segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mente flex

São 213 Km de metrô em Paris. Fantástico. Lindo. Sujo, em alguns momentos, mas super eficiente. Extenso.

São 60 Km de metrô em São Paulo. Tão eficiente quanto o de Paris, mas curto. Sim, além de curto, temos o problema da distribuição das linhas. Por serem curtas, as linhas se concentram na região central. Assim, o metrô não pode ser visto como uma alternativa hábil para contornar os problemas do trânsito de São Paulo, no curto prazo.

Entretanto, esquecendo por um instante, a fortuna que sairia para conseguir construir tanto metrô, aparelhar os ônibus e desenvolver mais corredores, mesmo assim, tendo a dizer que o transporte público está fadado ao fracasso em São Paulo e nesse país.

Um país que assiste um elogio aos automóveis desde a construção de sua capital! Construída para se andar de carro, o meio de transporte do futuro.

Uma paixão nacional, entre a bunda e o futebol. O automóvel. Com prazos generosos para sua compra (sessenta meses). Redução de impostos para uma indústria que só lucrou nos últimos anos, enquanto tantos outros setores da economia se afundam com a crise.

Assim, as pessoas compram automóveis por 30 mil ou 40 mil. Financiam em sessenta meses. O dinheiro que economizaram com a redução do IPI em breve será consumido pelo seguro, estacionamento, manutenção e IPVA.

Além disso, um dinheiro imobilizado em um mercado saturado. Os carros usados estão com os preços baixos, no chão, devido à crise, aos benefícios fiscais para indústria e pelo fato de o brasileiro ser uma besta apaixonada por carros.

Por favor, pensem nas bundas. Gastem o dinheiro com bundas, mas não coloquem um veículo a mais nas ruas dessa cidade.

Cada um precisa começar a pensar em que medida poderia abandonar seu carro, e não apenas no dia do rodízio.

Sim, pode parecer absurdo, mas é possível viver sem um carro, ou viver sem sonhar com um carro.

E não faço demagogia. Fui assaltado e estouraram meu carro em um poste há seis meses. Desde então, vivo sem carro. Muito bem.

Passei a ler muito mais. Com ônibus, e a pé, me viro. Sinto-me livre. A liberdade que as propagandas de carro transmitem, sabem? Eu sinto isso, hoje em dia, quando entro em um ônibus.

Podem pensar que enlouqueci. Podem achar que o discurso é besta e piegas, pois não leva em conta números, tecnologia inteligente em faróis, a quantidade de metrô que deveríamos construir e etc. Contudo, se enganam. Subestimam o valor que um carro tem no subconsciente do homem brasileiro.

Se o salário aumentar um pouco, ele financia um carro novo. Antes mesmo de comprar uma casa.

Errado? Não sei.

Quem sou eu para julgar as preferências e os vícios das outras pessoas? Mas, posso afirmar categoricamente, mesmo se tivéssemos a mesma quantidade de km de metrô que Paris, ainda assim, nosso trânsito seria caótico. Quem abriria mão de seu carro?

Aliás, isso eu digo não da minha cabeça. Senti tranqüilidade de escrever esse texto depois de ouvir essas mesmas idéias de três taxistas diferentes nas últimas duas semanas.

E como a mentalidade se aplica para todo o Brasil, assim como a redução do IPI, imagino que as vias estejam tão paradas quanto o Senado brasileiro, quero dizer, como as ruas de São Paulo.

Paremos para admirar a maravilha metálica. O futuro em quatro rodas. Objeto de consumo que não transporta mais nada, pois estamos imóveis.

Adalberto

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