quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cartas


Pedi dinheiro emprestado. Nada demais, recebo ligações escrotas de pessoas com as quais não tenho o menor contato, pedindo dinheiro.


Justamente. Naquele caso. Eu pedia dinheiro. Não era para um estranho. Era para a Maria Rosa. Ela não tinha um puto. Mas, entendam, eu tinha apenas dez anos de idade, não media muito as conseqüências de minhas atitudes, como é de se esperar.


Pedi dinheiro emprestado para a Maria Rosa. Depois minha mãe a reembolsaria. Ela perguntou para que o dinheiro. Não se deve perguntar esse tipo de coisas quando se empresta dinheiro. De novo, eu tinha dez anos, você pergunta esse tipo de coisa, quando uma criança pede dez reais "emprestados".


Eu e meu primo ficamos sem saber muito bem como reagir. Eu disse que comprariamos gibis. Menti, de forma estúpida. Porra, se falasse que compraria um sorvete, não teria que apresentar provas do crime.


Enfim, tinha apenas dez anos, já sabem. Ela entregou um pouco desconfiada, pela nossa ansiedade. Fomos direto para a banca, não para comprar gibis, mas para comprar um baralho de mulheres peladas da playboy.


Deliciosas. As mulheres ficavam cada vez mais gostosas, de acordo com os naipes das cartas. Sensacional. Quando cheguei em casa, tive que mostrar uns gibis meus do Chico Bento como provas de minha honestidade.


Jogamos muito truco com aquele baralho. Quando meu primo voltou para sua cidade, eu continuei a jogar sozinho. Joguei muito com aquele baralho.


No dia em que comprei o baralho, expliquei toda a situação para minha mãe. Com naturalidade ela riu e reembolsou a Maria Rosa. Bons tempos, em que uma mentira não trazia prejuízos e era motivo de diversão.


Orfeu

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