segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Lição em vermelho e preto


A fila do Flamengo no Campeonato Brasileiro quase atingiu a maioridade. Foram longos 17 anos de espera, contentando-se com Campeonatos Cariocas e Copas do Brasil. Alguns dirão que valeu a pena, que o tempo de espera deu mais sabor à conquista deste domingo. Balela. Um time do tamanho do Flamengo não pode ficar essa eternidade sem um título de real importância.

Segundo pesquisa Datafolha publicada em janeiro de 2008, 17% dos brasileiros se proclama flamenguista (para efeito comparativo, 12% se diz corintiano e 8% são-paulino, para ficar nas três maiores). Isso quer dizer que 32,8 milhões torcem para o Flamengo. Por isso "a maior torcida do mundo" -- a maioria dos países não tem 30 milhões de habitantes.

Como escreveram no anel superior do Maracanã, "a maior torcida do mundo faz a diferença". E não só nas arquibancadas. Dentro de campo, um jogador que saiu cedo para a Europa, onde ganhou apelido de Imperador, chegou à seleção, mas não suportou ficar longe dos amigos da favela e das praias da zona sul, tem o coração rubro-negro -- desde criançinha. Outro, que fala português com sotaque sérvio, jogava no Marakana, em seu país, e sonhava em, um dia, brilhar no "maior do mundo". Não imaginava que poderia se tornar ídolo da "maior do mundo", da qual hoje ele também faz parte. E o que dizer do homem que participou de cinco, das seis conquistas rubro-negras? Uma delas como treinador, o que o torna o primeiro técnico negro campeão brasileiro na era dos campeonatos com chancela da confederação.

Não poderia ser outro time a dar um tapa na cara dos céticos do futebol. Quem foi que disse que campeonato por pontos corridos só ganha quem tem organização? Organização e planejamento significa resultados regulares. Ou alguém ousaria dizer que o planejamento do São Paulo, maior clube do Brasil, fracassou este ano? Só porque não ganhou nada?

Quando Muricy Ramalho foi demitido do São Paulo, depois de mais uma eliminação na Libertadores, outra vez para um time brasileiro (apesar de ter ganho os três últimos campeonatos nacionais), escrevi aqui que a diretoria do São Paulo havia cometido um erro, mas que entendia o motivo da demissão -- era um erro coerente. A mentalidade do brasileiro ainda é essa: supervalorização de técnico de futebol. Pagam milhões a eles, e os elevam a heróis. Mas são sempre os principais vilões, e os primeiros a terem a cabeça guilhotinada.

Alguns meses depois está provado que a organização e o planejamento do São Paulo continuam intactos. Será a sétima Libertadores seguida. Para se ter uma noção, o Corinthians vai disputar o principal torneio do futebol sul-americano pela oitava vez na história. O Ricardo Gomes, figura interessante, foi mero coadjuvante. Diz-se que mudou o jeito do time jogar, bola no chão, buscando o ataque. Balela, outra vez. A diferença é ínfima, e a principal delas é que, com Ricardo Gomes, o "campeão" se tornou menos, pra não dizer quase nada, letal. Pelo menos foi "rebaixado" ao nível dos mortais outra vez. E junto com ele, o futebol paulista.

O Flamengo encerra uma sequência de cinco anos de títulos de clubes de São Paulo (mesmo que o de 2005 seja eternamente o campeonato dos asteríscos). E o vice do Inter acaba com uma hegemonia que já incomodava: foram 17 anos seguidos de paulistas em 1º ou 2º lugar no Brasileirão -- quando não ocupavam as duas posições. Nenhum demérito para São Paulo, pelo contrário. Só explica o motivo de o torcedor do Santa Cruz colocar 50 mil pessoas no Arruda, em plena terceira divisão. E pior, chorar porque o time caiu para a quarta.

O futebol é movido à paixão, tamanha a imprevisibilidade. E o Flamengo é movido pela paixão contagiante de sua torcida. Torcida esta que se encanta por um tal Fio, o maravilha. Ou entoa, a plenos pulmões, que Obina é melhor que o Eto'o. E quando menos se espera, lá estão eles gritando 'campeão' outra vez.

Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ÔÔÔÔ, Mengão do meu coração!
João Santos

Um comentário:

  1. É isso! E como disse o ídolo Rogério Ceni: futebol é entretenimento. E é isso que deve ser.

    Eliseo Ramalho

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