segunda-feira, 13 de abril de 2009

Circo - Rascunho

No picadeiro defeco. Repito o mesmo espetáculo todas as noites, não o de defecar, mas O Espetáculo O. Esse que será o maior ESPETÁCULO DE TODOS OS TEMPOS. Hoje, navega no esquecimento. Permaneço nesse picadeiro. Mesmo quando o público vai. Eu fico. Finco. Raízes. Procuro por restos de pipocas e maçãs do amor. Me jogo entre as cadeiras a procura de restos. Eu, sujo e cagado. Não sei como aguentam o cheiro, como conseguem rir e comer. Porcos. Porcos. Como conseguem rir e comer nesse picadeiro fértido. fede. fértido.

As lágrimas secam em meu rosto, as vezes chegam a minha boca. Doce sabor das lágrimas. Não me pinto mais, a tinta corrói a minha pele e meu sorriso se assemelha a uma vaga lembrança. O sorriso em seu ângulo invertido, pareço ser o único que não admira O Espetáculo.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH. O espetáculo começou. Cambalhotas. Galhofas e piruetas. PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH. Me deito na bosta, rolo na merda e faço um grande chafariz nesse esterco. PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH. Esse fardo interminável. O Espetáculo O. Sofreguidão.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH....

A entrada é franca. E o Circo público. As condições são terríveis. Temerário. Os críticos há muito não aparecem, pois a cena se tornou sobremaneira patética. Eu. Nesse circo. Só. Momento solidão. O Espetáculo O. Eu e o meu público. Eu do meu público. Deles. Eles. Em seus ternos e relógios. O relógio me aflige. O tempo de fazer. O tempo de defecar, pois não, como queira, o tempo de cagar, o tempo de trepar, pois não, como queira, o tempo de amar, o tempo de trabalhar, pois não, como queira, o tempo de rir...

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

O tempo. Esse tempo. Não tenho esse tempo. Não tenho muito.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

Preciso de toda forma preparar o espetáculo. Me sento a mesa e penso em de repente contratar um outro palhaço ou um malabares. Mas quem se sujeitaria a isso. Quem? Olhos os nomes. Olho para os restos dessas pessoas. Não daquelas. Aquelas nada sabem acerca do circo. Olho para os Nomes. Maria das Flores. Maria Dolores. Maria Floriano. Maria. Maria.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

Ando pela platéia. Expectadores. Espectadores. Expextativa. Expectado. Nem percebem o cheiro da bosta. Riem. Convulsivamente. De mim. De mim. Na minha existência. Existo. Como fardo. Ontologicamente. Riem. Pesado. Pesado. Alto e grave. De mim. Já nada faço para entreter o público. O Espetáculo O tornou-se non-sense. Tudo non-sense. Sense. Sensitivo. Sinto que os agrado muito na minha solidão. Momento solidão. Só. De mim. Longe de mim. Pesado. Alto e grave.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

Tropeço em um convidado/espectador/expectado. A bosta cai por de cima de alguns espectadores/expectados. Apanho. Me xingam. Mas as risadas. As risadas. Minhas e de outros. Alta. ALTA. Leve. Flutua no picadeiro. Minha risada, flutua e atravessa o picadeiro. Eles nada entendem O Espetáculo perdeu o sentido, o palhaço SORRIU.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

Jogo merda em meus EXPECTADORES, despertadores, tanto faz. Atiro merda para todos os lados. Cuspo merda na cara de cada um deles. Eu, em meu chafariz de esterco. Leve, riso leve. Leve. Me jogo e rolo no picadeiro. Já não riem. Se assustam com o movimento revolucionário, não político, mas dos braços. Braços revolucionários, meus braços se movem de maneira leve. Leve. Os assusto em meu NOVO Espetáculo. NOVO. O Melhor Espetáculo.

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH

PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH. O espetáculo começou. Espectadores/expectados em cambalhotas. Galhofas e piruetas. PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH. Se deitam na bosta, rolam na merda e fazem um grande chafariz nesse esterco. PIRILIIIIMMMM HAHAHAHAHAH.

O Espetáculo O. Quebro os relógios, rasgo os ternos e os jogo no picadeiro, rolam e rolam. Nada entendem e sofrem de forma leve. Eu sinto pena de mim. Não posso sentir ainda mais alegria. Sou incapaz. Incapacitado. Não me capacitaram. Limitado. Coração bobo. Coração bobo. Ser inumano, energúmeno. Compaixão. NÃO. Soca. Rola. Bate. Faca. Faca, garganta, gritos, sangue na bosta.

Todos correm. Poucos escapam. Estes permanecem enjaulados, algemados para assistir o final do Espatáculo. O Melhor. Mais maravilhoso espetáculo circense, teremos gargantas na bosta, gargantas na merda!

Eles aplaudiriam se as algemas permitissem. Eles sorririam se o coração humano não fosse bobo. Ser inumano, energúmeno, lhe falta a essência. Lhe falta loucura. O Espetáculo O. Meu trabalho mais belo de um Momento solidão.

Adalberto Pereira

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