quinta-feira, 23 de julho de 2009

Freguesia

Somos fregueses da Argentina
Publicidade
EDUARDO VIEIRA DA COSTAEditor de Esporte da Folha Online
Algum tempo atrás escrevi aqui sobre a possibilidade de ser iniciada uma "era brasileira" na Libertadores e adotei posição cética, mesmo diante de evidências claras da crescente presença dos times nacionais nas fases decisivas do torneio. Pois bem, agora, infelizmente, tenho que ir além e reconhecer: o que acontece é os brasileiros são mesmo fregueses dos argentinos. Simples assim.
Com a derrota do Cruzeiro para o Estudiantes, são 12 finais na história entre argentinos e brasileiros. E os hermanos levaram a melhor em nada menos do que nove. Supremacia indiscutível.
É isso. Vamos reconhecer de uma vez. Quando se trata de clubes, o Brasil é freguês da Argentina.
Como bem lembrou Sorín, lateral argentino do Cruzeiro, o jogador de seu país tem uma raça natural, sua a camisa e se entrega como nenhum outro quando se trata da Libertadores. Em uma competição de mata-mata, isso é essencial, é decisivo, é o que faz a diferença.
Claro que os cruzeirenses se entregaram, suaram e lutaram. Mas os argentinos simplesmente são diferenciados neste aspecto.
Fosse a Libertadores uma competição de pontos corridos, a história possivelmente seria diferente. Conjectura. Mas acredito que, no mínimo, esse placar histórico seria menos desfavorável ao Brasil.
Como lembrou o repórter da Folha Online José Ricardo Leite em reportagem publicada neste jornal em tempo real, o Brasil é o "Rei do Vice". Os times brasileiros foram vice-campeões em 15 oportunidades do total de 50 edições do mais tradicional torneio interclubes da América.
Ou seja, 30% dos vice-campeões são do Brasil. Ainda que estejam inclusas aí as duas finais caseiras de brasileiros, o número é muito expressivo. Mostra que falta alguma pegada aos brasileiros nas decisões.
Pegada que sobra aos argentinos. São 22 títulos de clubes da Argentina na Libertadores em todos os tempos contra 13 dos brasileiros. Repito: Supremacia indiscutível.
E chega daquela história de dizer que os brasileiros não davam importância à Libertadores antigamente. Isso é blá, blá, blá. Bobagem.
Como já disse antes, o Santos sempre se orgulhou muito de seus títulos lá nos anos 60, o Cruzeiro de sua conquista nos anos 70, Grêmio e Flamengo dos troféus nos anos 80. Essas sempre foram consideradas as maiores glórias da história desses clubes. E não existe nenhum clube brasileiro que não quisesse a mesma coisa.
E mais: me recuso a acreditar que os brasileiros que foram vice --que, como vimos, não foram poucos-- não tivessem motivação ou não ligassem para ser campeões continentais.
O Brasil está atrás no número de conquistas porque os argentinos são melhores nesta competição.
Somos fregueses.
*
A tendência a longo prazo é que o desempenho do Brasil melhore, claro. Tenho que lembrar também, pelo lado positivo, que times nacionais estiveram em nada menos do que 15 finais nos últimos 18 anos --com oito títulos e sete vices. E também que desde 1992, a Libertadores só não teve brasileiros na decisão em 1996, 2001 e 2004. E, ainda, que em 2005 e 2006 as finais foram totalmente brasileiras. Na prática, o futuro dirá o que acontecerá.
*

Nenhum comentário:

Postar um comentário