quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dizzy - Trio Mocotó

De quem é o disco perdido de Dizzy?

Matriz de álbum gravado no Estúdio Eldorado, em 1974, foi presenteada a brasileiro, mas suíço se diz herdeiro do músico Jotabê Medeiros

http://www.estadao.com.br/especiais/disco-perdido-de-dizzy-gillespie-e-trio-mocoto-e-descoberto-apos-35-anos,59385.htm


O disco de samba gravado pelo trompetista americano Dizzy Gillespie no Brasil, em 1974, ao lado do Trio Mocotó, e reencontrado na Suíça no ano passado, segundo noticiou o Estado na semana passada, não pertence ao produtor suíço Jacques Muyral, mas sim a um brasileiro.


Segundo o próprio suíço, Dizzy Gillespie deu a fita master de presente ao produtor brasileiro Aloisio Coutinho em 1974, quando se foi do Brasil. O original com as gravações está sob a guarda de Coutinho até hoje. Aquilo que chegou às mãos do suíço Muyral foi uma cópia, que lhe foi entregue por um amigo comum dele e de Coutinho, o radialista Estevão Hermann.

No entanto, Muyral, que foi sócio de Norman Granz - o organizador do festival de jazz de Montreux, e que mantinha Dizzy Gillespie sob contrato -, pretende lançar o disco assim mesmo. Muyral conta que estava presente no momento em que Dizzy morreu. "Sou muito, muito orgulhoso de ser herdeiro de Dizzy Gillespie, porque não somente fui seu melhor amigo, mas ele me colocou no seu testamento. Então, as negociações sobre os direitos serão fáceis porque eu sou da família", disse Muyral.

A questão é controversa. Se Picasso desse um quadro de presente para um amigo, a família de Picasso teria a legitimidade para reaver esse quadro após a morte do amigo? A reportagem não conseguiu localizar Aloisio Coutinho no Rio.

Segundo o suíço Jacques Muyral, a cópia que recebeu de Estevão Hermann não tinha títulos para as músicas nem os músicos eram mencionados. Disse que levou semanas para descobrir todos os músicos que gravaram, e que os convidou para escrever notas para o álbum que será lançado. "Ele (Estevão) me deu porque sabe que sou o único que pode lançar, já que a Laser Swing Productions foi fundada por mim e por Norman Granz", afirmou.

O filho de Jacques Muyral, Hervé, que vive no Rio de Janeiro e dirige o site iMusica, de distribuição digital, disse que o pai virá em julho para acertar os detalhes do lançamento. "Eu não tinha ouvido o disco antes. Achei excelente", considerou Hervé.

Nestes 35 anos, pouquíssimos tiveram acesso ao conteúdo da matriz gravada por Dizzy Gillespie com os mestres do samba rock brasileiro. "Há três anos, Coutinho mostrou a fita para José Sá, irmão da cantora de bossa nova Wanda Sá, que a levou a um estúdio, passou a fita para CD e também guardou", conta o produtor musical Mário Vieira, um dos felizardos que ouviram, por e-mail. "No ano passado, voltou o assunto da fita, eu pedi uma cópia e mandei para o blog de jazz do Doug Ramsey (da Jazz Journalists Association dos Estados Unidos), que conseguiu descobrir o nome de duas das músicas e disse que tinha gostado muito, perguntando quando seria feito o lançamento", explicou.

O disco de Dizzy Gillespie com o Trio Mocotó foi gravado em agosto de 1974 no Estúdio Eldorado, em São Paulo. Dizzy (que veio oito vezes ao País) chegou com a intenção, segundo executivos das gravadoras Philips e do selo americano Perception, de fazer um disco inteiro acompanhado por cerca de 100 ritmistas brasileiros.

Chegou a tocar no Tuca com sambistas da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Mas gravar já era outro negócio. "Reunir 100 ritmistas para uma gravação foi a primeira ideia que os empresários tentaram tirar da cabeça de Dizzy", relatou reportagem da época.

Primeiro, os produtores sugeriram que um único conjunto o acompanhasse, tendo o grupo Os Originais do Samba como o selecionado. Mas, após alguns ensaios, Dizzy acabou se entrosando mais com o Trio Mocotó, formado por Nereu Gargalo, João Parayba e Fritz Escovão. Além do trio, estavam lá no estúdio Branca de Neve (surdo), Teo (cuíca), Rubetão, Jair e Carlinhos (pandeiros). A banda de Dizzy incluía Mickey Roker (bateria), Al Gafa (guitarra) e Earl May (contrabaixo). Havia também Mary Stallings, cantora de São Francisco, muito influenciada por Carmen McRae, que Dizzy trouxe em sua comitiva.

Gillespie foi um dos maiores nomes da música popular no século 20. Criou o bebop, ao lado de Charlie Parker e Thelonious Monk. Compôs standards do jazz, como A Night in Tuniosia. Morreu aos 75 anos, de câncer.

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