quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Juca - Dê um passo a frente e você não está no mesmo lugar

JUCA KFOURI

O bode da sala
A fórmula de campeonato, o horário dos jogos, a adequação do calendário: um verdadeiro jogo de blefes
PODE APOSTAR: tudo ficará como está no Campeonato Brasileiro. Igualzinho.O campeonato seguirá disputado em pontos corridos, com jogos às 22h às quartas-feiras e sem que o calendário nacional seja adequado ao calendário mundial. A Globo Esportes, ao contrário do que se imagina, ganhou a parada. O lance de reapresentar a ideia de mudança da fórmula do Brasileirão, ao propor um mata-mata entre oito finalistas, foi, na verdade, apenas um blefe. Como naquela conhecida história do bode na sala. Ora, a discussão que estava na pauta, a da adequação do nosso calendário ao do mundo do futebol, essa sumiu, como por encanto. Ao blefe do Brasileirão com mata-mata, que exige até mudança no Estatuto do Torcedor, a CBF contrapôs o blefe da mudança do horário do jogo pós-novela global. Em vez das 22h, que tal às 19h? Como as relações entre Marcelo Campos Pinto, da Globo Esportes, e Ricardo Teixeira, da CBF, vão além dos negócios, amigos fraternos que são, tudo se resolveu numa mesa de almoço. Os pontos corridos são um sucesso entre os torcedores e a grade global precisa de futebol no horário nobre, e não se fala mais nem numa coisa nem noutra. E a adequação do calendário, medida necessária, embora não suficiente, para o futebol brasileiro retomar um caminho de busca da autossuficiência? Bem, a adequação tomou doril. Tratemos de botar as coisas em seus devidos lugares, já que tiraram o bode do mata-mata da sala. No mundo do futebol, aí entendido aquele do qual fazem parte, por exemplo, os países campeões mundiais -exceção feita ao Uruguai, que, infelizmente, é a cada ano menos importante-, os campeonatos nacionais são disputados em pontos corridos e convivem felizes com todas as demais competições, em adoráveis mata-matas. Neste mundo inglês, francês, italiano, espanhol, sem título mundial, mas deste mundo, alemão, argentino, jogos duas horas antes de dia útil acabar só é possível aos sábados. E olhe lá. E todos têm o mesmo calendário, razão pela qual não precisam interromper seus torneios para verem as Copas do Mundo, as Copas das Confederações etc,, além de as janelas de transferências servirem para fortalecer seus campeonatos nacionais em vez de enfraquecê-los. Por razões nebulosas, desde disputas internas -futebol na TV aberta x pagar-para-ver (mais de 600 mil pacotes vendidos nesta temporada)-, bonificação de fim de ano e até, acredite, uma ficcional disputa entre o poderio da Globo Esportes e um exército de Brancaleone que pensa diferente dela, a adequação é malvista por Campos Pinto. Exército que, diga-se, tem plena convicção de que defende melhor os interesses do futebol brasileiro, e portanto da própria Globo, do que seu executivo. Resta dizer que Teixeira resiste onde pode, conhece seu limite, abdica de algumas convicções pessoais (a da adequação, por exemplo) em razão desse limite e falseia a verdade quando diz "nós acertamos ao escolher os pontos corridos". Porque não foram "eles". Foi o Estatuto do Torcedor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário