terça-feira, 28 de abril de 2009

Moleskine

Quem diria. O primeiro texto em posição tão nobre. Envolto pelo aroma das camêlias. O mármore e o granito imponentes. Do escritório voam papéis com dizeres estúpidos, como crianças que jogam rolos de papel higiênico nos galhos de uma árvore.

Imóvel. Volto. Permaneço. Força. Esforço. Isso. Isso. Há dias trabalho, initerruptamente. Esta é minha primeira pausa. Eu. Eu dentro. Até mesmo, mesmo quando leio Sócrates na República. Automatizado, não leio, nada além de palavras.

Quem diria. Minha primeira pausa por um motivo tão nobre. Minha vida seria um pouco mais saudável se o Miles estivesse aqui. Imagino ele subindo nas mesas com olhar de desdém. Uma leve patada derrubando, Blackberrys, celulares e tampas de garrafas no chão. Em seguida, sairia correndo, com a certeza de ter feito algo errado, belo, e deitaria em meu colo.

O Miles estaria aqui, agora, brincando com o esguicho. Eu o olharia e perguntaria, caralho gato, cadê o papel?

É o único momento que tenho. Tempo vendido. Preço vil. Barato. Promoção. O escritório multiplica por trinta quando cobra do cliente. Mesmo assim, cobra barato. Mesmo assim, vender tempo...Vendo todo meu tempo.

Único momento. Nobre momento-solidão. Imagino até o título do livro: Memórias de minhas cagadas, Insustentável leveza do barro, Chocolate com pimenta, hemorróidas.

Lamentável. Baixa literatura. Tão pobre quanto meu espírito. Até quando, você vai escrever aquele lixo de relatórios. Até quando você acha que pode fazer arte em cima de uma privada.

Adalberto Pereira

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