"Nos Estados de Fato, esses canais são cortados. Os Governos se encerram em Sistemas fechados, nos quais se instalam os ­"donos do Poder". Esses "donos do Poder" não são, em verdade, donos do Poder Legítimo: são donos da Força. O que chamam de Poder não é o Poder oriundo do Povo.

"A órbita da política não vai além da área palaciana, reduto aureolado de mistério, hermeticamente trancado para a Socie­dade Civil.

"Nos Estados de Fato, a Sociedade Civil é banida da vida política da Nação. Pelos chefes do Sistema, a Sociedade Civil é trata­da como um confuso conglomerado de ineptos, sem discernimento e sem critério, aventureiros e aproveitadores, inca­pazes para a vida pública, destituídos de senso moral e de idealismo cívico. Uma ­multidão de ovelhas negras, que precisa ser conti­nuamente contida e sempre tangida pela inteligência soberana do sábio tutor da Nação.

Nesses Estados, o Poder Executivo, por meio de atos arbitrários, declara a incapacidade da Sociedade Civil, e decreta a sua ­interdição.

"Proclamamos a ilegitimidade de todo sistema político em que fendas ou abismos se abrem entre a Sociedade Civil e o Governo.

'Chamamos de Ditadura o regime em que o Governo está separado da Sociedade Civil. Ditadura é o regime em que a ­Sociedade Civil não elege seus Governantes e não participa do Governo. Ditadura é o regime em que o Governo governa sem o Povo. Ditadura é o regime em que o Poder não vem do Povo. Ditadura é o regime que castiga seus adversários e proíbe a contes­tação das razões em que ela se procura fundar.

"Ditadura é o regime que governa para nós, mas sem nós.

"Como cultores da Ciência do Direito e do Estado, nós nos recusamos, de uma vez por todas, a aceitar a falsificação dos conceitos. Para nós a Ditadura se chama Ditadura, e a Democracia se chama Democracia.

"Os governantes que dão o nome de Democracia à Ditadura nunca nos enganaram e não nos enganarão. Nós saberemos que eles estarão atirando, sobre os ombros do povo, um manto de irrisão.

7. Os Valores Soberanos do Homem, Dentro do Estado de Direito

"Neste preciso momento histórico, reassume extraordinária importância a verificação de um fato cósmico. Até o advento do Homem no Universo, a evolução era simples mudança na organização física dos seres. "Com o surgimento do Homem, a evolução passou a ser, também, um movimento da consciência.

Seja-nos permitido insistir num truísmo: a evolução do ­homem é a evolução de sua consciência; e a evolução da consciência é a evolução da cultura.

"A nossa tese é a de que o homem se aperfeiçoa à medida que incorpora valores morais ao seu patrimônio espiritual. ­Sustentamos que os Estados somente progridem, somente se aprimoram, ­quando tendem a satisfazer ansiedades do coração humano, assegurando a fruição de valores espirituais, de que a importância da vida indi­vidual depende.

"Sustentamos que um Estado será tanto mais evoluído quanto mais a ordem reinante consagre e garanta o direito dos cidadãos de serem regidos por uma Constituição soberana, elaborada livre­mente pelos Representantes do Povo, numa Assembléia Nacional Constituinte; o direito de não ver ninguém jamais submetido a disposições de atos legislativos do Poder Executivo, contrários aos preceitos e ao espírito dessa Constituição; o direito de ter um Governo em que o Poder Legislativo e o Poder Judiciário ­possam cumprir sua missão com independência, sem medo de represálias e castigos do Poder Executivo; o direito de ter um Poder ­Executivo limitado pelas normas da Constituição soberana, elaborada pela Assembléia Nacional Constituinte; o direito de escolher, em ­pleitos democráticos, seus governantes e legisladores; o direito de ser eleito governante ou legislador, e o de ocupar cargos na administração pública; o direito de se fazer ouvir pelos Poderes Públicos, e de introduzir seu pensamento nas decisões do Governo; o direito à liberdade justa, que é o direito de fazer ou de não fazer o que a lei não proíbe; o direito à igualdade perante a lei que é o direito de cada um de receber o que a cada um pertence; o direito à intimidade e à inviolabilidade do domicílio; o direito à propriedade e o de conservá-la; o direito de organizar livremente sindicatos de trabalhadores, para que estes possam lutar em defesa de seus interesses; o direito à presunção de inocência, dos que não forem declarados culpados, em processo regular; o direito de imediata e ampla defesa dos que forem acusados de ter praticado ato ilícito; o direito de não ser preso, fora dos casos previstos em lei; o direito de não ser mantido preso, em regime de inco­municabilidade, fora dos casos da lei; o direito de não ser conde­nado a nenhuma pena que a lei não haja cominado antes do delito; o direito de nunca ser submetido à tortura, nem a tratamento desumano ou degradante; o direito de pedir a manifestação do Poder Judiciário, sempre que houver interesse legítimo de alguém; o direito irrestrito de impetrar habeas corpus; o direito de ter Juízes e Tribunais independentes, com prerrogativas que os ­tornem refratários a injunções de qualquer ordem; o direito de ter uma imprensa livre; o direito de fruir das obras de arte e cultura, sem cortes ou restrições; o direito de exprimir o pensamento, sem qualquer censura, ressalvadas as penas legalmente previstas, para os crimes de calúnia, difamação e injúria; o direito de resposta; o direito de reunião e associação.

"Tais direitos são valores soberanos. São ideais que inspiram as ordenações jurídicas das nações verdadeiramente civilizadas. São princípios informadores do Estado de Direito.

"Fiquemos apenas com o essencial.

"O que queremos é ordem. Somos contrários a qualquer tipo de subversão. Mas a ordem que queremos é a ordem do Estado de Direito.

"A consciência jurídica do Brasil quer uma cousa só: o Estado de Direito, já".

Goffredo Telles Júnior

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Marcelo Rubens Paiva

Entrem no blog do Marcelo. Os últimos posts estão muito bons. Abraços.

Adalberto

MPF recomenda anulação de atos secretos

Demorou, mas o MPF começou a se movimentar. É pouco. Vamos continuar de olho.

Leônidas.

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26/06/2009 - 16h24
MP recomenda a anulação de atos secretos do Senado desde 1995
Do UOL Notícias
Em São Paulo
O Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) recomendou ao Senado nesta sexta-feira que sejam anulados todos os atos da Casa desde 1995 que não tenham sido amplamente divulgados.

De acordo com texto publicado no site do Ministério Público, a primeira providência deve ser divulgar todos os atos de interesse geral, que são os previstos na Portaria 310/2002 da Imprensa Nacional, no Diário Oficial da União (DOU) ou no Diário do Senado, e não somente em boletins internos da casa legislativa.

A recomendação é assinado pelos procuradores da República Anna Carolina Resende, Bruno Acioli, José Alfredo Silva, Paulo Roberto Galvão, Raquel Branquinho e Marcus Goulart. O documento foi enviado ontem, 25 de junho, ao procurador-geral da República, para encaminhamento ao presidente do Senado, José Sarney, como prevê a Lei Complementar 75/93.

Os procuradores sustentam que a publicidade dos atos é um dever da administração pública. A regra, prevista na Constituição e em atos do próprio Senado, visa permitir o controle dos atos do Estado pela sociedade. O objetivo, entretanto, só é alcançado quando a divulgação se dá em instrumentos oficiais voltados para o público externo, como os diários oficiais. Sem isso, os atos não têm validade.

"Sem esta publicação no Diário do Senado Federal ou no DOU, estes atos são nulos, independentemente de terem sido ou não divulgados na intranet do Senado por meio de Boletins Administrativos de Pessoal, regulares ou suplementares'", defendem os procuradores na recomendação.

No caso de criação, transformação ou extinção de cargos, além da publicação, é preciso ainda que os atos sejam implementados por meio de resolução, e não por atos da comissão diretora ou do presidente da casa, e que haja prévia dotação orçamentária.

Efeitos

O MPF recomenda que os atos só sejam implementados pela Secretaria de Recursos Humanos após a comprovação de sua publicação nos diários oficiais, como já acontece nos casos de pensão e aposentadoria. Em relação aos casos já consumados, o Ministério Público entende que o beneficiário de atos secretos só terá de devolver os valores recebidos se não tiver de fato prestado o serviço para o qual foi designado, ou se tiver agido de má-fé. Ainda assim, a declaração de nulidade do ato é necessária para eventual responsabilização dos agentes públicos que concorreram de má-fé para a ilegalidade.

A recomendação prevê ainda que sejam divulgados no portal da transparência do Senado os nomes de todos os servidores da casa; a natureza do vínculo mantido (efetivo ou comissionado); data de publicação do ato de nomeação no Diário do Senado Federal ou no DOU; nome do cargo no qual o servidor foi admitido; atribuição do cargo; se possui função comissionada; e o local aonde desempenha suas funções, inclusive dos servidores que trabalham nos escritórios dos senadores nos estados.

Descontrole

Os procuradores também cobram medidas para garantir efetividade à atuação da Secretaria de Controle Interno do Senado (SCINT). Até maio deste ano, o órgão sequer tinha acesso ao sistema que gere a folha de pagamento da casa, que ultrapassa os R$ 2 bilhões. Isso significa que o Controle Interno nunca auditou a folha de pagamento do Senado. Também estão fora da atuação do SCINT, por exemplo, a observância do teto constitucional; o cumprimento de jornada ordinária e extraordinária dos servidores e o serviço de publicação, entre outros.

"Pode-se afirmar que a Secretaria de Recursos Humanos, assim como outros tantos órgãos do Senado, atualmente não estão submetidos, na prática, a nenhum órgão de Controle Interno, o que afronta diretamente a Constituição Federal", concluem os procuradores.

Em razão disso, o MPF pede que seja feita uma auditoria pelo Tribunal de Contas da União na Secretaria de Recursos Humanos. O objetivo é verificar se os benefícios lançados no sistema do Senado estão devidamente amparados nos documentos físicos mantidos nas pastas dos servidores.

O Ministério Público requer ainda que o SCINT tenha amplo acesso a todas as bases de dados que tratem de matéria administrativa e que haja uma estruturação do setor, com a lotação de servidores em número suficiente para estabelecer rotinas de auditoria periódicas.

O Senado tem 30 dias úteis, a partir do recebimento da recomendação, para informar ao Ministério Público Federal as medidas adotadas. Enquanto isso, segue a investigação para apurar eventual responsabilização dos agentes públicos envolvidos.

Isso é que é provocação

Sarney,

Isso mostra que nem as mais cruéis tiranias, mesmo as oligárquicas brasileiras, resistem às ideias de liberdade e igualdade!

É ou não é um canalha?

Leônidas
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JOSÉ SARNEY

A mulher no islã
OS PROTESTOS sobre o resultado das eleições no Irã mostraram a face de um dos mais dolorosos tratamentos impostos à mulher, que, baseados em motivos religiosos, varre os países islâmicos e a sujeita a uma situação de inferioridade que atinge brutalmente os direitos humanos.
Já contei uma vez, nesta coluna, que Antonio Alçada Baptista, grande escritor português que morreu no ano passado, certa vez, conversando comigo em Lisboa, dava graças a Deus por ter nascido português. Dizia que achava isso um privilégio que o Criador lhe tinha deferido e acrescentava com humor: "Calcule se ele me tivesse feito mulher no Afeganistão".
Os talibãs eram radicais em relação ao uso da burca, aquele cárcere de pano que prende o corpo e a face das mulheres, sem que possam mostrar nem sequer a forma dos pés.
Outros países vão à mutilação do clitóris para que a mulher seja apenas um repositório do sêmen do homem. No Irã, são legalmente consideradas cidadãs de segunda classe, que nem sequer têm direito à guarda dos filhos e são obrigadas pela sharia (a lei islâmica) a usar uma bata que lhe esconda os contornos do corpo, além de terem de cobrir a cabeça e usar o véu. Tudo isso as transforma em escravas sujeitas a todos os tipos de tratamento desumano.
Estive em Teerã, de passagem apenas pelo aeroporto, há mais de 30 anos, com Tancredo e Nelson Carneiro, quando íamos a uma conferência da Interparlamentar no Sri Lanka. A cidade é cercada de montanhas, muito seca, sem nenhuma umidade e dá uma sensação de aridez. É tão grande esse clima de opressão causado pela secura que, quando o aiatolá Khomeini morreu, em seu sepultamento a multidão de milhões de pessoas foi constantemente aspergida por helicópteros especializados em incêndios, que jogavam água sobre ela -e nem assim conseguiram evitar muitos mortos.
Agora surgiu na campanha eleitoral um candidato, Mousavi, que revolucionou tudo. Comparecia aos comícios com sua mulher, Zahra Rahnavard. Transformou-se logo no homem que valorizava a mulher. Seu cartaz dizia: "Mousavi, igualdade". Esta palavra, igualdade, ficou logo associada à causa feminista.
Agora, os protestos violentos que enchem as ruas de Teerã contra a fraude eleitoral têm como vanguarda sempre mais mulheres. Jovens de todas as idades. E o símbolo desse protesto passa a ser Neda, uma mulher morta pela milícia fanática dos aiatolás, basiysí. Seu rosto ensanguentado foi mostrado em todo o mundo. Seu sangue sem dúvida vai motivar mais ainda a libertação da mulher iraniana. Isso mostra que nem as mais cruéis tiranias, mesmo as teocráticas, resistem às ideias de liberdade e igualdade.

DEMOCRACIA TRICOLOR

Todos os torcedores tricolores estão convocados a se manifestar contra os desmandos e a corrupção daqueles que se apropriaram indevidamente do patrimônio público.

Vamos mobilizar a nação tricolor em prol dos princípios democráticos.

Vamos demonstrar que a população não assiste, de forma bovina, às medidas ilegais que contrariam a moralidade pública.

Vamos dar início a um movimento pacífico e duradouro de manifestação política pelo país, demonstrando todo o descontentamento da população.

É inadmissível que se arrecade tantos tributos nesse país para que esse dinheiro seja desviado sem nunca chegarem aos destinatários, por meio das funções alocativas e distributivas do Estado.

Leônidas

Ação Popular

Por quê não? Contra os atos secretos. Já que o Senado não pretende revogá-los.

Com a paciência de um monge budista, vão esperar essa crise passar.

Até quando? Por quê não protestos? Mais e mais protestos em todas as cidades do país. Não temos protestos.

Por quê não uma mobilização por meio da internet? Quando o brasileiro vai aprender que é justamente essa passividade bovina que geram os Sarneys da vida.

Quais ações? Quais medidas? O que falta de mobilização para que os políticos aprendam que são representantes do povo. Que trabalham para nós. Bom, pelo menos deveriam fingir melhor que trabalham para nós e não para eles.

Adalberto

Jackson

Que morra o homem, como já vinha morrendo há anos. Um processo que todos nos passamos e nele ficou evidente. Definhou.

Que fique a música, desde os tempos dos Jackson 5.

O que ele fez da história pessoal dele sempre o perseguirá até o túmulo. Com a morte, pelo menos, voltamos a escutar um pouco das suas músicas, além de notícias grotescas de uma mente que nitidamente se perdeu.

Que morra o homem e fique a música, não o mito.

Adalberto

A Globo e o Michael Jackson

Incrível a capacidade da Globo de fazer televisão. Acabo de assistir ao Bom Dia Brasil. A cobertura da morte do Michael Jackson beirou a perfeição, com alguns (poucos) deslizes.

Pra começar, a reportagem factual, feita pela correspondente em Nova York, Giuliana Morrone. Impecável, como é hábito dessa jornalista.

Depois VTs com a repercussão da morte do cara (ele é o cara) no Brasil e no mundo. Normal e obrigatório, para uma emissora que tem correspondentes em tudo quanto é canto.

Mas são nos VTs sobre a vida dele que está a diferença. Matérias que chamamos de perfil, no jornalismo. Uma fusão de informações e bom texto com imagens bonitas ou feias (essas tiradas da internet) como se deve ser na televisão. Edições impecáveis.

Diante da morte de uma personalidade como Michael Jackson, a possibilidade de se esquecer as merdas cometidas em vida é grande. O Bom Dia Brasil não esqueceu.

Diante da morte de uma personalidade como Michael Jackson, a fronteira entre o bom e o mau gosto é uma linha muito fina. O Bom Dia Brasil conseguiu ser comovente sem ser piegas.

No encerramento do jornal, o garoto Michael Jackson cantando Ben. (Se você nunca viu, veja aqui)

Bom seria se o jornalismo da Globo fosse assim o tempo inteiro, sem interesses mil.


João Santos

quinta-feira, 25 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Enchente em Manaus









Nosso enviado especial em Manaus relata a seguir a maior cheia de Manaus:

"Chegou no record de todos os registros: 29,69m acima do nivel do mar.
Cinco centimetros de água está espalhado pelas calçadas. Ninguém quer molhar os sapatinhos."

As águas do rio Solimões estão tão altas que não dão vazão para o Rio Negro, que transbordou sobre a cidade de Manaus.

São vários os fatores, explica o nosso enviado especial:

(i) chuva na colômbia que afeta rio negro;
(ii) degelo nos andes entre fevereiro e março, que afeta tanto negro quanto solimões;
(iii)chuva no estado todo que foi bem acima do normal; e
(iv)além de - correntes marinhas no equador sentido áfrica - brasil, que contrapõe a entrada do amazonas no mar, e forma uma barreira. Como amazonas é 3 x mais rápido que o negro, ele forma um barreira ao avanço do negro para dentro do amazonas.

"São várias ruas do centro que estão com poucos centímetros de água, e só não foi mais avante porque muitas barreiras foram levantadas na beira do rio, com novas construções. Apesar de atingir o mesmo nivel que 1953 na tábua de medição, não avançou mais que cem metros alem da beira, quando em 53 avançou 300 metros território adentro no centro."

Adalberto

Novo Provocador


Concordo com Leandro Von Haismter (o sobrenome omitido) sobre a ditadura e a ordem. Que a ponta da lança do ESTADO BRASILEIRO seja introduzida no abdomen da ameaça comunista que rodeia a USP.

Devemos apoiar as medidas repressoras no Irã. A propósito, que voto que nada. Democracia é ineficiência. Os Aiatolás deveriam comandar aquele país com mãos de ferro.

Muricy? Se gera tanto debate e discórdia, deve ser eliminado.

Adolf

Irã

Vocês realmente acham que o governo estadunidense é ignorante quanto à conjuntura atual do Irã?
Vocês realmente acham que a CIA mostraria seus relatórios de inteligência ao público?
Vocês realmente acham que o fato de os EUA ter rompido relações diplomáticas com o Irã significa alguma coisa para o TioSam?
Vocês realmente acham que a Revolução Islâmica de 1979 e tudo o que acontece no Irã hoje são meramente questões de extremismo religioso?
Eu acho que não!

Braga

Conversa de bar

Outro dia, numa mesa de bar, conversava com uma comunista sobre um milhão de migalhas mundanas. De questões próximas a nossa realidade a pontos quase abstratos de tão distantes que são de nosso cotidiano. Se de algo me serviu tal conversa, foi por uma lembrança que ela me fez: o movimento dialético de interesses antagôncios é o que explica todos esses acontecimentos esparsos que queremos entender.


A escrotidão do Congresso não é - e nem pode ser - uma muralha que não nos deixe ver o que existe além. Acompanhar e debater diversidades pode, inclusive, corroborar para o entendimento desse mau que se encontra há um palmo de nossos narizes. O Irã, a crise, Muricy, Obama, América Latina, cultura, Amazônia, José Serra, Copa 2014/Olimpíada 2016, África, banalidades, fome mundial, gripe suína, qualidade dos meios de comunicação... tudo é válido e importante. O que se deve enfatizar, entretanto, é que urge que saiamos do âmbito da palavra e do pensamento para o da ação: não se pode mais aceitar o surrealismo descabido que nos chega de Brasília.


USP: que nossa sociedade está repleta de gente bizarra, com pensamento facista, sabemos. Mas assistir à divulgação e apoio de tal tipo de pensamento, pelos meios de comunicação de massa, é dar um grande passo na direção de uma ideologia facista.

Braga

Velho do Restelo

Com certeza temos mazelas, muitas. Por favor, gritem contra o Senado. Ataquem o Senado. Invadam o Senado. Entrem com medidas judiciais contra os atos secretos que são nulos e ilegais. Isso. Contudo, sem emoções. Calma com a pauta. Ela não é única. Abaixo a ditadura do/no Senado.

Adalberto

Neda


A young Iranian woman named Neda is gunned down in one of the most iconic images of the last week. Another walks down the street, defiantly showing off her hair and body in a revealing dress. And still another woman says she's not scared of paramilitary forces -- no matter how many times she gets beaten.

"When they want to hit me, I say hit. I have been hit so many times and this time it doesn't matter. I just want to help my brothers and sisters," says the 19-year-old woman whose identity is being withheld by CNN for her safety.

Para encerrar o assunto, Tostão

Cansaço mental

O sucesso prolongado e a pressão para mantê-lo levam a uma fadiga mental, a uma acomodação inconsciente e a uma autossuficiência, quase uma soberba, de imprevisível duração. Acho que isso, mais que outros problemas, é o principal motivo da queda do São Paulo.

Ninguém sabe o que acontece no Irã -nem Obama

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Seis especialistas em Irã do centro de estudos independente Brookings, de Washington, se reuniram na tarde de ontem para lançar o relatório "Qual o Caminho para a Pérsia -Opções para Uma Nova Estratégia Americana para o Irã".

Ao final da sessão, conversaram com a plateia. Entre os autores, há três ex-analistas do Irã da CIA, a agência de inteligência norte-americana, como Kenneth Pollack e Bruce Riedel. Uma das primeiras perguntas foi: qual a qualidade da inteligência que a Casa Branca está recebendo sobre o país? A resposta unânime: ninguém sabe o que acontece no Irã.

Em sua fala de ontem, Barack Obama disse três vezes que seu governo "não sabia" qual seria a resposta do Irã nem como a situação naquele país se desenvolveria. Ninguém sabe. Os EUA não têm relação diplomática com o Irã desde 1979.

O país depende dos relatos de inteligência de segunda mão de aliados como o Reino Unido (que teve diplomatas expulsos de Teerã ontem), a Alemanha e a França. Neste momento, Washington quebra a cabeça para entender, por exemplo, o sumiço do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani. Estaria preso? Trabalhando nos bastidores por uma união dos clérigos moderados?

Outro dilema dos EUA: apoiar abertamente os manifestantes seria macular o movimento de uma maneira que o isolaria junto ao iraniano médio. E se a decisão for de apoio, como garantir a continuidade? Para Pollack, os obamistas temem repetir o que George Bush pai fez em 1991, na Guerra do Golfo.

O então presidente republicano deu declarações públicas de apoio aos revoltosos xiitas, mas logo retirou as tropas americanas daquela região. O resultado foi o massacre de, segundo relatos, mais de 100 mil iraquianos pelo governo do sunita Saddam Hussein.

Nesse cenário de incerteza, concordaram os experts do Brookings, a alternativa menos pior é mesmo insistir na "doutrina Obama", segundo a qual a maneira de abrir o regime dos aiatolás é inserir o país na comunidade internacional.

A ignorância sobre a realidade iraniana não é prerrogativa dos democratas. Em 2006, passei dez dias em reportagens no Irã. Era o meio do primeiro mandato de Mahmoud Ahmadinejad, quando o presidente ultraconservador começava a assustar o mundo ocidental.

Era também o renascimento do movimento dos moderados que explodiu agora. Depois de entrevistas com o grão-aiatolá progressista Hussein Ali Montazeri e o dissidente Ebrahim Yazdi, entre outros, ficou claro como a classe média e os jovens começavam a se divorciar da ala mais dura dos religiosos.

A maioria da população iraniana nasceu depois da Revolução Islâmica de 1979. São jovens como Neda Agha-Soltan, que se comunicam e se mobilizam via torpedos (que eles chamam de "êssémés", de SMS), escritos em "fingilish", gíria que mistura persa e inglês.

Na volta, relatei o que vira a um republicano, com acesso aos neocons de Bush. Ele se espantou com a existência de classe média no Irã. (SD)

Folha de S.Paulo 24.06.2009
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2406200907.htm

João Santos

Senado Sem Vergonha!

Impressionante

Me impressiona a capacidade que as pessoas têm de mudar a opinião sobre algo em apenas “um frame”. Dois, ou três, talvez.

Como uma coisa pode ser tão boa agora e no quadro seguinte, do mesmo filme, ser tão ruim? Ou pior. Como uma coisa pode ser tão ruim e no quadro seguinte, nem tão ruim assim?

Quem afundou o Vasco, o Corinthians, o Palmeiras? Eurico, Dualib, Mustafá? Não? O Juvenal Juvêncio vai afundar o São Paulo?

Me impressiona também a capacidade das pessoas de se comoverem com o que nada tem a ver com elas.

Por que sair em defesa ou ao ataque de qualquer uma das partes na guerra política no Irã? Vejo muita gente não entendendo absolutamente bulhufas do que está acontecendo naquele país, e dando palpite a torto e a direita sobre a questão.

Muitos se apegam ao fato de que “desde 1979, na Revolução Islâmica, não há uma comoção popular tão grande naquele país”. Daí acham que devem sair em defesa “daquele povo sofrido” e vestir o verde (cor do Islã!!!). E adotam a versão americana mesquinha do fato: o Mahmoud Ahmadinejad (assim como Kim Jong-il, Hugo Chávez etc) é um terrorista em potencial. Uuuu, que medo!

Dane-se a demissão do Muricy do São Paulo! Dane-se que fraudaram a eleição no Irã!

O Brasil vive o momento mais tenso desde que o Collor foi presidente deste país. A cada frame do filme de terror do Senado, uma mensagem: você é um otário!

Os senadores gargalham em seus castelos, regados a cabernets sauvignons e água Perrier, servidos pelo mordomo da família.

E nós preocupados com futebol. Ou com o umbigo dos outros. É isso o que realmente impressiona.


João Santos

Erro de manchete. Erro?

Preste atenção nesta reportagem da Folha de S.Paulo, edição do dia 23/06/09. O título é "Grupos antigreve marcam novo ato na USP". Mas dá uma olhada na declaração de Leandro (nome provavelmente falso, já que o aluno não quis se identificar) no decorrer da matéria. Não seria o caso de chamar um pouco mais de atenção para isso? Talvez nos subtítulos. A Folha errou? Ou quis esconder?


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Grupos antigreve marcam novo ato na USP



Terceiro protesto contra a paralisação foi marcado para a próxima quinta-feira, em frente à Faculdade de Economia


Um dos grupos tem 665 membros na comunidade do Orkut e diz ter reunido 3.000 adesões em abaixo-assinado contra a paralisação na USP



DA REPORTAGEM LOCAL


Nos últimos dias, um movimento antigreve na USP deixou de ser virtual (na internet) e passou a promover atos na Cidade Universitária. Já foram feitos dois protestos e outro está marcado para quinta.

Entre estudantes descontentes com sucessivas greves, há também dois grupos virtuais organizados, que participam ou organizam a mobilização.

O maior, denominado CDIE (Comissão para Defesa dos Interesses Estudantis da USP), existe desde abril deste ano e conta com 665 membros na comunidade do Orkut. Ele é responsável por um abaixo-assinado contra a greve, que já reúne 3.000 assinaturas, segundo os organizadores.

O mais recente, denominado Flacusp (Forças de Libertação Anticomunistas da USP), foi criado no Orkut no dia 8 e tem 107 membros virtuais "selecionados", afirma Leandro, 23, um dos participantes (ele não quis dar o sobrenome nem dizer a qual curso pertence).

Leandro classifica os atos do movimento grevista como "balbúrdia" e diz preferir a ditadura.
"A ditadura impõe a ordem, não deixa essa zona acontecer".

O jovem era um dos participantes de um protesto antigreve que ocorreu na última sexta de manhã na USP e reuniu 80 estudantes. Na mesma noite, outra manifestação contra a paralisação reuniu cerca de 300 pessoas. Nos dois protestos, houve confrontos com grevistas, xingamentos e discussão. Antigrevistas afirmam ter sido vítimas de chutes e socos.

Nos protestos, estudantes contra a greve pediam a volta do "bandejão" e do "ônibus circular". Os grevistas chamavam o grupo de "fascista". O próximo ato antigreve será quinta, às 12h30, em frente à FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).



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João Santos

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde há fumaça...

Briga

Passo pelo Largo da Batata. Todos os dias. Um ser estranho. Estou de terno. Sapato bem engraxado. Não, obrigado. Já engraxei essa semana. Pessoas paradas em frente a um bar. Estranho. Normalmente, estão em movimento. Aproximo-me. Escuto gritos. Uma briga. Quatro arruaceiros tentam bater em um sujeito que fugiu para o fundo do bar. Não motivos. Ninguém parece entender muito bem o que se passa. Quebraram a rotina. O pau come feio. Ninguém se mexe. Até derem um tiro. Penso. Não deram. Chegou a polícia, os arruaceiros foram presos. As pessoas aliviadas. Sem a polícia, não fariam nada. Ainda bem que ela existe. Não. Quer dizer, ainda bem que estavam lá do outro lado da rua. O tempo todo. E demoraram uns cinco minutos para atrevessar e intervirem. Ainda bem?

Adalberto

Agudo e fundo

Quando dirigia, sonhava, recorrentemente com o som do cano de uma arma, agudo, em minha janela. Chegou a acontecer, aconteceu. O cano chegou e as minhas expectativas se realizaram. Hoje, vou à audiência para depor na ação de roubo. Isso. Prenderam um dos assaltantes. Ele bateu meu carro em um poste. Perda. A sensação de desolação. Todos me assaltam. Enquanto isso, seguro minha mochila contra meu corpo. Forte. Sinto esbarrarem e meus braços vazios no ar perseguem meus fantasmas,

Sinto uma faca girar em minhas costas. Como? Como essa faca me atravessou e agora minhas entranhas caem na calçada e sangra, espesso, escorre. Não, não escorre em minhas. Mas, nem por isso, duvide que não aconteceu. Não duvide de suas expectativas.

Adalberto Pereira

Cosme

João Santos sempre comentou as deficiências e a estupidez do Cosme. Eu sempre achei um pouco mais caricato, justamente por não me prender a seriedade que um jornalista deveria ter em um blog.

Ledo engano. Li os comentários e vi as imagens colocadas pelo Sr. Cosme hoje e não posso me furtar em compará-lo com um Tio meu.

Ele adora opinar sobre tudo. Quando fala, parece que vive em outra sintonia, que lê outros jornais, que não a Folha, Estado, Globo, El Pais, Correio Popular ou NYTimes. Um jornal só dele.

É isso. Como um autista, ou por maldade, ou insanidade. Não sei. Só sei que já não vejo como caricato o fato de o Cosme inventar o que quer e dizer que vozes do além lhe informaram. É isso! Vozes do além. Vozes que ninguém escuta. Esquizofrênico. É isso.

Adalberto Pereira

Trajano e Muricy

Recebi do provocador Braga a entrevista abaixo. Imagino como deve ter sido espetacular a conversa entre os vizinhos. Fico feliz que o Muricy esteja com a sensação de dever cumprido e não esteja com raiva dos erros da diretoria e de alguns jogadores, sereno. Trajano mostrou, mais uma vez, o motivo de ser um dos maiores jornalistas esportivos.

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Entrevista do Trajano com o Muricy: “Ele sabe que foi a derrota da arquibancada para a numerada”
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Muricy, o vizinho do 74
por José Trajano, especial para o ESPN.com.br
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Somos vizinhos há mais de dez anos. E raramente nos vemos no condomínio. Moramos em prédios diferentes, e jamais fora a seu apartamento. Nossos filhos, porém, são amigos. Jogam bola e participam de torneios de videogame no salão de festas. Na noite de sexta-feira, o vizinho do 74 era o nome mais falado da cidade. Todos os telejornais e sites divulgavam com alarde que ele havia sido demitido do emprego. Um emprego e tanto! E, então, decidi visitá-lo.

Resolvi interfonar para não usar a prerrogativa de ser vizinho. Ele não estava, mas deixei recado com sua mulher que se chegasse e estivesse disposto a conversar, me telefonasse. Poucos minutos depois, ele ligou e pediu que fosse até lá. No caminho, fiquei pensando que deveria estar cercado de gente, de amigos, ex-companheiros de clube ou coisa parecida. Qual não foi a minha surpresa quando me recebeu com a porta já aberta e sozinho na sala.

Ao contrário do que imaginava, estava tranquilo e sereno. Sem nenhuma ponta de mágoa, rancor, bronca. Parecia ter tirado um peso das costas. Seu rosto revelava a certeza de que havia saído de cabeça erguida e com a sensação do dever cumprido. Fora o momento que se queixou de Cuca, por ter ligado ao presidente Juvenal para pedir conselho se deveria sair ou continuar no Flamengo, atitude que ele enxergou como falta de ética, o vizinho conversou sobre tudo com muita tranquilidade.

Para ele, a diretoria anda mais preocupada com o Morumbi do que com o time. Os cartolas só pensam no estádio, na Copa do Mundo de 2014, e os problemas do time ficaram em segundo plano. E havia problemas no elenco. Falta de parceria, disse. Que eu entendi como ciumeira de alguns jogadores com os novos que chegaram este ano.

Sem levantar a voz ou tentar se desculpar pelos maus resultados, o vizinho lamentou não ter conseguido Conca como reforço. “Ele esteve duas vezes aqui, mas o negócio não vingou”, disse. Um bom meia de ligação teria feito o time jogar diferente, com mais liga entre a defesa e o ataque, sem precisar jogar à base de lançamentos longos para o setor ofensivo.

O vizinho desconfiava que, mais cedo ou mais tarde, a demissão iria acontecer, porque ele não tem o jeitão que alguns dirigentes imaginam para um técnico do São Paulo. Não é de frequentar bons restaurantes para fazer companhia aos cartolas, não gosta de interferências na contratação de reforços e acredita até que a maneira de se vestir deixava essa turma incomodada. “É o meu jeito, simples, sem frescura, sem afetação, que as vezes eles não gostam.”

Toquei na decisão que tomamos em não mais ouvi-lo depois de uma entrevista que achei grosseira . Ele disse que não guardou mágoa e que somos meio parecidos na defesa de quem trabalha com a gente. Até os filhos brincaram com ele, achando que andava meio rabugento.

Já era de madrugada quando fui embora. Um pouquinho antes de sair, chegaram Pi e Fabinho, dois de seus três filhos. O vizinho me contou que o Pi (sou testemunha que joga muita bola) voltou muito irritado do Morumbi depois da derrota para o Cruzeiro e prometeu não torcer mais pelo São Paulo. O vizinho discordou do filho e disse que não podia abrir mão de sua paixão, que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Voltei para casa com a impressão de que meu vizinho é mesmo aquilo que diz. Gosta de ficar em casa, em companhia da família, dos cachorrinhos que leva sempre para passear, de lavar louça para passar a ansiedade e de ir ao sítio em Ibiúna para descansar. É um cara simples, um trabalhador do esporte. Sem banca, sem arrogância, não tem nada de “professor”.

Ele sabe que foi a derrota da arquibancada para a numerada. Mas sabe também que saiu por cima. A torcida gritou seu nome a todo instante, e isso ele não esquecerá nunca. Quer dar uma parada, já jogou no lixo tempos atrás uma proposta milionária do Catar, mas não creio que fique parado por muito tempo. Continuo achando que precisa ter mais educação nas entrevistas, após uma partida, mas me conquistou pela sinceridade e autenticidade.

É um bom sujeito o vizinho do 74. Boa sorte para ele.

Irã

Amid Crackdown, Iran Admits Voting Errors
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Published: June 22, 2009, New York Times
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CAIRO — Iran’s most powerful oversight council announced on Monday that the number of votes recorded in 50 cities exceeded the number of eligible voters there by three million, further tarnishing a presidential election that has set off the most sustained challenge to Iran’s leadership in 30 years.

The government continued with a two-track approach in its showdown over the re-election of President Mahmoud Ahmadinejad. Even as the powerful Guardian Council acknowledged some irregularities in the June 12 election, it insisted that the overall vote was valid. At the same time, security forces stepped up their threats to treat protesters as criminals seeking to destabilize the country.

A group of as many as a thousand demonstrators at Haft-e-tir Square in central Tehran was quickly overwhelmed Monday by baton-wielding riot police and tear gas shortly after the Revolutionary Guards issued an ominous warning on their Web site saying that protesters would face “revolutionary confrontation.” Opposition leaders said the next move may be civil disobedience or a general strike.

The legitimacy of the vote remains at the core of the dispute. On Monday, the Guardian Council sought to help validate the outcome when it announced there had been discrepancies in 50 cities, which it said involved up to three million votes, not enough to overturn the landslide election margin that the government had announced for Mr. Ahmadinejad. But the recognition of a broad discrepancy between the number of recorded votes and registered voters in some districts only fueled suspicions that the election — and the Guardian Council’s arbitration of it — was unfair.

“I don’t think they actually counted the votes, though that’s hard to prove,” said Ali Ansari, a professor at the Institute of Iranian Studies at the University of St. Andrews in Scotland and one of the authors of a study of the election results issued by Chatham House, a London-based research group.

The Guardian Council is scheduled to certify or nullify the vote on Wednesday, or, some speculated, call for a runoff between the two top vote-getters. It has so far appeared to prejudge the race as fair and legitimate.

“Statistics provided by the candidates, who claim more than 100 percent of those eligible have cast their ballot in 80 to 170 cities are not accurate — the incident has happened in only 50 cities,” said the council spokesman, Abbas-Ali Kadkhodaei. He said this outcome could occur because people may vote anywhere they choose, not necessarily only in their district of registration.

But many districts where the excess votes were recorded are small, remote places rarely visited by business travelers or tourists, analysts said, raising questions about how so many extra votes could have been counted in so many different areas.

The extra votes add to a list of complaints leveled against the election by the reform candidate, Mir Hussein Moussavi, and other challengers inside and outside Iran. Among them:

How did the government manage to count enough of the 40 million paper ballots to be able to announce results within two hours of the polls closing? How is it that Mr. Ahmadinejad’s margin of victory remained constant throughout the ballot count? Why did the government order polls closed at 10 p.m. when they often stay open until midnight for presidential races? Why were some ballot boxes sealed before candidates’ inspectors could validate they were empty? Why were votes counted centrally, by the Interior Ministry, instead of locally, as in the past? Why did some polling places lock their doors at 6 p.m. after running out of ballots?

In specific terms, analysts who have scrutinized the election results available in Persian and English said that for Mr. Ahmadinejad to have won 63 percent to Mr. Moussavi’s 34 percent, he would have had to have won over most people who four years ago supported the liberal reform candidate, Mehdi Karroubi, a former speaker of the Parliament who ran again this year. They said the president also would have had to have garnered the votes in that 2005 race that went to Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, a bitter opponent of Mr. Ahmadinejad who backed Mr. Moussavi this time.

“In the province where Karroubi did best in 2005, his home province of Lorestan, Ahmadinejad got some 71 percent of the vote,” wrote Nate Silver in an analysis that was posted on fivethirtyeight.com, a politics and polling Web site. He added, “If Ahmadinejad won the election, he did it by winning over these rural Karroubi voters. And if he stole it, those were the votes he stole or intimidated.”

The review of voting statistics released this week by St. Andrews University and Chatham House reached a similar conclusion.

“The plausibility of Mr. Ahmadinejad’s claimed victory is called into question by figures that show that in several provinces he would have had to attract the votes of all new voters, all the votes of his former centrist opponent, and up to 44 percent of those who voted for reformist candidates in 2005,” said Thomas Rintoul, one of the study’s authors.

The leadership of the Islamic republic takes voting very seriously as a symbol of legitimacy and loyalty to the system. Voting always occurs on a day off, to maximize turnout.

Ayatollah Ali Khamenei, the country’s supreme leader, said that Mr. Ahmadinejad’s margin of victory was so great — 11 million votes — that there could be no doubt it was legitimate. He never addressed any of the specific charges of fraud.

“Sometimes the difference is 100,000, 500,000 or even 1 million,” Ayatollah Khamenei said in his speech to the nation during Friday Prayer. “In that case, one could say that there might have been vote-rigging. But how can they rig 11 million votes?”

To vote, all citizens must show their shenasnameh, a wallet-sized folder holding all important documents, including birth certificates and proofs of marriage and divorce. Iranians can visit any polling site they choose to with their shenasnameh, which is why some districts end up with more ballots cast than eligible voters. People with summer or weekend houses, for example, often do not go home to vote.

Polling sites are run by the Interior Ministry and supervised by the Guardian Council, which also adds to the skepticism, since both have expressed their loyalty to the supreme leader and Mr. Ahmadinejad.

Even the conservative speaker of Iran’s Parliament, Ali Larijani, who has sided with the supreme leader in support of Mr. Ahmadinejad, acknowledged that skepticism about the vote was wide and deep, unlikely to be dispelled by continued claims of a landslide victory for the president.

“A majority of people are of the opinion that the actual election results are different than what was officially announced,” Mr. Larijani said in comments broadcast on Iranian television over the weekend.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Infância

Acordo. Lembro de uma bem morena, com cabelos cacheados. Tinha apenas sete anos, no máximo. Estava na aula de artes. Ela baixou a calça me mostrou sua cona e sorriu. Saiu da sala e foi para o bosque. Eu fiquei maravilhado, de alguma forma já sabia. Sei muito bem o que a rachada me faz.

Quando a encontro espero que seja como foi com a minha prima. Minha prima dormia em meu quarto. Uma vez, abaixei sua calça e coloquei minha rola em cima de sua buceta, não penetrei, mas só a pele já fazia meu sangue correr, intenso.

Mas não. Ela estende seus vastos beiços no ar e espera um beijo. Intimidade demais. Saio correndo. Eu, até hoje, sonho em bulinar aquela buceta. Ela deve ser uma bela morena hoje em dia.

Orfeu Bandeira

VoltaMuricy.com

Enquanto torcedores do Palmeiras fazem campanha na internet para a queda do Luxemburgo, os torcedores do São Paulo iniciaram campanha para a volta do Muricy Ramalho, após a injusta demissão ocorrida na sexta passada.

O Luxemburgo não cai, por causa da Traffic. Esta possui o interesse de vender jogadores, apenas. E o melhor agenciador que existe, mesmo sendo apenas uma sombra do grande técnico que já foi, é o Luxemburgo.

Por outro lado, o movimento volta Muricy, está calcado na certeza de um erro absurdo cometido pela diretoria. Como o Muricy disse, faltou humildade de certos jogadores. As contratações não deram certo e ao invês de a diretoria assumir isso e queimar jogadores que podem ser vendidos, rifou o Muricy. Um pena. Faltou descência, competência e planejamento.

Para aqueles que quiserem participar do movimento, segue o site, divulgado pelo Braga, provocador:

www.voltamuricy.com.br

Adalberto

domingo, 21 de junho de 2009

Vacas magras

Clube acena com 3ª era de vacas magras

RODRIGO BUENODA REPORTAGEM LOCAL

A história do São Paulo passa muito pela sua luta em conseguir pomposa casa e mantê-la em bom estado. E o fim da era Muricy sinaliza, também, o início de novo ciclo em que o futebol tende a ficar em segundo plano para o time.A demorada construção do Morumbi (inaugurado parcialmente em 1960 e totalmente dez anos depois) explica em boa parte a maior seca (1957-1970) de títulos do São Paulo, tido como um dos mais organizados e menos turbulentos clubes do Brasil.Após a era Telê, a mais vitoriosa do clube, o Morumbi voltou a sugar recursos, com reformas estruturais. No meio dos anos 90, o futebol ficou em segundo plano para a colocação de amortecedores no estádio.Os títulos de expressão voltaram a rarear para o São Paulo, que seguiu no período de vacas magras refutando grandes parcerias, diferentemente dos seus maiores adversários.Agora, o projeto do Morumbi para a Copa-14, exigirá pelo menos R$ 130 milhões. Sem dinheiro público e com a iniciativa privada assustada com a crise, o São Paulo terá que arcar com praticamente tudo -pode chegar a R$ 300 milhões, suficientes para erguer arena nova.Se São Paulo e Telê tiveram três anos muito frutíferos, seguidos de acentuado período decadente, o mesmo pode ser dito de São Paulo e Muricy (uma diferença é que Telê internacionalizou o clube, e Muricy o nacionalizou).Na esteira da demissão do técnico que deu o único tri genuíno ao São Paulo, o clube deve cortar a folha de pagamento, uma das mais caras do país.Washington, que ganha R$ 220 mil por mês, segundo a revista "Placar", é um dos atletas que podem deixar a equipe, que cobrará do novo técnico mais atenção com a promoção de garotos da base, fonte de renda para o clube -a venda recente de Kaká renderá quase R$ 7 milhões ao time formador.Se o São Paulo rejeitou em 2008 11 milhões por Hernanes, nesta nova fase pode vendê-lo por menos.

PVC comenta a mudança no SPFC

PAULO VINICIUS COELHO

A vitória da numerada

O São Paulo se divide hoje entre os pedidos de duas alas do Morumbi, mas uma delas imperou na questão Muricy

NO PASSADO , a regra era clara. Torcedor da arquibancada gritava, xingava, não perdoava. Na primeira derrota, surgia o grito de burro para o técnico. Na numerada, ficavam os mais sóbrios, serenos. Não que isso tenha mudado na maior parte dos clubes. Mas o São Paulo tem leis um pouco diferentes.Na arquibancada do Morumbi, quando o São Paulo já perdia do Cruzeiro por 2 a 0, ouvia-se o coro "É Muricy!". Quem chegasse ali pensaria que o técnico era o grande ídolo de toda a torcida. Não era. Na numerada, as cornetas soavam.O evidente desgaste do técnico após três anos e meio no cargo tem a ver com a forma como o time jogava. Por mais de 20 anos, entre a contratação de Cilinho, em 1984, e a chegada de Cuca, em 2004, os bons times do São Paulo deram espetáculo. Com Muricy, era diferente. O técnico era acusado de montar um time feio e sem repertório, que resumia seu jogo às bolas erguidas para a área. Acusação que procede. Mas, na arquibancada, a reclamação era com Washington, não com o treinador.Sem querer plagiar Washington Rodrigues e sua definição de geraldinos e arquibaldos, a diretoria são- -paulina também se divide entre arquibaldos e numerados. Há anos, Carlos Augusto de Barros e Silva e João Paulo de Jesus Lopes sentam- -se nas numeradas. E Marco Aurélio Cunha está na arquibancada. Na madrugada de sexta, Juvenal Juvêncio retrucava a voz da numerada. Negava-se a demitir o técnico. Nem o presidente resistiu, e os numerados da diretoria ganharam a guerra.Nos últimos três anos, Juvenal ouvia tudo, mas decidia mesmo na poltrona de sua casa, entre uma e outra baforada em seu cachimbo. Nas maiores crises por que passou a equipe, pesaram nas decisões dele três aspectos: 1) a qualidade de Muricy; 2) a ausência de outros nomes; 3) os gritos da arquibancada."Muricy fala a língua do povo", dizia Marco Aurélio Cunha na manhã de sexta-feira, antes da queda.Falava.Convencido pelos numerados, Juvenal demitiu Muricy porque não tem mais certeza sobre o primeiro aspecto. Mas seguiu sem boas alternativas no mercado. Contratar Ricardo Gomes, 11º colocado na França com o Monaco, é tiro no escuro.No São Paulo, boa parte dos ciclos acabou quando a magia com a arquibancada se desfez. Com os quatro técnicos de ciclos mais longos foi assim. Com Joreca (1943/1947), Cilinho (só ficou dez meses fora entre 1984 e 1989), Telê Santana (1990 a 1996) e Muricy (2006 a 2009). Joreca foi bicampeão paulista em 1945/ 46 e não resistiu ao quarto lugar no ano seguinte. Querido pela torcida, Cilinho saiu do time em 86, mas voltou para ganhar o Paulistão de 87. A qualidade do futebol foi murchando, e ele não resistiu a um empate com o Catanduvense, no início de 89.Até mesmo o ciclo Telê, encerrado só pela doença, definhou em meio a apresentações tristonhas, como um empate por 1 a 1 com o Inter em 95, com Almir e Amarildo no ataque.O fim da era Muricy parecia seguir para um sofrimento longo, que poderia durar até dezembro. Isso porque o primeiro semestre de 2009 foi idêntico aos de 2007 e 2008. Mas o quarto revés na Libertadores fez mal à saúde de Juvenal. Até mais do que seu indefectível cachimbo.

Juca Kfouri comenta a arrogância no SPFC

JUCA KFOURI

O gigante caído

Mais do que pelo Cruzeiro, o São Paulo tem sido derrotado por si mesmo e está mais que na hora de mudar

JUVENAL JUVÊNCIO exagerou. Mudou até estatuto para aumentar seu tempo no poder, como se fosse insubstituível, e comprou briga com quem não devia, certo de que venceria sempre.Além do mais, fez da Copa de 2014 uma obsessão sem sentido e granjeou antipatias.De raposa, virou ingênuo, sem entender o que se passa à sua volta.Até trair o Flamengo traiu no episódio da taça das bolinhas, que, por sinal, continua longe da sala de troféus do Morumbi.Brigou, também, com o Corinthians e o que menos interessa, no caso, é saber se tinha ou não razão, porque é o freguês quem sempre tem razão. Pois o Corinthians sempre foi o maior cliente do Morumbi.JJ imaginou que fazer a pazes com a CBF garantiria o seu estádio em 2014. Calculou mal a capacidade que tem o presidente da entidade para se vingar na surdina. E não pode desconhecer, ainda, que o governador de São Paulo não o engole.O resultado está aí: futebol abandonado, o tetra da Libertadores ficou mais uma vez adiado e, se duvidar, o Morumbi verá a Copa por um binóculo, tantos são os interessados em minar o projeto tricolor, o Corinthians, com a CBF, inclusive.E o Palmeiras, é claro, não é aliado, ao contrário. Além de estar às voltas com seus problemas, que envolvem até contratações à revelia do presidente, casos de Mozart e Obina. E desde a Segunda Guerra Mundial São Paulo e Palmeiras não se bicam.Para não falar do sonho, embora aparentemente cada vez mais distante, da construção da sua arena, para rivalizar com o Morumbi.Pois o São Paulo, em sua suprema arrogância, convencido de sua superioridade, que é inegável, mas só por ter um olho em terra de cego, fez questão de ignorar a tudo e a todos, certo de que passaria feito um trator por cima de quaisquer dificuldades, a ponto de fazer um projeto inicial simplesmente risível de reforma de seu estádio. O resultado está aí.Chamar eleições seria uma boa solução, muito melhor do que demitir Muricy Ramalho. Mas sabe quando? Nunca!
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Uma tristeza
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A falta de bandeiras nos estádios paulistas entristeceu os jogos por aqui. Se Vinicius de Moraes visse, diria que São Paulo é também o túmulo do futebol. E não é, nem do samba, como se sabe.Mas que só o gogó é pouco para enfeitar as arquibancadas parece fora de dúvida. Se já não bastasse a exigência legal estapafúrdia da execução do Hino Nacional antes de cada jogo, rigorosamente sem que a torcida dê a menor pelota, num desrespeito que fere de morte o espírito da lei, salta aos olhos o empobrecimento do espetáculo pela falta dos estandartes e suas cores.
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Decisões
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Entre Grêmio e Cruzeiro, o Cruzeiro é melhor, mas o Grêmio recebe o último jogo na Libertadores.Entre Inter e Corinthians, o Inter é melhor e recebe o último jogo. Mas a vantagem corintiana não é nada desprezível nesta Copa do Brasil, que o tem pela segunda vez seguida na decisão. Algo que por si só merece elogio, por mais que haja quem ache melhor perder antes do que na decisão.

Humildade

Para fazer justiça, faltou humildade não apenas da diretoria, faltou muita humildade dos jogadores. Essa foi a principal razão para eliminação, como disse o Muricy:

"A gente sabe porque o time não engrenou. Já falei para eles [jogadores], mas não quero rifar ninguém. Sou parceiro e não vou falar nada", disse o técnico à rádio Jovem Pan.Em seguida, explicou os problemas. "Claro que a gente tenta de tudo. Nas outras vezes, deu certo, mas acho que agora faltou um pouco de humildade, parceria. Não adianta ser o melhor time do mundo." (Muricy Ramalho)

O que comprova a falta de humildade foram as declarações e brigas sobre a titularidade no time, principalmente, dos jogadores de ataque.

Adalberto

Erro coerente?

Existiria um erro coerente, no caso da demisão do Muricy? Vejo o erro. E a coerência eu só consigo enxergar se associada com a arrogância.

A arrogância é um sentimento que muitas vezes está associado à excelência e à competência. Precisa saber controlá-la, caso contrário, as decisões estarão viciadas pela a arrogância, ao ponto de cometer um "erro coerente".

Não tenho como exergar a saída do Muricy e a chegada do Ricardo Gomes, aposta, como um "erro coerente", decorrente de um planejamento.

Demitiram o Muricy, pois ele não ganhou o mundo, apenas três brasileiros. Problema indentificado, de forma, digamos, "coerente", segundo os padrões da diretoria do São Paulo, deveríamos, então, focarmos a atenção em nomes capazes de trazerem tal façanha ao clube, já que decretaram, assim como o Brasil fez como Telê, que o Muricy não seria mais capaz de trazer o mundo para o Morumbi.

Não. Não Contratamos Abel Braga ou qualquer outro técnico de maior experiência. Preferimos uma aposta de um ano. Gostaria de saber onde está o planejamento? Demitir e contratar um novo treinador em dois dias, para que este tenha um contrato de um ano. Onde está o planejamento?

Um clube que precisa buscar uma união em um grupo, precisa corresponder rápido a estímulos, para conseguir brigar pelo título, pode se dar ao luxo de contratar um técnico com tão pouca experiência.

Aliás, comparar Telê com Ricardo Gomes é um absurdo, pois no caso do Telê, aconteceram fatalidades, no caso do Ricardo Gomes, vejo mais incompetência, não só dele, de todos, incluindo jogadores e CBF. O Telê dirigiu a seleção durante anos e em duas copas, enquanto que o Ricardo Gomes dirigiu uma seleção pré-olimpica.

Ademais, o fato de terem sido jogadores tricolores, do Rio, para mim, pouco importa. O verdadeiro tricolor é vermelho, preto e branco.

A diretoria do São Paulo, apesar de competente, erra. Inúmeras vezes. Aqueles que não percebem seus erros, confiam no discurso arrogante dessa diretoria. Uma diretoria que planeja, mas nem por isso deixa de errar. Mesmo quem planeja, está sujeito ao infortunios, má sorte e dos erros.

No presente caso, só existe erro coerente, se considerarmos a empáfia dos diretores do Morumbi.

Adalberto Pereira

O pau come no MaracaIRÃ

Do Blog do Josias

http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2009-06-21_2009-06-27.html#2009_06-21_02_33_48-10045644-0

J.S.

Erro coerente

A demissão de Muricy Ramalho do comando técnico do São Paulo é lastimável. Mas tem coerência. O próprio Muricy, nos três anos e meio que ficou no clube cansou de dizer que no futebol você é o melhor quando ganha e o pior quando perde. Cunhou, inclusive, uma frase emblemática: a bola pune.

Adalberto comentou neste blog o seguinte:

'Entre dispensar jogadores, que acabaram de chegar e sem ganhar nenhum tostão por isso, e queimarem o Muricy, escolheram o segundo.

Essa conclusão é óbvia e está explícita nas seguintes declarações:

"Contratamos jogadores que foram destaques no ano anterior. A imprensa elogiou o São Paulo à época. Um ou outro jogador pode não ter se adaptado como deveria, mas o nosso trabalho tem como objetivo errar o menos possível, e o planejamento continua."

"É o momento de fazer uma mudança, de promover uma reestruturação. Na conversa que tivemos ficou definida a saída dele."

"Neste início de ano, os resultados não foram bons. O nosso foco sempre foi a Libertadores, e não estávamos indo bem." (João Paulo de Jesus Lopes)'

Na verdade a conclusão entre escolher ou um ou outro não "é óbvia e está explícita" nas declarações. Essa conclusão é óbvia a partir da decisão de se demitir o Muricy.

Também diferentemente do que escreveu Adalberto, a diretoria do São Paulo não dá sinal nenhum de que não é mais a mesma e os pequenos avanços dos últimos anos não começaram a se perder. "O planejamento continua", como disse Jesus Lopes. Foi sempre assim.

Pode haver erros de planejamento, como contratar Fábio Santos, Carlos Alberto e Adriano para o mesmo time. Mas há planejamento. Ninguém pode dizer (aliás, até maio, ninguém disse) que os reforços deste ano foram ruins. Não teria como: Washington, Arouca e Júnior César jogaram demais no ano passado, levando, inclusive, o Fluminense a uma final inédita da Libertadores -- fato que fez os olhos da diretoria são-paulina brilharem. Renato Silva, Wagner Diniz e Eduardo Costa poderiam "só" compor elenco.

Era unânime no início do ano que o São Paulo, mais uma vez, tinha o grupo mais forte do Brasil. Mas além de erros de planejamento, há outros fatores que podem ser fatais.

Para exemplificar vamos à escalação de Muricy Ramalho para o jogo decisivo diante do Cruzeiro, na quinta-feira, 18 de junho de 2009: Denis; Renato Silva, André Dias e Richarlyson; Zé Luis, Eduardo Costa, Jean, Marlos e Junior Cesar; Borges e Washington.

Rogério Ceni; Rodrigo, André Dias e Miranda; Zé Luis, Jean, Hernanes, Jorge Wagner e Junior César; Borges e Washington. Com todos esses em condições de jogo, o São Paulo teria sido eliminado da Libertadores da maneira como foi? Talvez. Eu duvido. Mas os planos eram para que fosse esse time.

A questão é: não falta planejamento. Não à toa o São Paulo conquistou títulos da maior importância nos últimos quatro anos. Isso se chama, sim, planejamento. E a luta para ter o seu estádio como palco de abertura da Copa do Mundo se inclui nesses planos, tamanho os benefícios (grana mesmo) que o clube terá com o episódio.

Voltando às declarações de Jesus Lopes: "é o momento de fazer uma mudança, de promover uma reestruturação". Aqui está o problema. A mentalidade é esta. A situação no São Paulo estava longe de ser catastrófica, e uma solução caseira era muito mais plausível. Washington insatisfeito por ser substituído? Pede pra sair, 09! Hernanes tropeçando na bola? Banco nele! Rodrigo reclamando de ser tratado como profissional? O Rio de Janeiro é logo ali...

É triste a saída do ídolo. Dói mais do que a perda do título. Mas que venha o já tricolor (mesmo que branco, vermelho e verde -- assim como Telê Santana!) Ricardo Gomes. Ninguém vai esquecer que a geração de Robinho, Diego e Nilmar não foi à Olimpíada de Atenas, comandada por este treinador. Como ninguém esqueceu a eliminação em 1982 de um dos maiores times que o mundo já viu, comandada pelo antes pé frio e depois Mestre Telê.

Ricardo, seja benvindo. Muricy, até breve!

João Santos

sábado, 20 de junho de 2009

Muricy - Iluminado e vitorioso


Adalberto

Ricardo Gomes

Ricardo Gomes foi anunciado como novo técnico do São Paulo, no lugar do Muricy Ramalho, que injustamente foi demitido após a derrota para o Cruzeiro.

Não me agrada. Trocaram um técnico tri-campeão brasileiro por uma aposta. O Ricardo Gomes tem experiência internacional, mas nenhuma temporada digna de nota, a não ser um sétimo lugar com o Juventude no campeonato brasileiro de 2002, muito pouco para o São Paulo.

Pode ser que o meu preconceito seja uma mistura entre o sabor amargo da demissão do Muricy e a lembrança da derrota do Ricardo Gomes, no pré-olímpico de 2004, com a seleção brasileira.

De qualquer forma, não deixa de ser uma aposta. A diretoria do São Paulo errou, de novo. Em menos de dois dias.

Adalberto

Washington - Puxou o carro

Não joga mais no meu time, se fosse comandante. Me disseram que radialistas teriam informado, durante a partida de quinta, que o Washington teria "puxado o carro" após a substituição.

Repito, se for verdade, um cara desse não joga mais no meu time. Se for verdade, a demissão do Muricy fica ainda mais absurda. A diretoria acredita que tinha que encontrar algum culpado pelo desempenho do time no primeiro semestre. Entre dispensar jogadores, que acabaram de chegar e sem ganhar nenhum tostão por isso, e queimarem o Muricy, escolheram o segundo.

Essa conclusão é óbvia e está explícita nas seguintes declarações:

"Contratamos jogadores que foram destaques no ano anterior. A imprensa elogiou o São Paulo à época. Um ou outro jogador pode não ter se adaptado como deveria, mas o nosso trabalho tem como objetivo errar o menos possível, e o planejamento continua."

"É o momento de fazer uma mudança, de promover uma reestruturação. Na conversa que tivemos ficou definida a saída dele."

"Neste início de ano, os resultados não foram bons. O nosso foco sempre foi a Libertadores, e não estávamos indo bem." (João Paulo de Jesus Lopes)

Na verdade, nenhum dos dois era necessário. A diretoria não precisava fazer nenhum nem outro. Quer dizer, se for verdade que o Washington se sente tão superior ao clube, ao ponto de se indignar com uma substituição, quando não jogava bem, pode puxar o carro de vez. A diretoria teria demitido o cara errado.

PS. Segundo a UOL, a decisão de dispensar o técnico partiu da cúpula do futebol, formada pelo Juvelna, Leco e, do diretor de futebol, João Paulo de Jesus Lopes.

Adalberto

É Muricy! É Muricy!

Um dos nomes que me deram mais prazer de gritar no estádio. Pela vibração, comprometimento e história no clube. Ídolo. Não por acaso, discípulo do Mestre Telê.

Tomará que o Muricy tenha dimensão do que ele representa para o São Paulo. Eu gostaria muito de dizer para ele o quanto sentiremos sua falta e como fiquei triste com o desrespeito do São Paulo com o técnico tri-campeão brasileiro.

A diretoria, na minha opinião, começa a dar sinais de que não é mais a mesma. Os pequenos avanços dos últimos anos começam a se perder. Uma pena.

Mudaram o estatuto para garantir mais anos na atual gestão. Contrataram, neste ano e no ano passado, mal, pois contrataram jogadores no decorrer da competição e sem suprir as principais necessidades do time (não temos lateral direito e o meia chegou para salvar a pátria, sozinho, pois no jogo de ontem não tinha como tabelar, por exemplo).

A direitoria destratou um dos maiores ídolos da história do São Paulo e demonstra preocupações demais com a Copa do Mundo. Foda-se a Copa do Mundo. O São Paulo é muito mais importante do que a abertura da Copa do Mundo. O Muricy é muito mais importante do que sediar a abertura da copa para o nosso clube.

Uma pena a diretoria do São Paulo não pensar assim. Uma pena a diretoria do São Paulo não reconhecer a competência do Muricy, o melhor técnico brasileiro nos últimos três anos. Absurdo tratar o Muricy como um problema e não solução. E o maior absurdo de todos, não honrar o contrato com quem não trocaria este clube por dinheiro nenhum nesse mundo. Indignado.

Adalberto

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Olimpíadas

Segue link do blog do Sr. Alberto Murray, é membro do COB e fervoroso crítico da administração Nuzman.

Ele deixa claro os motivos que deveriam impedir uma olimpíada de acontecer no Brasil, tal como o escândalo do PAN.

http://albertomurray.wordpress.com/


Adalberto

Sadismo - Sexo e poder

CONTARDO CALLIGARIS
De Lacoste a Veneza, com Sade
No repertório erótico moderno, que Sade revelou, sexo e poder são indissociáveis.
PASSEI ALGUM tempo de descanso na Provença, no sul da França, e, de lá, fui a Veneza para a abertura da Bienal de Arte (que dura até 22 de novembro).A Provença é o berço do Marquês de Sade, que viveu a infância no castelo de família em Saumane-de-Vaucluse, ensaiou algumas de suas fantasias sexuais no castelo de Mazan e, enfim, transcorreu boa parte de seu tempo de liberdade em outro castelo de família, em Lacoste.O castelo de Lacoste é uma maravilhosa ruína, restaurada por Pierre Cardin, o costureiro, que comprou o lugar em 2001. Em Lacoste, Sade se refugiou várias vezes, achando que seu estatuto de nobre vivendo em suas próprias terras o protegeria do poder central e do ódio de sua sogra. Não funcionou: é lá que ele foi preso, em 1778, e de lá que ele saiu para a prisão e, enfim, o hospício.Hoje, em Lacoste, há lojinhas de bugiganga e cafés com o nome de Sade. O Marquês deixou de ser opróbrio para se tornar nome comum ("sadismo"), e seu castelo é uma atração turística, como qualquer lugar onde nasceu ou viveu um grande homem, um herói.No que é atualmente a entrada do castelo, ergue-se um busto monumental: nele, a cabeça de Sade está presa numa gaiola -provavelmente para lembrar que o mundo tentou em vão enjaular seus pensamentos.O castelo surge acima do vilarejo homônimo, no topo de um monte, no vento, com uma vista aberta sobre a planície e outros vilarejos na distância. No dia de minha visita a Lacoste, a esplanada diante da entrada era deserta. Era fácil imaginar Sade, isolado, fechado no seu castelo, longe da cidade e dos bordéis, tentando arremedar suas cenas sadomasoquistas com a ajuda da mulher, do mordomo e de três domésticas, e, sobretudo, incapaz de parar de fantasiar. Talvez, no busto, a jaula ao redor da cabeça do Marquês não seja a da cadeia, mas a de sua mente, que o prende e não lhe dá trégua.A leitura prolongada de Sade me produz sempre uma espécie de enjoo. Não é efeito de horror ou de reprovação; acho que meu mal estar tem duas causas: a sensação de que não há como fugir da insistência das fantasias eróticas e a constatação de que, no erotismo moderno (que Sade propriamente revelou), sexo e poder são indissociáveis, como se fosse impossível desejar um corpo sem querer prendê-lo, atormentá-lo e, em última instância, supliciá-lo ou (dá na mesma) sem querer ser preso, atormentado e supliciado por ele.Exagero? Se os escritos de Sade fossem apenas patológicos, se pertencessem ao hospício onde foi relegada sua pessoa, eles já teriam sido esquecidos. Sade é um gigante (incômodo) porque ele fala de algo que está em todos nós: desde que o poder se tornou uma fantasia e um desejo praticáveis por todos nós (seja qual for o berço em que nascemos), ele invadiu nosso repertório erótico.Poucos dias depois da visita a Lacoste, visitei a Bienal de Veneza. Entre os convidados pela curadoria geral do evento, Paul Chan, um artista americano, originário de Hong Kong, apresenta "Sade for Sade's Sake" (Sade pelo interesse de Sade), um vídeo (de uma parede inteira) de sombras que interagem numa orgia de sexo, poder, violência e fala. A gente não ouve nada do que é dito, mas os lábios das sombras mexem sem parar, como se uma articulação incessante de ordens, explicações, pretensões pedagógicas, instruções e fantasias fosse parte integrante da máquina do desejo que anima a todos, mestres e vítimas. Alguns comentadores veem na obra uma denúncia do erotismo das fotografias de tortura na prisão de Abu Ghraib. Mas a questão verdadeira -que Sade e Chan nos colocam- vai mais longe: por que nos parece "óbvio" que uma tortura possa ser erótica?Por estar viajando, não assisti ainda a "Justine", que encerra a trilogia de Sade montada por Rodolfo García Vázquez, no espaço dos Satyros da Praça Roosevelt, em São Paulo. A temporada vai até 24 de junho, às terças e quartas, às 21 horas. No dia seguinte, 25, em Paris, Christie's proporá o leilão de uma extraordinária biblioteca francesa. Claro, as edições originais de Sade (escondidas e destruídas na época) são mais raras de que as de Rousseau, mas resta que uma edição original do "Contrato Social" de Rousseau (1762) é apresentada com a estimativa mínima de US$ 11 mil, enquanto a primeira edição de "Justine ou os Infortúnios da Virtude" (1791) vale ao menos US$ 21 mil. Talvez eu concorde com os preços do mercado.